Uma das derrotas menos importantes da história do Grêmio levou os gaúchos à sua quinta final de Libertadores. Dez anos depois de tentar o Tri contra o Boca Juniors, Renato e companhia terão a chance de reconquistar a América contra o Lanús, também argentino. Na caminhada rumo à decisão, o Tricolor resgatou sua característica “alma copeira” e se moldou durante a competição para superar perdas importantes. O torcedor ainda viu surgir Arthur, um jogador de seleção brasileira, ao passo que a diretoria manteve Luan, outro selecionável.
Será a quinta final da história do Grêmio. O clube gaúcho se torna a segunda equipe brasileira que mais chegou a decisões da Libertadores. Está apenas atrás do São Paulo, que tem seis. Em 83 e 95, foi campeão. Terminou como vice em 84 e 2007, estas justamente contra rivais argentinos, Independiente e Boca Juniors, respectivamente.
Confira abaixo, alguns passos marcantes na campanha finalista:
A estrada não foi fácil. O Grêmio está na Libertadores por conta do título da Copa do Brasil, conquistado ano passado. Enfrentou Zamora-VEN, Deportes Iquique-CHI e Guarani-PAR na fase de grupos, além de Godoy Cruz-ARG, Botafogo e Barcelona-EQU. Dois deles forçaram o Tricolor a mudar até sua forma de jogar, pontualmente, para estar na quinta final da história gremista.
– Não tem favorito. Perder fora é normal. O Grêmio praticamente ganhou fora de casa a Copa do Brasil no ano passado. Você não vai ganhar todas. Faz parte. Nao tem problema nenhum. A gente procura aprender e errar o menos possível. Os dois clubes estão de parabéns por ter chegado na final e agora corrigir os erros para a decisão. São 50% para cada lado.
“Sentido diferente”
A convicção na hora de retirar vários atletas importantes do Brasileirão agora se paga. O Grêmio está na final e contou com quase todo time nos jogos com o Barcelona. Barrios ficou fora do segundo, com lesão muscular na coxa direita. Michel não foi titular por ainda estar retornando de lesão. Mas o planejamento deixou praticamente todos na ponta dos cascos.
Moldada na competição
Completo, o Grêmio sempre foi uma equipe com qualidade de jogo, a ponto de ser considerada a “melhor do Brasil” durante a temporada. Manteve a identidade de posse de bola, compactação defensiva e competitiva mesmo contra culturas diferentes de jogar futebol. Em determinados momentos, precisou trocar a maneira de atuar. Se não era possível chegar pelo chão, com as triangulações, que se “quebre” a bola no Lucas Barrios. Foi assim o gol do 1 a 0 sobre o Godoy Cruz, em Mendoza. O camisa 18 ganhou da defesa com uma casquinha. Pedro Rocha pegou na frente e cruzou para Ramiro fazer. Um movimento orquestrado fora da habitual maneira de atuar. Mas decisivo.
– Esse grupo é abençoado, tivemos a conquista ano passado, tendo essa oportunidade para ir a mais uma final. É o quinto grupo na história do Grêmio que chega a uma final, não é pouca coisa. Claro que queremos mais. Fomos passo a passo, conquistando os objetivos, e temos essa decisão com o Lanús – apontou o goleiro Marcelo Grohe na zona mista da Arena.
Na caminhada, Renato perdeu diversas peças. As principais, o atacante Pedro Rocha, o volante Walace (ainda em fevereiro), além do capitão Maicon e do meia Douglas por lesões. Ainda assim, manteve a equipe competitiva e sem perder o brilho técnico. Muito por ter uma base dos anos anteriores já no clube, algo propositalmente trabalhado pela diretoria. E atenuar os problemas com um novo diamante, talvez mais precioso que os anteriores.
Fator Arthur
Garoto da base, Arthur foi lançado quase aleatoriamente – o Grêmio chegou a tentar a contratação do volante Musto, o que poderia tirar espaço do garoto das categorias. Em campo, o meio-campista esbanjou categoria, mesmo em seu primeiro ano, em sua primeira Libertadores.
Sob olhar de Tite, Arthur foi o dono do 0 a 0 nas quartas de final com o Botafogo, no Rio. No duelo, o Grêmio jogou sem Luan e Geromel e precisava de um protagonista. Sem titubear, o garoto assumiu a chance. E é um dos símbolos da boa campanha gremista na competição até o momento, a ponto de ter sido convocado para a seleção brasileira.
Outro destaque individual merece citação. A quarta-feira foi feliz para o gremista pela classificação à final, mas também pela renovação de Luan. O camisa 7 assinou contrato até 2020 com o Grêmio após longa negociação. Não há hoje um substituto para ele no elenco e foi muito pelos pés do atacante a evolução dentro da Libertadores até a final.
Já na história
A classificação gremista saiu veio com uma derrota na Arena – praticamente nem sentida pelos mais de 54 mil presentes. O 3 a 0 no jogo de ida deu tranquilidade acima do normal para uma semifinal de Libertadores. E ela passou muito pelas mãos de Marcelo Grohe. Criado e desde 2000 no clube, o camisa 1 evitou o gol de Ariel Nahuelpán em lance antológico no Monumental, em Guayaquil. Se não tivesse feito o milagre, o resultado poderia ser outro – os equatorianos descontariam para 2 a 1 no início do segundo tempo e certamente sairiam em uma pressão desenfreada pelo empate. A mão direita de Grohe, portanto, forjou parte da estrada.
Uma junção de diversos fatores levou o Grêmio a quebrar o jejum de Brasileiros em final de Libertadores, algo que não ocorria desde 2013, quando o Atlético-MG levou a taça. Nos dias 22 e 29, o Grêmio coloca em jogo o planejamento de um ano inteiro para guardar mais uma taça no armário. Razões para chegar em La Fortaleza e decidir a maior competição do continente sobram. Resta saber se, em 180 minutos, o Tricolor merecerá a distinta honraria de ser tricampeão.
Fonte: Globoesporte.com