Pode ser uma pessoa de grande coragem ou autora de grandes feitos, conquistas. Ou também a personagem principal. A que provoca admiração. O centro das atenções. Ou melhor: nascida de um ser divino e de outro mortal. É só escolher o significado que quiser dar à palavra herói. Aqui, no caso, o herói olímpico. E para ser esse herói olímpico, o atleta pode ter todos esses atributos, ou até alguns, ou que tenha apenas um.
Na Olimpíada do Rio, o mundo pôde ver a história vitoriosa seguindo para alguns. Ou a primeira página de outros. Ou, para os mais experientes, o capítulo final com o ouro cravado no peito. Ou vários ouros. É o caso do americano Michael Phelps, o tubarão difícil de ser superado: As piscinas não serão mais as mesmas. Bem como as pistas em Jogos Olímpicos perdem muito sem o jamaicano Usain Bolt, o raio de velocidade inatingível, do carisma inimitável.
Mas leveza vai, leveza vem. Nos gestos e acrobacias da ginasta americana Simone Biles, de 19 anos e cinco pódios – quatro ouros e um bronze. A heroína Rafaela, de sobrenome Silva, criada na Cidade de Deus, peso-leve, aos 24 anos, bateu todas as adversárias com a disposição que empolgou o Brasil. Aos 27 anos, o pugilista baiano Robson Conceição também passou perrengue na vida, vendendo até picolé, até chegar ao alto do pódio. Com cinco anos a menos, Thiago Braz também entra para o grupo com histórias de superação que dão vários livros. O atleta de salto com vara surpreendeu o mundo atingindo os 6,03m – recorde olímpico.
No fim, outros brasileiros surgiram para figurar na lista. As duplas Martine Grael e Kahena Kuzne, na vela, classe 49er FX, e Alison e Bruno, no vôlei de praia, valeram-se de seus quintais, a Baía de Guanabara e as areias de Copacabana, para compensar todo o esforço. Nos esportes coletivos, as estrelas de Neymar e Wallace nos momentos decisivos são símbolos para o ouro inédito do futebol e mais um que entra para o tão campeão vôlei masculino. E se não ganhou o ouro, Isaquias Queiroz, com as duas pratas e o bronze na canoagem, é o primeiro brasileiro a ganhar três medalhas numa mesma Olimpíada.
Usain Bolt
Logo depois de passar Justlin Gatlin nos metros finais para ganhar o primeiro ouro no Engenhão, nos 100m rasos, Bolt deu a dica: “Eu já era uma lenda. Eu precisava deste ouro para confirmar que sou um dos maiores.” E foi assim nos 200m rasos, quando nem Gatlin teve pela frente. E foi assim também no revezamento 4x100m. Na verdade, o jamaicano nem precisaria de mais ouros para ser eternizado como lenda. Mas agora, com seus nove ouros e o seu carisma, vai disputar com Phelps a preferência popular no trono dos maiores de todos os tempos.
Michael Phelps
Em números, é imbatível, o maior de todos. São 28 medalhas em cinco Jogos. No Rio, ganhou mais seis, cinco de ouro e uma de prata. As de ouro foram nos 200m borboleta, 200m medley e os revezamentos 4x200m livre, 4x100m medley e 4x100m livre. Nem mesmo a medalha de prata nos 100m borboleta diminuiu a emoção por ter dado o adeus como um grande campeão. Isso depois de ter abandonado as piscinas em 2014, com forte depressão. “Foi um desafio para voltar a este nível”, disse Phelps, que nestes Jogos foi até porta-bandeira da delegação americana.
Simone Biles
A torcida brasileira se encantou por Simone Biles, e a recíproca foi verdadeira: ela se impressionou com o carinho recebido no Rio. Que ajudou, sem dúvida. Mas quem duvida que a rainha da ginástica não levaria os quatro ouros – no solo, por equipes, no individual geral e no salto – e o bronze – na trave? No solo, inclusive, obteve pontuação fantástica (15.966). E a troca com a torcida a marcou: “Foi uma energia incrível, nunca tinha vivido algo assim.” É, Simone jamais esquecerá o Rio, e o Rio jamais esquecerá Simone.
