“A cadeira de rodas é algo que te ajuda a voar e alcançar seus sonhos”. Esse é o pensamento de Aaron “Wheelz” Fotheringham, de 24 anos. Em um dos momentos mais marcantes, logo no início da cerimônia da abertura dos Jogos Paralímpicos, o americano voou. Foi ovacionado e deixou o público boquiaberto ao, desafiando a gravidade e pilotando sua cadeira de rodas, descer uma megarrampa montada sobre uma parte das arquibancadas do Estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro, atravessar um círculo de fogos de artifício e dar um mortal antes de pousar de forma perfeita (assista no vídeo acima, a partir de 3m50) Certamente, um momento que ficará eternizado em sua memória e na de todos os que assistiram à festa desta quarta-feira.

– Eu nunca nem sonhei que isso iria acontecer. Foi uma honra enorme. Nem acredito que estou aqui na Paralimpíada e que me deram essa oportunidade maravilhosa. Não consigo agradecer o suficiente às pessoas, como o Bob Burnqhuist, que é uma lenda, que é minha inspiração, que tornaram isso possível – comentou, em uma entrevista ao GloboEsporte.com, do alto da megarrampa, durante a cerimônia de abertura.

Apesar de extasiado com o feito, o menino de Las Vegas, Nevada, sonha voar ainda mais alto. Ele mesmo quer, um dia, se tornar um atleta paralímpico. Aaron é praticante de  uma modalidade chamada WCMX, uma variação do skate para cadeirantes. Animado com a entrada do skate no programa olímpico de Tóquio 2020, ele sonha que o seu esporte, um dia, entre na Paralimpíada.

– É tão incrível que o skate estará nos Jogos Olímpicos em 2020. O WCMX, modalidade de cadeira de rodas, que é o que faço, tem crescido demais, se popularizado muito. Há muitas crianças que vão para os skateparks para se divertir com suas cadeiras de rodas, que é o mais importante para mim, que as pessoas vejam que podem se divertir com sua cadeira de rodas, não que vejam como algo que te segura – relatou.

O WCMX realmente tem crescido, sobretudo nos Estados Unidos, que realiza um Campeonato Mundial da modalidade. O próximo, por exemplo, será em Grand Prairie, no Texas, nos dias 22 e 23 de abril de 2017. Aaron, que nasceu com espinha bífida, uma má formação congênita, é o grande nome e pioneiro desse esporte.

Para se ter uma ideia, há 10 anos, quando tinha apenas 14, tornou-se o primeiro atleta a conseguir dar um backflip (mortal para trás) em uma cadeira de rodas. Quatro anos depois, fez história novamente ao dar um duplo backflip (dois giros para trás no ar). Em 2010, se juntou ao Nitro Circus live tour, um grupo de esportes de ação que faz shows na Austrália, Nova Zelândia, Estados Unidos e Europa.

Apesar da vasta experiência, ele admite ter ficado muito nervoso ao descer a megarrampa do Maracanã, aprovada pelo lendário skatista brasileiro Bob Burnquist, que tem uma no quintal de sua casa na Califórnia, nos Estados Unidos, e é o grande nome dessa modalidade, já que só teve um dia de treinamento.

– Eu venho praticando a megarrampa há alguns anos, trabalhando nessa modalidade, mas eu só tive um dia de treino nessa, então me deixou bem nervoso (risos). Foi bem desafiador conseguir guiar minha cadeira de rodas com toda a luz que estava vindo. Mas consegui fazer isso acontecer. E não existe melhor lugar que o Rio para isso – falou.

Aaron começou a se aventurar no mundo do esportes radicais quando tinha apenas oito anos. Seu irmão Brian foi sua inspiração. Ele é praticante de BMX e foi quem encorajou o americano a tentar descer as pistas pilotando sua cadeira de rodas. Demorou um pouco até que ele se soltasse. E foi preciso que seu pai fosse até o skatepark algumas vezes com os dois para que o menino se arriscasse. Depois que o fez a primeira vez, tentou várias outras vezes, até que se viciou na adrenalina.

Aos poucos, foi evoluindo em uma modalidade inédita. Passou a criar manobras incríveis e encantar quem o assistia praticando. Em 2005, decidiu participar de uma competição de BMX com atletas que não eram cadeirantes. Ele saiu vitorioso do Vegas AmJam BMX Finals, em sua cidade Natal. Mas foi o backflip que o americano acertou quando tinha 14 anos que alavancou sua carreira.

A partir daí, viajou pelos Estados Unidos e até internacionalmente. Em agosto de 2012, por exemplo, veio ao Brasil para descer a megarrampa em sua cadeira de rodas e deixou os brasileiros boquiabertos pela primeira vez. Nesta quarta-feira, o fez novamente dentro do Maracanã. Atualmente, além de realizar camps de verão para ensinar o WCMX à crianças, ele curte inventar novas manobras, aprimorar as que já consegue fazer e, principalmente, tentar “alterar a percepção das pessoas sobre cadeirantes e cadeiras de rodas”.

*Participaram desta cobertura: Cahe Mota, Carol Fontes, Flavio Dilascio e Raphael Andriolo

Fonte: Globo.com

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