Foram 17 dias de intervalo entre a partida contra o Corinthians, pelo Campeonato Paulista, e o duelo da última quinta-feira, contra o Defensa y Justicia, pela Copa Sul-Americana. Nesse período, foram 13 dias de treinos no CT da Barra Funda…
Antes do confronto diante dos argentinos, o otimismo era grande. Os jogadores falavam que o time tinha condições de disputar os títulos das duas competições que restavam no ano. Mas, quando a bola rolou, tudo se transformou em uma enorme decepção.
O Tricolor foi da euforia de voltar a jogar para o desespero de ver que praticamente nada mudou no período de inatividade. E, após Paulistão e Copa do Brasil, veio a terceira eliminação na temporada: 1 a 1 no Morumbi e queda na competição continental.
O favoritismo era inquestionável. Afinal, o São Paulo enfrentava uma equipe que disputava sua primeira partida internacional em 82 anos de história. É bem verdade que o Tricolor tinha a necessidade de vencer e começou jogando para frente, no melhor estilo Rogério Ceni.
Com menos de um minuto, Lucas Pratto fez 1 a 0, após passe de Cueva, mas o gol foi anulado, já que o camisa 14 estava em posição de impedimento. Aos cinco minutos, Thiago Mendes arriscou um belo chute de fora da área e colocou o Tricolor na frente. Alívio para Ceni no banco de reservas.
Mas ele mal teve tempo para curtir o feito. Cinco minutos depois, a defesa tricolor , que já foi o calcanhar de aquiles da equipe em várias partidas na temporada, voltou a falhar. Após uma bola perdida no ataque, três jogadores ficaram parados. Jonas Gutierrez arrancou do meio para a ponta esquerda, passou por Bruno e fez o cruzamento. Lucão não interceptou a bola, que cruzou a área e sobrou na direita. Junior Tavares não estava posicionado corretamente e a bola chegou a Castellani, que fuzilou Renan Ribeiro: 1 x 1 no marcador.
E pior: mesmo com três volantes são-paulinos em campo, o Defensa y Justicia chegou com perigo ao gol tricolor. Renan Ribeiro, em grande fase, fez pelo menos três boas defesas. Antes do intervalo, Lucão, que claramente se abalou psicologicamente após falhar no gol rival, quase fez um golaço contra.
No intervalo, o treinador resolveu agir. Sacou Neilton e colocou Gilberto, apostando no faro de gol do camisa 17, artilheiro tricolor na temporada, com 11 gols. A equipe passou a atuar no 4-3-1-2, com Cueva centralizado e os dois homens à frente. Mas nada, rigorosamente nada mudou.
Aos 17, Ceni fez mais uma alteração, sacando Bruno e colocando Luiz Araújo. Essa mudança fez muito mal ao time. Isso porque Thiago Mendes, o único do meio-campo a fazer algo, foi deslocado para a lateral-direita, que estava bem vigiada por dois jogadores rivais. Lá, ele foi apenas mais um em campo.
Aos 19 minutos, após falha incrível de Lucão, Elizari perdeu um gol inacreditável. O São Paulo respondeu com lance de Cueva, que teve mais uma noite para esquecer. O camisa 10 foi facilmente combatido e, quando teve a chance de gol, aos 21, chutou em cima da marcação adversária dentro da área. Tanto que, pelo terceiro jogo consecutivo, foi substituído por Thomaz, outro que entrou e não acrescentou nada.
Dos 30 em diante, foi um desespero só. O curioso é que o São Paulo tinha dois centroavantes em campo e insistia em jogar pelo chão. Com isso, ora Prato ora Gilberto eram obrigados a abrir para buscar jogo. Os 14.999 torcedores presentes ao estádio do Morumbi, atônitos, acompanharam até o final um time sem vibração e que claramente não mostrou porque merecia a classificação.
Ruim dentro de campo, pior fora dele. Ceni, na entrevista coletiva concedida no estádio do Morumbi, fez um análise completamente equivocada do momento da equipe. Primeiro, usou o retrospecto do Tricolor (11 vitórias, nove empates e quatro derrotas) para dizer que no Campeonato Brasileiro seria um rendimento para ocupar entre a terceira e a quarta posições na tabela. Ora, é preciso lembrar que muitas das vitórias foram contra times de menor expressão na primeira fase do Paulistão.
No Brasileiro, o nível é muito mais alto e, sem dúvida nenhuma, o que aconteceu no torneio estadual não serve como parâmetro. Os tropeços, principalmente para Corinthians e Cruzeiro, custaram as eliminações no Campeonato Paulista e na Copa do Brasil. Isso significa que o time, quando colocado à prova, falhou feio.
Em coletivas anteriores, Ceni tinha na ponta da língua os estatísticas do São Paulo em cada partida para mostrar que sua equipe tinha dominado o adversário e, por isso, merecia melhor resultado quando a vitória não vinha.
Nesta quinta, como o Defensa y Justicia foi superior nos itens mais importantes, o treinou mudou o foco e usou a coletiva até para ironizar os jornalistas. Disse que, mesmo que ele abrisse os treinamentos, o que não deve acontecer, muitos dos jornalistas não teriam capacidade de entender o que ele estaria fazendo em campo.
Aos cacos, o São Paulo vai se preparar para estrear no Campeonato Brasileiro no próximo domingo, às 16h, contra o Cruzeiro, no Mineirão. Daqui até o final do ano, a equipe só fará mais 38 partidas. Haverá tempo para trabalhar durante a semana e arrumar o que está errado. E não é pouca coisa.
Defensivamente, o São Paulo é muito vulnerável. Há falhas na recomposição defensiva quando o time perde a bola. Ofensivamente, é preciso saber enfrentar equipes que marcam atrás. E várias peças importantes do começo do ano e que caíram bruscamente de rendimento precisam se reencontrar.
É bom ficar esperto. O nível do torneio nacional é muito alto, e o Tricolor vem de fraca participação no ano passado, quando esteve seriamente ameaçada pelo rebaixamento.
Que se deixe claro que a responsabilidade não é unicamente de Rogério Ceni. Também deve ser dividida entre os jogadores e os dirigentes, que há anos não conseguem fazer o time entrar nos eixos. Colecionam vexames e limitam-se a trocar de treinadores.
Em sua primeira entrevista como diretor executivo de futebol, Vinícius Pinotti não poderia ter dito que o treinador é inquestionável. Ainda mais depois da terceira eliminação em 20 dias, mesmo após cinco meses de trabalho do técnico.
O presidente Leco, que acabou de ser reeleito, precisa saber que a torcida, decepcionada com mais um vexame, não vai aceitar menos do que uma vaga para a Libertadores de 2018. E hoje, analisando o momento do São Paulo, é possível dizer que isso mais parece um sonho distante.
Fonte: Globoesporte.com