Joseph Schooling
Imagina você, nadador, conseguir bater na frente de Michael Phelps numa prova de Olimpíada e deixar o americano sem apenas aquele ouro de todas que disputou? Isso já basta para o atleta de Cingapura figurar nesta lista. A proeza foi nos 100m borboleta. Aos 21 anos, ele teve força e fôlego suficientes para aguentar a pressão que vinha atrás nos metros finais da piscina. E precisou nadar tão rápido, mas tão rápido, que bateu o recorde olímpico da prova, com 50s39. Mas Schooling não é bobo não: ele treina nos Estados Unidos.
Thiago Braz
O salto com vara para a vitória foi um dos momentos mais marcantes, e também polêmicos, dos Jogos do Rio. E Thiago Braz mostrou aos 22 anos que tem estrela para brilhar por mais Olimpíadas. Desbancou as dores da vida, ao ser abandonado pequeno pela mãe, desbancou seu até então ídolo, o francês favorito Renaud Lavillenie – este ainda magoado com as vaias do público -, e desbancou seus próprios limites ao arriscar e atingir marca jamais alcançada, por sinal, novo recorde olímpico. Esses 6,03m estão dando o que falar. Sarrafo neles, Thiago!
Rafaela Silva
A judoca de 24 anos criada na Cidade de Deus, comunidade do Rio de Janeiro, leva a medalha de ouro “sangue nos olhos” desta Olimpíada. Sabia como poucos ali o que era superar adversidades, e desde a primeira luta foi firme em busca do sonho no peso-leve. As três primeiras adversárias sequer tiveram chance. Veio a semi cheia de emoção contra a romena Corina Caprioriu, numa vitória com wazari no golden score (morte súbita). O ouro sobre Sumiya Dorjsuren, da Mangólia, coroou a campanha magnífica da mais nova heroína brasileira.
Robson Conceição
“Uh, vai morrer!” foi o grito de guerra no Pavilhão 6 do Riocentro para empurrar Robson Conceição rumo ao ouro do boxe no peso-leve. O baiano até pediu para a torcida evitar esse grito, mas não teve jeito. E Robson foi superando seus adversários, com destaque para a luta da semifinal contra o cubano Lázaro Álvarez, seu maior rival, primeiro no ranking mundial. Na disputa do ouro contra o francês Sofiane Oumiha, o brasileiro sentiu o adversário temer pela pressão. Mas, na verdade, foi Robson, com seu estilo agressivo, quem empurrou a torcida.
Teddy Riner
Como bater um gigante de 2,04m, campeão olímpico, sem perder desde 2010? Quem tiver essa fórmula vai entrar para a história, porque a Olimpíada do Rio passou e nenhum judoca conseguiu superar o francês Teddy Riner. E agora ele é bicampeão olímpico dos pesos-pesados e está invicto há 112 lutas. Riner, aos 27 anos, não foi ameaçado nenhuma vez nos Jogos. Praticamente perfeito no tatame, tem tudo para manter a hegemonia até 2020, em Tóquio. E pode tirar onda de Rei do Rio: antes do ouro, já tinha ganhado dois mundiais por aqui.
Anthony Ervin
O americano é um dos heróis mais improváveis desta Olimpíada. Afinal, quem poderia imaginar que, aos 35 anos, ele se tornaria o nadador mais rápido no planeta, na prova dos 50m livre, competindo com gente, na média, com 27 anos, e tendo como maior favorito o francês Florent Manadou, campeão em Londres? Pior. Ervin chegou na frente com o tempo de 21s40 16 anos depois de ter faturado o mesmo ouro, tê-lo leiloado, tendo abandonado as piscinas, mergulhado nas drogas. Olha, dava um filme essa história.
Shaunae Miller
Teve tira-teima no telão. Teve peixinho sobre a linha de chegada. Teve ouro no último suspiro nas pistas pela atleta das Bahamas Shaunae Miller, nos 400m. E este ouro entra como dos mais, senão o mais disputado até o fim. A americana Alysson Felix vinha colada na caribenha. E pelo ouro vale até se jogar. Mas Shaunae garante não ter pensado nisso: “Senti a minha perna travar a 40m da linha de chegada, e o que passou na minha cabeça foi cruzar a linha de qualquer maneira. Acabei caindo ao tentar fazer o movimento para dar a passada.” Será?
