USAIN BOLT COMO SER OLÍMPICO
Olimpíadas movem as pernas mais velozes que o planeta já viu – pernas que foram tricampeãs dos 100m no último domingo no Engenhão. Usain Bolt estrela os Jogos do Rio 20 anos depois de se apaixonar pela competição ao assistir, pela televisão, à disputa de Atlanta-96. O jamaicano está em sua quarta edição olímpica como grande astro do atletismo – e ainda disposto a curtir o maior evento esportivo do planeta.
O vínculo entre Bolt e a Olimpíada, de tão forte, se torna quase místico: a ponto de ele completar 30 anos justamente no dia em que terminará a última Olimpíada de sua carreira – 21 de agosto. O jamaicano já anunciou que não pretende disputar novas edições dos Jogos. É justo: ele já tem histórias de sobra para contar – e dez delas você acompanha abaixo.
ENCANTO COM MICHAEL JOHNSON
Usain Bolt tinha nove anos, beirando os dez, quando parou diante da televisão, boquiaberto, e viu como corria Michael Johnson. Foi em 1996 – o americano foi ouro nos 200m e nos 400m. O jamaicano não tinha ideia de que se tornaria um velocista. Era uma criança hiperativa, que corria de um lado para o outro, mal sabendo que aquilo poderia ser uma profissão. Ao ver Michael Johnson, pensou que gostaria de ser como ele. Mas não foi: foi maior.
MERO AJUDANTE EM ATENAS
Os primeiros Jogos Olímpicos de Bolt foram os de Atenas, em 2004. Ele tinha acabado de fazer 18 anos. Era um novato que precisava servir como ajudante dos atletas mais velhos da Jamaica – que lhe ordenavam que fosse buscar água para eles, por exemplo. O Raio participou da competição nos 200m. E morreu já nas eliminatórias – ficou em quinto na sua classificatória. Teve o desempenho prejudicado por lesões nas costas e no tendão, pouco antes da Olimpíada. Anos depois, ele diria que deixou o quinto colocado na eliminatória (Géza Pauer, da Hungria) ultrapassá-lo – pois não se sentia pronto para correr a prova plenamente.
VÍDEO PREMONITÓRIO ANTES DE PEQUIM
Em 2008, Bolt embarcou de Londres, onde fizera a parte final da preparação, para Pequim. Vivia uma realidade bem diferente em comparação com os Jogos anteriores: estava na briga pelo ouro. E extremamente confiante. Tanto que, já dentro do avião, fez um vídeo em seu celular em que dizia: “Ei, estou viajando para Pequim. Vou correr rápido, ganhar três medalhas de ouro e voltar para casa como um herói”. Dito e feito: ele venceu os 100m, os 200m e o 4x100m.
NUGGETS CHINESES
Já em Pequim, Bolt era um anônimo circulando na Vila Olímpica. Tanto que podia circular tranquilamente e até comer com a maior tranquilidade no refeitório coletivo dos atletas. Só que ele logo enjoou da comida e passou a se alimentar de nuggets. Dezenas e dezenas de nuggets. O problema ocorreu quando ele ganhou os 100m: automaticamente, virou uma celebridade, e mal conseguia sair do dormitório. Aí a solução foi pedir para que os colegas o ajudassem – levando nuggets para ele no quarto.
MEDALHAS PRIMEIRO, RECORDES DEPOIS
Bolt venceu os 100m em Pequim e quebrou o recorde mundial dos 100m. Mas demorou a perceber que fez o menor tempo da história até então – 9s69. Depois, disse algo que mostra seu envolvimento com as Olimpíadas: afirmou que valoriza mais o título olímpico do que o recorde mundial, pois o recorde poderá ser quebrado muitas vezes, enquanto o ouro jamais será retirado.
UM RAIO NA VILA
“Sou o raio Bolt”, disse o jamaicano em Pequim. Foi lá que seu gesto, a comemoração apontando para o céu, ganhou fama. E ele sentiu isso ao retornar à Vila Olímpica depois de vencer os 100m. Uma multidão o esperava na frente do prédio que recebia a delegação jamaicana. Cercado, ele ouviu alguém gritar: “Faça a pose do raio!”
MEDALHAS PERDIDAS
As três medalhas conquistadas em Pequim mudaram Usain Bolt de patamar. E quase foram perdidas no meio da bagunça de um quarto de hotel em Nova York. Elas estavam dentro de uma sacola, que ele misturou com um saco onde estavam roupas sujas. O Raio viveu instantes de pânico revirando o quarto até finalmente encontrá-las.
O AMADOR CAMPEÃO
Em Londres-2012, Bolt já era um fenômeno em busca de novas marcas. A expectativa não era exatamente se ele conseguiria referendar os títulos de quatro anos antes, e sim se novos recordes mundiais seriam estabelecidos nos 100m e nos 200m. A prova mais rápida, porém, era extremamente desafiadora, já que Bolt competiria com os melhores corredores do planeta: Asafa Powell, Tyson Gay, Justin Gatlin e Yohan Blake. Mas ele disparou forte após a largada e, nas passadas finais, sentiu que venceria. Tanto que relaxou. Mas então lembrou, tarde demais, que também podia quebrar o recorde mundial. Não conseguiu baixar a marca. E, ainda celebrando a vitória, levou uma bronca do treinador, Glenn Mills, que o chamou de “amador” – bronca que repetiria também depois do ouro nos 200m, quando Bolt cruzou a linha de chegada com o dedo sobre os lábios, em sinal de silêncio.
A VISITA DAS SUECAS
Depois de ganhar o ouro nos 100m em Londres, Usain Bolt passou três horas em seu quarto com três suecas – Gabriella Kain, Gullden Isabelle e Roberts Jamina. Elas eram jogadores de handebol e resolveram ir parabenizar o jamaicano. A situação gerou uma polêmica danada, mas Bolt sempre jurou de pé junto que eles ficaram apenas na conversa – e argumentou que jamais postaria fotos do encontro em redes sociais se tivesse rolado algo além disso.
BASTÃO DE AMULETO
O ouro olímpico mais recente de Usain Bolt é o do 4x100m de Londres. E foi uma prova na qual ele não se contentou com a medalha: também quis levar o bastão usado na passagem do revezamento para casa como lembrança. O problema é que o funcionário que estava com o objeto não podia cedê-lo a ninguém. Nem para Bolt. E se estabeleceu um impasse entre os dois. Até que um encarregado da organização apareceu para permitir que Bolt levasse o bastão com ele e tivesse seu amuleto olímpico.
Fonte: Globo.com