A duas provas do fim de sua longa e vitoriosa carreira, Michael Phelps não consegue mais evitar a sensação de nostalgia. Todos os dias da Olimpíada do Rio o americano curte e comenta algum último feito. Nesta quinta, foi a vez do maior atleta olímpico de todos os tempos se despedir dos 200m medley, com ouro (22º da carreira e 26ª medalha) e o tetracampeonato, e da parceria de 12 anos com Ryan Lochte na prova de quatro estilos. Com quatro medalhas douradas no peito, o nadador de 31 anos ainda pode chegar a seis, se vencer também os 100m borboleta e o 4x100m medley. Ainda que parasse por aí, ele garante que já estaria completamente realizado com a forma que se despediu das piscinas.
Reescrever o fim de sua carreira da forma que sempre sonhou era a meta principal de Phelps quando decidiu disputar os Jogos Olímpicos do Rio. No ano passado, depois de superar uma profunda depressão, o americano revelou que a despedida em Londres 2012 não tinha sido como ele queria. Admitiu ter nadado sem vontade e sem dedicação. Foi aí que enxergou em 2016 sua última chance de deixar a piscina com a consciência tranquila de que o seu adeus à piscina foi à altura do que conquistou dentro dela. Isso explica a alegria e emoção que tem sentido por conseguir trilhar no Brasil exatamente o caminho o que planejou.
Confira algumas declarações de Phelps depois do levar seu quarto ouro nos Jogos:
Ainda não caiu a ficha
Não sei quando vou conseguir organizar isso na minha cabeça. Talvez, em algum momento na vida. No momento, não sei o que dizer. Foi uma competição e tanto até aqui. Estava brincando com o Ryan (Lochte), fazendo piada: “Nossa, como a gente fazia tudo isso em 2008?”. Meu corpo está doendo, minhas pernas doem, estou cansado.
O fim da carreira
Acho que começou a cair a ficha hoje de manhã. Só vou colocar o uniforme de natação mais duas vezes. E só vou ter que ficar exausto mais essas vezes. Essas coisas que sentimos todos os dias. Hoje foram os meus últimos 200m da vida, o que é maravilhoso. Então, é impressionante pensar que há mais de 20 anos aprendi a nadar e que agora tudo está terminando, que as competições vão se encerrar em 48 horas. É meio maluco imaginar que eu e Ryan estamos na equipe juntos desde 2004. Eu acho temos algumas das carreiras mais longas. Mas é bacana que consegui fazer tudo aquilo que sonhava em fazer.
Cansaço e dor
Sair da água agora dói mais. Meu corpo não sente como se tivesse 18 anos. Gosto do esporte tanto quanto gostava quando tinha 18 anos. Gosto do treino, quer dizer, gostei do treino que me trouxe até aqui como se fosse um menino de 18 anos. Mas acho que antes eu sempre procurava um caminho mais curto, um atalho, pular uma semana aqui, outra ali. Mas o que tivesse que fazer agora, falei com o Bob (Bowman, treinador): “Vamos fazer”. Acho que passei por obstáculos que talvez não quisesse enfrentar. Mas resolvi passar porque queria voltar a onde eu já consegui. Então, sair da piscina parece um pouco mais difícil. Mas é ótimo poder subir no pódio e ouvir o hino nacional. Espero ter a oportunidade de fazer de novo. É algo que vou sentir falta quando parar. Todas as vezes que escuto o hino são tantas recordações que passam pela minha cabeça. Toda vez que escuto, caio no choro. Tenho tentado me controlar, mas não está funcionando.
Mensagens de amigos
Mandei mensagem para alguns amigos, e algumas mensagens de inspiração que me mandaram realmente me ajudaram muito. Pensei na prova de hoje à noite, que foi muito boa. Pensei nisso nos últimos 50 metros e foi o que me levou a chegar onde cheguei. Porque estava com uma dor terrível nos últimos 50 metros e me esforcei muito para chegar até o final.
A decisão da volta
Eu sabia, quando comecei a voltar, que o processo não seria fácil, que teria que me forçar a passar por uma dor que eu talvez não quisesse sentir. Mas, se quisesse chegar ao resultado final, teria que passar por isso. E estava em um momento da minha vida que estava pronto para fazer isso. Já falei várias vezes que me senti como garoto de novo. Como quando tinha 18 anos e que fui treinar por quatro anos. Alguns dos melhores treinos da minha vida. Foi um dos motivos que me fizeram voltar a competir nesse nível. Houve alguns momentos que pensei: “O que estou fazendo aqui nadando de novo? Meus tempos não estão bons”. Muito frustrante. Mas tive que confiar no Bob. Por algum motivo, confiei nele quando tinha 11 anos e não me deixou na mão nenhuma vez. Então, não achei que ia me deixar na mão dessa vez.
As marcas
Eu tenho mais duas provas. É uma das coisas legais que depois vou poder olhar para trás e ver. Qualquer coisa que eu me meti a fazer, consegui. Como criança, é uma coisa que você pode sonhar, esperar. Eu me esforcei muito para chegar onde estou e sou agradecido pelo apoio que tive para chegar até aqui.
Mensagem de Ray Lewis
Vou contar a última parte: ele me chama de baby boy. E ele disse: “Essa é sua missão para o dia de hoje” É como se fosse um irmão mais velho. Não vou dizer as palavras textuais, mas li antes de sair e vi a mensagem dele para mim, logo depois dos 200m medley. E quase comecei a chorar. Mas sabia que tinha que ir lá e nadar o borboleta. Então, tentei me organizar. Provavelmente, vou ligar para ele quando sair daqui. Tentar falar com ele, estar com ele.
Fonte: Globoesporte.com