Mo Farah
Tem campeão que cai, se levanta e mostra por que é de fato um campeão. Foi o que aconteceu com o corredor britânico Mo Farah. Na metade da prova dos 10.000 metros do atletismo, o pior aconteceu. Mo tropeçou e sofreu uma queda. O público, no Engenhão, começou a incentivá-lo. E não é que Mo se levantou e reagiu? O que parecia quase impossível se concretizou. O campeão olímpico em Londres conseguiu repetir o feito e levou mais um ouro para casa. Na base da vontade, da luta, da superação. Um dos ouros mais comoventes desses Jogos do Rio.
Abbey d’agostinho e Nikki Hamblin
Tem atleta que cai, se levanta e completa a prova no sacrifício. E comemora como se fosse ouro. E comove o público. E foram duas atletas. Quando a americana Abbey D’Agostinho tropeçou na neozelandesa Nikki Hamblin, que havia caído, ninguém esperava que as duas terminassem os 5.000m rasos. Ficaram caídas por algum tempo. Mas quem disse que não se levantaram? O espírito olímpico conduziu-as até o fim, com Abbey em situação dramática. A chegada foi emocionante, com as duas se abraçando. E Abbey sofreu lesão nos ligamentos do joelho.
Martine Grael e Kahena Kuzne
As duas velejadoras de 25 anos conquistaram um ouro emocionante na classe 49er FX. No “quintal”, a Baía de Guanabara, fizeram a ultrapassagem na última boia e venceram por apenas dois segundos à frente do barco das neozelandesas Alex Maloney e Molly Meech. A conquista suada garantiu ao país o sétimo ouro na vela em toda a história olímpica. Filha de Torben Grael, Martina, ainda em êxtase, celebrou logo após a regata que valeu o título. “Foi a melhor regata da minha vida.” Certamente o Brasil jamais esquecerá o feito.
Alison e Bruno
A dupla transformou a Arena de Vôlei de Praia, em Copacabana, num estádio de futebol. E nem a chuva forte que caiu esfriou o delírio de todos que assistiram à vitória dos brasileiros sobre os italianos Nicolai e Lupo. Com o placar de 2 a 0, parciais de 21/19 e 21/17, na raça e no coração, o capixaba e o brasiliense garantiram a medalha de ouro que, principalmente para quem estava presente, jamais será esquecida. Os dois têm direito de comemorar muito esse feito.
Neymar
Poderia também ser o goleiro Weverton, um dos heróis ao defender um pênalti na decisão emocionante contra a Alemanha. Mas Neymar representa o que há de melhor no futebol brasileiro na trajetória que deu o tão sonhado ouro olímpico. Na final contra a Alemanha, ele não só mostrou categoria para marcar o golaço de falta como serviu os companheiros o jogo todo. E ainda teve a calma e categoria para cobrar o pênalti da medalha de ouro. Escreveu sua história nos Jogos, no Maracanã e no coração de todos os brasileiros. E ainda fez o raio do Bolt…
Wallace
Foram 12 anos de espera, mas o vôlei brasileiro conseguiu voltar ao alto do pódio olímpico. O Maracanãzinho viveu lances de emoção na vitória por três sets a zero (25/22, 28/26 e 26/24). sobre a Itália. De uma equipe em que todos atuaram acima da média, especialmente na reta final, Wallace soltou a mãos e se tornou o melhor representante na volta aos bons tempos. Essa campanha do tricampeonato olímpico jamais será esquecida.
Isaquias Queiroz
Ele não ganhou ouro. Foram duas medalhas de prata e uma de bronze. Mas e daí? O suor e a simplicidade valeram muito mais. O atleta brasileiro da canoagem que é ídolo e referência em seu esporte para vários atletas do mundo entrou para a história como o primeiro brasileiro a conquistar três medalhas numa única edição de Jogos Olímpicos. E tinha que ser no Rio. Com seu estilo, conseguiu prata sozinho na C1 1000m e bronze na C1 200m. Acompanhado de Erlon de Souza, foi prata na C2 1000m. E ganhou o coração dos brasileiros.
Fonte: Globo.com