A temporada começou um mês atrás para o Grêmio. Mas pouco mais de 30 dias depois, já há mais uma taça no armário do clube gaúcho. As conquistas têm sido rotina desde a chegada de Renato Gaúcho – são três desde setembro de 2016. A da madrugada desta quinta-feira veio nos pênaltis, com sofrimento, e ganha espaço especial na prateleira. O bicampeonato na Recopa, em plena Arena, após o empate em 0 a 0 com o Independiente no tempo normal e posterior vitória nos pênaltis, se constituiu passo a passo em uma conquista com ares épicos.
Não especificamente pela dificuldade da competição em si – embora tenham sido dois jogos difíceis para o Tricolor. Mas uma série de fatores agregados deu uma dimensão mais pesada para a nova conquista no museu gremista. E no duelo entre dois clubes apelidados de “reis de Copas”, quem se deu melhor foi o Tricolor.
Confira abaixo destaques da conquista da Recopa:
- Clima de guerra
O estádio não esteve na lotação máxima – recebeu mais de 42 mil pessoas -, mas a presença de bom público deu o fator local que o Grêmio precisava. Por outro lado, talvez o maior montante de visitantes desde a inauguração da Arena, com cerca de 4 mil argentinos. A Conmebol vetou materiais como bandeiras e barras nas torcidas. Dentro de campo, muita tensão. Os jogadores disputavam cada lance com intensidade de uma guerra. Muitas discussões, catimbas e até certo antijogo por parte dos gringos.
Outro ponto a valorizar o espetáculo: o árbitro de vídeo foi novamente utilizado. Foi assim que o zagueiro venezuelano Amorebieta foi expulso após deixar o pé nas costelas de Luan. O lance gerou indignação por parte dos argentinos, que deixaram o campo para o intervalo exercendo pressão na arbitragem no túnel (veja acima). Houve, também, pressão junto aos representantes da Conmebol de dirigentes do Independiente.
- Junção de forças contra o “bruxo”
Título garantido, a hora de algumas provocações poderia ocorrer. Logo após a taça ser confirmada a partir da defesa de Marcelo Grohe, o segurança Fernandão não parava de gritar em alto e bom som na zona mista da Arena:
– Onde está o tal bruxo deles? Bruxo sou eu!
Levado pelo clube argentino, o bruxo Manuel acompanhou a disputa de pênaltis na zona mista, irriquieto. Ele esteve presente na conquista da Sul-Americana e também com a Argentina no jogo que garantiu a classificação para a Copa do Mundo. Antes de iniciar a partida, infestou o local com ervas para purificar o vestiário, mas não deu certo.
– O Renato falou que se todo time levasse um bruxo, ia dar sempre empate. Isso não ganha jogo. O que ganha jogo é trabalho – apontou Maicon.
Tranquilidade para o Gauchão
Espontaneamente, em diversos momentos, integrantes da diretoria, comissão técnica e elenco citavam o Campeonato Gaúcho. A lanterna na competição incomoda. E o título da Recopa vem para dar mais tranquilidade e crédito a um trabalho vencedor no Grêmio. No sábado, um time reserva deve ser levado a campo contra o Novo Hamburgo, até pela proximidade com a estreia na Libertadores, na terça, contra o Defensor. A magnitude da conquista dá também mais confiança na briga não só contra o rebaixamento, mas também pela classificação no Estadual.
– Nós estamos comemorando um título, mas não pensem que esquecemos os compromissos pela frente. É uma semana importante, termina na terça, com três decisões. O jogo no Uruguai não é decisivo, mas se tu começa bem, vai. O contexto pra nós é festejar hoje, nos alegrar, mas amanhã a preparação se volta pro Gaúcho, para o jogo de sábado, e depois o de terça no Uruguai – afirmou o presidente Romildo Bolzan.
- Mais um capítulo para Grohe
Logo após o título, Renato reconheceu o crédito a quem merecia. Deu um beijo na cabeça do goleiro Marcelo Grohe. O último lance decisivo para a conquista da taça passou pelas mãos do camisa 1. Fez um jogo controlado, sem grandes destaques – até porque o Independiente chegou uma ou outra vez na área do Grêmio.
Agigantou-se mesmo quando mais precisou: no derradeiro pênalti. Escreveu mais um capítulo na história de 18 anos no Tricolor e hoje é um dos maiores da posição na história gremista. Quem diria, para quem já passou por muitas dificuldades na equipe do coração.
- Nos pênaltis, sim!
Depois dos quinze anos sem conquistar e do Tri da América, a conquista da Recopa vem para quebrar um outro paradigma. No ano passado, o Grêmio foi eliminado para o Cruzeiro na Copa do Brasil e no Gauchão, para o Novo Hamburgo, nas penalidades. Desta vez, o paradigma negativo foi rasgado. Luan, tão cobrado pela torcida por desperdiçar pênaltis, desta vez se incumbiu de dar o título ao Tricolor ao converter o quinto gol.
– Foi tranquilo. A hora que acabou o jogo ali, o Renato disse que eu bateria o quinto. Eu fiquei tranquilo e falei: pode me colocar para chutar. Vou cobrar do jeito que acho que tenho que bater – comentou um sorridente Luan.
- Aos olhos de Tite
O treinador da seleção brasileira acompanhou in loco a partida, dentro do cronograma de observações de jogadores. Não pôde assistir Arthur, mas esteve em campo para ver os possíveis convocáveis Marcelo Grohe, Pedro Geromel e Luan. Os dois primeiros, especialmente, em noite destacada. Os quatro brigam por uma vaga na Copa do Mundo da Rússia e puderam usar a decisão como “poder de convencimento” para Tite.
– Um título é sempre bom, sempre valoriza. A gente fala que todo jogador, quando ganha título, é mais valorizado. Com a gente não é diferente. Com certeza, com os títulos, estamos sendo mais olhados – apontou Luan.
- Volta olímpica internacional na Arena
O estádio gremista, desde sua inauguração, em 2012, já viu títulos da Copa do Brasil, Libertadores e agora Recopa. Mas a partida decisiva do Tri foi na Argentina. A conquista desta quarta-feira foi o primeiro título internacional decidido de fato na casa do Grêmio. Um elemento ainda maior para o êxtase da festa, que embalou os gremistas. Kannemann voltou a sambar no vestiário, algo que já tinha ocorrido na Copa do Brasil. Deixou o gramado de cueca após assédio da torcida.
Fonte: Globoesporte.com