Foi na raça e no coração: em grande final diante dos italianos Nicolai e Lupo, a quinta medalha de ouro brasileira nos Jogos do Rio de Janeiro foi garantida por Alison e Bruno Schmidt na madrugada de quinta para sexta-feira na Arena de Vôlei de Praia em Copacabana. No fim do triunfo por 2 sets a 0 (21/19 e 21/17), a água da chuva que caiu desde antes de a bola entrar em jogo, misturou-se com as lágrimas dos novos campeões olímpicos. Emoção traduzida nas primeiras palavras da dupla.

– Trabalho, gratidão. Nosso time é muito grato por todas as pessoas que ajudaram Bruno e Alison a chegarem aqui. Eu sou campeão, Alison e Bruno são campeões. O Brasil é campeão olímpico de vôlei de praia – disse Alison.

– Realmente, não se ganha uma Olimpíada saindo de casa, entrando nela e conquistando uma vaga. No ano de 2014, compramos um terreno. Em 2015, subimos uma casa e, em 2016, pintamos ela. A classificação foi muito forte, com grandes times, tive de parar para operar o joelho. Quando ia voltar, tive apendicite. Tivemos quatro resultados ruins. Mas em nenhum momento, o Bruno parou de acreditar no Alison, e o Alison deixou de crer no Bruno. No Campeonato Mundial, passamos por várias fases, encontramos os melhores do time do mundo, batemos recordes, fomos o melhor time do mundo e nunca, nunca deixamos de acreditar. Se vocês forem recapitular o campeonato, no primeiro jogo, começamos atrás, ganhamos de 2 a 0. No segundo, perdemos, mesmo nunca duvidando um do outro. No terceiro, torci o meu pé, mas tive que me desdobrar para jogar. E quando saiu a chave no sorteio, só vieram times fortes. É trabalho, é sempre acreditar um no outro, essa é a característica do nosso time – completou depois na entrevista coletiva.

Bruno, que caiu nos braços dos familiares presentes no local, lembrou das noites mal dormidas e agradeceu a um incentivador especial: o pai.

– Não é fácil permanecer nesse esporte. Para mim, como um jogador relativamente baixo, foi complicado. Cada dia foi uma luta e, às vezes, essa luta é cansativa demais. Eu olhava para o meu pai e comentava com ele: “Pai, não estou perdendo tempo não? Meus amigos estão formados, eu estou insistindo em uma coisa onde não sou bem-vindo”. E ele não me deixou parar, não me deixou não acreditar. Ele sempre acreditou mais em mim do que eu mesmo. Sempre foi muita dificuldade e nada veio fácil para mim. Ele sempre falou isso para mim. Essa Olimpíada foi exemplo disso. Perdemos um jogo na chave e eu realmente fiquei muito triste, não falei para ninguém, só me abri para minha família, fiquei muito triste, meu psicológico ficou abalado, mas ele falou: “Você vai chegar lá, você vai ser campeão”. Minha vida inteira foi assim, meu pai nunca me deixando perder tempo ou desistir do meu sonho.

Confira outros trechos da entrevista coletiva de Alison e Bruno Schmidt:

Reação de Bruno sem demonstrar sentimentos, e Mágico sem dormir:

– O Bruno vai implodir uma hora. Ele não demonstra os seus sentimentos, e eu sei que ele está sem dormir há uns 15 dias. Eu sei disso porque dividimos o quarto. Às vezes, eu escutava um barulho e sabia que era ele andando, indo conversar com nosso técnico no quarto dele. E olha que eu durmo bem, gosto muito de dormir mesmo. Mas tem sido uma experiência maravilhosa nos últimos quatro anos. Eu chorei lá em Londres por me tornar um medalhista olímpico. Hoje eu chorei por ser medalhista de novo, entrei pra um grupo seleto, e o Bruno estreou com pé direito. Eu acho que é isso, o Alison aprendeu com o Bruno, o Bruno aprendeu com o Alison, e acho que hoje ele vai dormir direito.

Referência para os mais jovens:

– Eu acredito que o futuro do nosso país esteja nas crianças, nunca escondi de ninguém e ser referência para elas é incrível. Eu tive referências. Acordava cedo para ver Ayrton Senna, Marcelo Negrão, Shelda, Emanuel, entre outros. Meu pai foi uma grande referência. É uma responsabilidade muito grande pra gente e sabemos disso. Temos que continuar fazendo o que fazemos todos os dias, acordar, se alimentar bem, treinar e fazer nosso melhor. E eu acho que o Bruno provou pro mundo que tamanho não é documento. Na verdade, ele mostrou que, apesar de ser um atleta baixo, tem tudo que precisa para ser um medalhista olímpico e provou que se você trabalha honestamente e crê nos seus sonhos, tudo pode acontecer.

A TRAJETÓRIA DE BRUNO/ALISON até a final

Alison e Bruno estrearam nos Jogos Olímpicos em jogo válido pelo Grupo A contra os canadenses Josh Binstock e Sam Schachter. Lidaram com o forte vento e quebraram o gelo da estreia para vencer por 2 a 0 (21/19 e 22/20). O segundo jogo foi o pior dos brasileiros e marcou a única derrota da parceria na campanha. Usando uma tática de sacar somente em Schmidt, Doppler e Horst, da Áustria, venceram por 2 a 1, parciais de 21/23, 21/16 e 13/15. A terceira partida da primeira fase foi contra Alex Ranghieri e Adrian Carambula. O Brasil não caiu na provocação do segundo, que apontou para genitália e se virou na direção do público, e ainda superou uma lesão do Mamute para vencer por 2 a 0 (21/19 e 21/16).

Na fase de mata-mata, duelo contra os espanhois Herrera e Gavira nas oitavas de final. Alison voou, fez 31 pontos, e os brasileiros marcaram 2 a 0 (24/22 e 21/13). Nas quartas, uma “final antecipada” no embate diante do campeão olímpico Phil Dalhausser (Pequim 2008) e seu parceiro Nick Lucena, dos Estados Unidos. Vitória do Brasil por 2 a 1 (21/14, 12/21 e 15/9). Na semi, um dos melhores jogos de todo o campeonato. Os dois atletas do Brasil jogaram fácil, sofreram com uma reação rival no segundo set, puxada pelo gigante Meeuwsen, de 2,07m, mas ganharam por 2 a 1 (21/17, 21/23 e 16/14).

Fonte: Globoesporte.com

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