NUVENS DE MORMAÇO: Antônio Sérgio da Silva mira as nuvens sobre o Pedras Brancas,em Quixadá. São de mormaço. O volume do açude baixa dia a dia  
MATEUS DANTAS
NUVENS DE MORMAÇO: Antônio Sérgio da Silva mira as nuvens sobre o Pedras Brancas, em Quixadá. São de mormaço. O volume do açude baixa dia a dia MATEUS DANTAS

Desde que 2018 começou, o Pedras Brancas, em Quixadá (a 165 km de Fortaleza), quase não ganhou altura d’água. O açude abriu 1º de janeiro com 5,07% e seguiu perdendo volume. Na maior chuva local até agora, se recompôs em 4,88% (dia 19/janeiro, 37,8 milímetros). Chegou a 4,93% (dia 25/janeiro) e desde então segue baixando. No último sábado, 17, o armazenado dele estava em 4,5%. O menor desde que a seca de 2012 começou. A água dali também atende Quixeramobim e Banabuiú.

Anotador de nível do Pedras Brancas, Antônio Sérgio Santos da Silva, 45 anos, diz que o volume tem caído dia a dia. Reduziu mais de 20cm do volume só este ano. É muito, considerando que o espelho d’água pode ser percorrido de canoa por mais de 12 km e, quando cheio, até 35 km. “Ele pegou só 10cm de água. Quase nada”, descreve. Sérgio era menino dali quando o açude foi concluído 40 anos atrás.

 A ÁGUA DA REGIÃO
Sérgio rema para registrar o nível do Pedras Brancas e acompanhar
o bombeamento. A água atende Quixadá, Quixeramobim e Banabuiú
A ÁGUA DA REGIÃO Sérgio rema para registrar o nível do Pedras Brancas e acompanhar o bombeamento. A água atende Quixadá, Quixeramobim e Banabuiú

 

Represaram o rio Sitiá e a antiga vila Tapuiará foi encoberta. A construção, do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs), durou entre 1969 e 1978. Era tempo de estiagens piores, de flagelo e fome. Quixadá já tinha o Cedro, o açude mais antigo do Brasil, finalizado em 1906 por ordem de D.Pedro II. O Pedras Brancas é 3,5 vezes maior que o Cedro.

O reservatório imperial está com água das chuvas de 2017. O Cedro guardou  2,41% de seu volume no final de maio do ano passado. No último sábado estava em 0,87%. A recarga teria sido de menos de 10cm na quadra chuvosa atual.

No Pedras Brancas, seu Raimundo do Nascimento da Penha, 60 anos, esticou a pesca das cinco da manhã às três da tarde. De linha e anzol, voltou com menos de dez quilos de tilápia. Das miúdas. As maiores mediam pouco mais da palma da mão dele. “Na fartura aqui, pegava uns 40 quilos fácil”. No nível muito baixo, como o atual, o lodo é mais aparente, a água é turva.

 

Acabam pescando peixe pequeno, “senão dá murrinha”. Na baixa oxigenação, o peixe pode morrer antes de ser pescado. “Essa é a única água que a gente tem por aqui, então…”, diz seu Raimundo, resignado. Perto, no mesmo fio d’água, também estão o Banabuiú, Fogareiro, Cipoada, Jatobá, o próprio Cedro, o Quixeramobim já secou.

No Estado, das poucas chuvas desde janeiro (293,2 mm acumulados, 63,4% abaixo do esperado), justamente o maior dos reservatórios, o Castanhão tem somado o melhor dos aportes. Decisão do Conselho de Recursos Hídricos do Ceará (Conerh) foi relevante para isso. Durante toda a quadra chuvosa (até maio), o açude manterá suspenso o fornecimento de sua água para abastecimento da Capital e Região Metropolitana. E a água para irrigação ficou reduzida a 30%. Até nova ordem.

Em Quixadá, na sede do município, só o Pedras Brancas e o Cedro não dariam conta. Desde 1972, Francisco Euclides de Souza, 68 anos, o “Nelzim”, vende água na carroça. Pipa de madeira de 800 litros. O trabalho pesado é da burra Jangada.

A água dos açudes chega suja nas torneiras e seu Nelzim ainda vende bem. Não tanto como antigamente. Eram cinco pipas por dia, hoje sobra. Também já não precisa andar até três léguas com a carroça. Compra três minutos de água na “fonte”. Raimundo Nonato Oliveira vende água cronometrada a vários pipeiros, bombeada de uma cisterna. Nelzim paga R$ 18 por metade da pipa. Vende a lata de 18 litros por R$ 1,50. Mesmo no lucro, torce por chuva: “Se não melhorar, quem vai tomar de conta é Deus”.

Sobre esses dias de fé em São José, o padre Sérgio Tomaz, vice-reitor do Seminário Rainha do Sertão, citou São Paulo: “Que a esperança não nos decepcione”. E suplica: “Que a chuva possa vir não só para os legumes, mas que também possa juntar água”.

 

 

AÇUDES CEARENSES NO VOLUME MORTO

 

– Benguê (Aiuaba)- Broco (Tauá)- Canafístula (Iracema)- Capitão Mor (Boa Viagem)- Castro (Itapiúna)- Cipoada (Morada Nova)- Cupim (Independência)- Figueiredo (Iracema)- Flor do Campo (Novo Oriente)- Forquilha (Forquilha)- Frios (Umirim)- Gerardo Atimbone (Sobral)- Jaburu II (Independência)- Jatobá (Ipueiras)- Jenipapeiro (Baixio)- Joaquim Távora (Jaguaribe)- Junco (Granjeiro)- Macacos (Ibaretama)- Madeiro (Pereiro)- Malcozinhado (Cascavel)- Monsenhor Tabosa (Quixeramobim)- Nova Floresta (Jaguaribe)- Parambu (Parambu)- Patu (Senador Pompeu)- Penedo (Maranguape)- Pesqueiro (Capistrano)- Pirabibu (Quixeramobim)- Poço da Pedra (Campos Sales)- Poço do Barro (Morada Nova)- Pompeu Sobrinho (Choró)- Quincoé (Acopiara)- Realejo (Crateús)- Riacho da Serra (Alto Santo)- Riacho do Sangue (Solonópole)- Rivaldo de Carvalho (catarina)- Santa Maria (Ererê)- Santa Maria de Aracatiaçu (Sobral)- Santo Antônio de Russas (Russas)- São José I (Boa Viagem)- São José II (Piquet Carneiro)- Sítios Novos (Caucaia)- Sousa (Canindé)- Tigre (Solonópole)- Trapiá II (Pedra Branca)- Várzea do Boi (Tauá)Total: 45. Dados até 15 de março de 2018

CLÁUDIO RIBEIRO

Nordeste Notícia
Fonte: O Povo

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