Enquanto os investigadores aguardam a abertura da caixa preta para buscar a causa do acidente no voo da Chapecoense que iria para a Colômbia, uma das seis sobreviventes e testemunhas que acompanharam o voo da equipe brasileira até Medellín relataram os momentos finais de drama que resultou na tragédia na Colômbia.
Uma das seis sobreviventes da queda do voo da LaMia, a comissária de bordo Ximena Suárez contou ao governador de Antioquia, Luis Pérez, que as luzes do avião se apagaram repentinamente no trajeto até Medellín. Segundo o político colombiano, este é o único depoimento que existe até o momento sobre o acidente.
– O pouco que ela falou foi que as luzes começaram a se apagar repentinamente e que 40 ou 50 segundos depois sentiu a pancada. Ela se lembra até aí – disse Pérez, em entrevista à veículos de imprensa colombianos.
O governador de Antioquia disse ainda que este é o “único testemunho que temos”.
– Não podemos aumentá-lo ou diminuí-lo para não prejudicar as investigações.
As causas do acidente ainda serão investigadas, mas especialistas não descartam a possibilidade de falha elétrica. Também se especula a possibilidade de falta de combustível.
Perez acrescentou ainda que outros sobreviventes relataram a ele que havia sofrido pancadas na cabeça, sentiam muita dor e que não podiam mover os membros.
– Mas é melhor não especular e ter um balanço preciso – afirmou.
PILOTO RELATA CONVERSA
Já um piloto da empresa Avianca, que viajava próximo ao voo da Chapecoense, relatou ter ouvido uma conversa entre a tripulação da aeronave acidentada e a torre de controle do aeroporto de Medellín, para onde o time iria para a disputa da final da Copa Sul-Americana. Segundo a “Rádio Caracol” e o site “El Espectador”, ambos da Colômbia, o piloto contou que a tripulação do voo da Lamia pediu prioridade de pouso no Aeroporto Rio Negro porque estaria com problemas de combustível.
– Solicitamos prioridade para proceder, solicitamos prioridade para proceder ao localizador, temos problemas de combustível – teria dito o piloto da Lamia, segundo relato do piloto da Avianca, cujo nome não foi divulgado.
A controladora do aeroporto teria negado a permissão por conta de outro voo da empresa VivaColômbia. Foi quando o comandante do voo da Chapecoense decretou emergência.
O piloto da Avianca relatou ainda que a controladora pediu que ele pousasse na pista 1. Enquanto isso, a tripulação do voo da Chapecoense confirmou a pane elétrica e decretou situação de emergência.
– Agora temos uma falha elétrica, temos uma total falha elétrica.
De acordo com o jornal “El Tiempo”, o capitão do voo da Lamia, Alejandro Quiroga Murakami, pediu repentinamente e aos gritos que o deixassem aterrisar no aeroporto porque tinha problemas de combustível. A versão será comparada com as gravações da torre de controle. Os controladores teriam cumprido os protocolos, dando sinal verde para o pouso do avião da VivaColômbia, que havia relatado problemas, deixando outros voos no ar.
As autoridades colombianas convidaram as brasileiras a auxiliarem na investigação a partir da análise das caixas pretas, que já foram encontradas. As caixas contêm os dados do voo, assim como as gravações de toda a comunicação da tripulação com a torre de controle.
Os investigadores vão verificar ainda se a Lamia cumpriu todos os protocolos de segurança internacionais que obrigam que todos os voos de linha ou privados tenham combustível de reserva para garantir as manobras de segurança necessárias. Ou seja, a aeronave tinha que ter combustível para ir para o aeroporto mais próximo ou sobrevoar o aeroporto por pelo menos 30 minutos.
OUTRO SOBREVIVENTE
Outro sobrevivente da tragedia, o boliviano Erwin Tumiri, declarou ao jornal “La Razón”, da Bolívia, que escapou da morte por ter seguido todos os protocolos de segurança. Ele permaneceu em posição fetal com uma mala entre as pernas, o que teria ajudado a amenizar o impacto da queda.
– Sobrevivi porque segui todos os protocolos de segurança. Com a situação de pânico, muitos se levantaram dos assentos e começaram a gritar. Coloquei umas malas entre as pernas e fiquei na posição fetal, recomendada para acidentes – afirmou o comissário de bordo.
BRASILEIRA DIZ QUE AVIÃO ESTAVA ATRASADO
Em sua página no “Facebook”, a brasileira Maysa Brito, moradora de Uberlândia, disse que estava em outro avião que voava de Bogotá para San Andrés quando relatou um vazamento de combustível. Segundo ela, seu voo, que teve prioridade para fazer um pouso de emergência no aeroporto José María Córdova, em Medellín, estava atrasado e precisou voltar. Leia abaixo o relato dela:
“Relato sobre a experiência mais bizarra/assustadora que já tive: Sabe o avião que caiu? Quase foi o meu!!! Estou na Colômbia com uma amiga aproveitando nossas férias, depois de 3 dias em Bogotá seguiríamos para San Andrés. Nosso voo atrasou mas fomos mesmo assim, no meio do trajeto o piloto explica que estávamos com problemas técnicos, e pasmem também por gasolina. Ele alegou que estava vazando e por isso iríamos realizar uma parada emergencial no aeroporto José Maria Cordova, o mesmo aeroporto em que o time deveria pousar. Na hora ficamos com medo mas não tínhamos ideia da gravidade, pousamos e ficamos uns 45 minutos na aeronave. Os colombianos começaram a 3 guerra mundial, revoltados pois a posição que tivemos era que teríamos que voltar para Bogotá e só no outro dia iríamos para nosso destino final. No meio de toda confusão ficamos sabendo da queda do outro avião e veio o triste relato da policia do aeroporto. A policial informou que infelizmente eles não conseguiram pousar pois já estávamos na prioridade de emergência, ou seja, já estávamos pousando e então eles tinham que esperar o meu avião chegar ao solo… Nessa espera, eles perderam o contato com a torre e o avião caiu, ali, metros de onde estava… E se eles tivessem pousado primeiro? Talvez seria o nosso avião rodando no ar também sem gasolina! Foi um caos, ninguém sabe ao certo o que aconteceu, todo mundo com medo de pegar outro avião, criança chorando, pessoas gritando… Regressamos a Bogotá, pegamos um hotel e agora estamos no aeroporto novamente para enfim chegarmos a San Andrés! Estou perplexa e extremamente agradecida, só nos resta aproveitarmos o resto dos nos dias nesse país maravilhoso, orar por essa triste fatalidade e pelas famílias, os meus mais profundos sentimentos!! Aqui não se fala em outra coisa e já estão tentando entender porque um avião pousou e outro não”, escreveu Maysa.
O voo da Chapecoense seguia de Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia, para Medellín, onde a Chapecoense disputaria a primeira partida da final da Copa Sul-Americana contra o Atlético Nacional. No acidente, 71 pessoas morreram, entre eles 19 jogadores da Chapecoense e 21 jornalistas. Apenas seis sobreviveram.
A partida foi adiada, mas o time colombiano solicitou à Conmebol que o título seja dado para a equipe catarinense.
Nordeste Notícia
Fonte: G1