A tradição histórica do futebol mundial aponta que América do Sul e Europa são os dois grandes polos do esporte em todo o planeta – por isso, em qualquer competição, seja a nível de clubes ou de seleções, as equipes dos dois continentes costumam chegar com o peso do favoritismo. E não é diferente na Copa das Confederações deste ano. A análise é simples: se de um lado está o campeão da Copa América e do outro, o da Eurocopa, pensa-se em um duelo digno de uma decisão, mesmo quando ele acontece em uma fase anterior, como no caso da semifinal entre Chile e Portugal, nesta quarta-feira, às 15h (de Brasília).

O clima para o confronto na Arena Kazan é de final antecipada. Isso porque a Alemanha, que classificou-se para o torneio na vaga de atual campeã mundial, preferiu enviar um time composto por jovens à Rússia, diminuindo um pouco da badalação ao seu redor. Desta forma, os dois campeões dos principais torneios continentais do mundo chegaram ao país como grandes candidatos a um título que seria inédito para ambos, e acabaram se cruzando antes de uma decisão por conta de um tropeço do Chile diante da Austrália, na rodada final do grupo B, no qual ficou na segunda colocação. Portugal, por sua vez, fez o esperado e passou como líder da chave A.

Embora reconheça o peso de chegar a qualquer torneio como campeão europeu, o técnico Fernando Santos procurou afastar o discurso de favoritismo para a equipe lusa, que ainda conta com o atual melhor jogador do mundo, Cristiano Ronaldo, em seu elenco. Na véspera do confronto com os chilenos, o comandante não mudou o tom.

– Não sei se é a final mais esperada. Falei que havia fortíssimos candidatos, havia um favorito como a Alemanha campeã do mundo, e três equipes que eram grandes candidatos: Chile, México e Portigal. Eram grandes candidatos. Sabemos da qualidade dos times e da importância que tem essa prova na América do Sul. Sabemos disso pelos últimos anos, raramente um time da Europa tem conseguido vencer essa competição. O adversário tem esse desejo e vai enfrentar um time que também tem esse desejo, porque é a primeira vez que aqui estamos. E se representarmos Portugal bem, vamos representar bem a Europa – apontou Fernando Santos.

Para o Chile, talvez o peso de ser candidato a um novo troféu seja ainda maior, uma vez que a equipe ganhou não só um título continental, mas dois: a Copa América, em casa, em 2015; e a Copa América Centenário, nos Estados Unidos, no ano seguinte, com direito a convidados das Américas do Norte e Central. O técnico Juan Antonio Pizzi só participou da segunda conquista, substituindo Jorge Sampaoli, e deu sua visão sobre o duelo contra os vencedores da Euro.

– Creio que aqui estão as melhores seleções do mundo. As que tiveram privilégios de ganhar competições importantes em seus continentes, valorizadas no nível mais alto de futebol. Queremos fazer uma linda semifinal.

Campeões de primeira (ou segunda) viagem

E não é só o status de favorito que une Portugal e Chile neste confronto decisivo na Rússia. As duas seleções vivem momentos muito parecidos e inéditos em sua história: ambos só conheceram o gosto de erguer um troféu pela primeira vez nos últimos anos. Os chilenos nunca haviam sido campeões e conseguiram emendar as duas conquistas continentais, enquanto os lusos enfim tiraram da boca o gosto amargo do vice-campeonato em 2004, em casa, para conseguir ganhar a Eurocopa de forma improvável, derrotando a anfitriã França, no ano passado. No país sul-americano é consenso que a atual geração é a mais importante de sua história, e nas terras lusitanas muitos apontam CR7 como o maior atleta português de todos os tempos.

Com isso, o confronto desta quarta-feira significa manter viva a possibilidade de disputar mais uma final, em busca de um troféu que não há em ambas galerias – entre os participantes desta Copa das Confederações, apenas o México já conquistou o título. A expectativa, por isso, é de um confronto de muita intensidade, com dois times que adquiraram grande experiência em confrontos de mata-mata recentemente. É hora, inclusive, de deixar a fadiga de lado.

– Neste momento, o cansaço existe em todos nós. E a forma de superar esse cansaço é jogar trabalhar com intensidade reservada, é algo que permite ultrapassar essa questão. Mas quando se chega na semifinal, tudo isso faz com que esse cansaço que possa existir seja caso passado. O que vai contar é essencialmente a paixão e a cabeça – disse Fernando Santos.

Outro fator que une os dois times é o entrosamento entre os atletas. Boa parte do elenco chileno joga junto desde antes da Copa do Mundo de 2014, o que se repete no lado português, embora ambos os times tenham passado por pequenas mudanças e renovações neste processo. O que não muda é a união dos elencos, fator fundamental para erguer gerações vitoriosas.

– Em Portugal estão Ronaldo e seus amigos, a herança da seleção. Do nosso lado Alexis, Arturo e amigos que jogam por um país. Dois países que mereciam (conquistar títulos). Conseguimos porque fizemos as coisas bem, e esperamos que neste torneio quem possa chegar mais longe seja o Chile, não Portugal – disse o meia Marcelo Díaz.

Reencontro entre chefe e comandado

O confronto desta quarta-feira também marcará o reencontro, à beira do campo, de duas figuras que conviveram no futebol português no começo dos anos 2000: Fernando Santos e Juan Antônio Pizzi. O treinador português foi comandante do ex-atacante no Porto, em apenas uma temporada, em 2000 – o suficiente para um guardar carinho pelo outro.

– Foi um enorme prazer ter a oportunidade de trabalhar com Juan Antonio, infelizmente por pouco tempo, pois ele teve uma lesão. Foi um momento difícil para ele quando chegou ao Porto. Depois nas conversas que tivemos, sempre falamos muito de futebol e sempre deixou claro que queria ser treinador. Está aqui por mérito próprio. É um prazer encontrá-lo, como já havia feito no sorteio – completou Fernando.

Os dois ex-colegas terão situações diferentes para montar as equipes para a semifinal em Kazan. Pizzi não tem nenhum problema físico ou qualquer atleta suspenso em seu elenco, o que foi motivo de comemoração para o treinador na véspera. Fernando Santos, por sua vez, tem a lamentar os desfalques de Pepe, por suspensão, e Raphäel Guerreiro, lesionado. O meia Bernardo Silva ainda é dúvida e treinou em separado na última terça-feira.

Portugal x Chile
Copa das Confederações – Semifinal
Arena Kazan, Rússia

Escalações prováveis:

Portugal: Rui Patrício, Cédric, Bruno Alves, José Fonte e Eliseu; William Carvalho, Adrién Silva, Bernardo Silva (João Moutinho) e Quaresma; Cristiano Ronaldo e André Silva. Técnico: Fernando Santos

Chile: Bravo, Isla, Medel, Jara e Beausejour; Díaz, Aránguiz e Vidal; Fuenzalida, Sánchez e Vargas. Técnico: Juan Antonio Pizzi 

Fonte: Globoesporte.com

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