Oito fuzis e 576 kg de maconha foram apreendidos durante a operação policial no Complexo da Penha
Legenda: Oito fuzis e 576 kg de maconha que viriam para o Ceará foram apreendidos durante a operação policial no Complexo da Penha Foto: Divulgação/ PMERJ

Informações sobre a presença de foragidos da Justiça do Ceará no Rio de Janeiro se multiplicaram nos últimos meses. O Estado localizado na Região Sudeste do Brasil, apesar da distância, virou esconderijo para pessoas que cometem crimes no Ceará, principalmente para membros de uma facção carioca – que tem tentáculos em todo o País.

Esse era o objetivo de Igor Belarmino Sousa, preso em flagrante em Salgueiro (Pernambuco), no último sábado (23), com uma passagem de ônibus já comprada para o Rio de Janeiro. Conforme as investigações da Polícia Civil do Ceará (PCCE), ele é membro da facção carioca e suspeito de participar do latrocínio (roubo seguido de morte) que vitimou o cabo da Polícia Militar do Ceará (PMCE) Geldson Coelho de Araújo, no bairro Jardim América, em Fortaleza, no último dia 21 de março.

Quem conseguiu chegar ao Rio, segundo documentos obtidos pelo Diário do Nordeste, foi o suspeito de mandar matar outro policial militar em Fortaleza: um homem conhecido como Luan Marcolino, procurado pela polícia cearense, foi visto no Aeroporto de Fortaleza enquanto embarcava para o outro Estado. Ele é apontado como um dos mandantes do assassinato do soldado Bruno Lopes Marques, no bairro Carlito Pamplona, no dia 12 de fevereiro deste ano.

A polícia cearense também tem informações que Carlos Mateus da Silva Alencar, conhecido como ‘Skidum’, também está escondido no Rio de Janeiro. Ele integra a lista de Mais Procurados da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do Ceará (SSPDS) e é acusado de ser o chefe da facção carioca na região do Pirambu, na capital cearense.

Uma fonte da inteligência da SSPDS afirma que “esses criminosos, escondidos no Rio de Janeiro, conseguem controlar suas ações delituosas no Ceará. Eles ordenam homicídios, disputas de territórios, tráfico de drogas e até de armamento. Recentemente, graças ao trabalho permanente entre as Forças de Segurança cearense e carioca, foram dados grandes prejuízos com apreensões de armamentos e drogas que tinham o Ceará como destino”.

Outra fonte, da inteligência da Polícia Civil do Ceará, corrobora que “os criminosos têm o morro como refúgio. Eles comandam as facções de lá, determinam mortes aqui. Para os comparsas que ficam aqui, é motivo de orgulho que o seu chefe está no Rio, uma lisonja”.

Os dois policiais citam que uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), de fevereiro de 2022, limitou operações policiais em comunidades do Rio de Janeiro durante a pandemia, o que reverbera até hoje e, segundo as fontes, facilita o esconderijo dos foragidos da Justiça.

“Em relação ao Ceará, já havia essa conexão entre foragidos daqui que buscavam se esconder fora. E o RJ já era um destino procurado pelos criminosos, sobretudo aqueles ligados à facção carioca. No entanto, depois dessa manobra do STF, esse ‘refúgio’ passou a ser o paraíso dos criminosos que buscavam impunidade”, diz a fonte da SSPDS.

Segundo a outra fonte, “a Polícia Civil identifica o exato local em que o criminoso se esconde, mas não consegue acessar esse mesmo local, se for num morro do Rio. Sobretudo depois dessas operações policiais em que morreram várias pessoas. Até o STF já disse que essas operações são ilegais”.

Conforme a Organização Não Governamental (ONG) Conectas Direitos Humanos, apesar da proibição do STF, as polícias desobedecem à decisão com frequência. Um exemplo disso, foram as chacinas do Jacarezinho e do Salgueiro, derivadas de operações policiais realizadas em maio e novembro de 2021, respectivamente.

Para a ONG, esses casos não são isolados. A região metropolitana do Rio de Janeiro registrou 61 chacinas em 2021 e as operações policiais foram responsáveis por três a cada quatro ocorrências no período, o que resultou na morte de 195 civis.

Já em 2020, foram 44 chacinas, com 170 mortos, de acordo com dados do Instituto Fogo Cruzado. A organização também cita que outras violações são registradas nestas operações policiais.

FORAGIDOS DO CEARÁ MORTOS NO RIO

A grande apreensão de ilícitos que viriam para o Ceará, a qual a fonte da SSPDS se refere, é a de 576 kg de maconha e de oito fuzis, durante uma ação da Polícia Militar do Rio de Janeiro (PMRJ) no Complexo da Penha, com informações da polícia cearense, no dia 31 de janeiro deste ano. A operação também resultou na morte de Fábio de Almeida Maia, o ‘Biu’, que era foragido da Justiça do Ceará.

A morte de ‘Biu’ levou a facção carioca a decretar três dias de luto na região do Grande Pirambu, em Fortaleza, e a ameaçar comerciantes que abrissem os estabelecimentos comerciais ou moradores que fizessem qualquer tipo de festa. Ele era comparsa de ‘Skidum’ e estaria junto dele, no Rio de Janeiro. Mas o outro homem não foi localizado na operação.

Outro foragido da Justiça do Ceará, que constava na lista de Mais Procurados da SSPDS, também foi morto em uma ação policial no Rio de Janeiro. Alban Darlan Batista Guerra chefiava uma dissidência da facção carioca em Caucaia, na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), quando morreu em um confronto com a Polícia Civil no Rio, em julho de 2020.

 

 

Diário do Nordeste

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