O uso do recurso do árbitro de vídeo no futebol brasileiro ganhou coro em setembro, após Marco Polo Del Nero, presidente da CBF, determinar a utilização a partir da 25ª rodada do Brasileirão. A proposta não entrou em vigor, mas volta à pauta no Rio de Janeiro. Nesta quinta-feira, às 15h (de Brasília), a Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) vota projeto de lei do deputado Samuel Malafaia (DEM), que determina que todas as partidas de futebol profissional do estado tenham o recurso.
– O tênis e o voleibol já dispõem de câmeras especiais que tiram dúvidas em casos de lances duvidosos, permitindo que nenhuma equipe seja prejudicada. Gols e lances, duvidosos ou ilegais, não são novidades no futebol brasileiro o uso desse recurso poderá sanar diversas dúvidas sobre falhas da arbitragem – destacou o deputado.
Com a polêmica acerca do tema, levando em consideração o tempo para execução e o alto custo, os ex-árbitros Arnaldo Cezar Coelho e Leonardo Gaciba e atualmente, comentaristas de arbitragem da TV Globo, e Marcelo Vianna, diretor de competições da Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro (Ferj).
ARNALDO CEZAR COELHO
comentarista de arbitragem da TV Globo
“Primeiro, o deputado tem outras coisas bem mais importantes do que fazer um decreto para exigir árbitro de vídeo no futebol do Rio de Janeiro. É um custo altíssimo, tem que haver uma certa preparação. O deputado tinha que se orientar, se informar antes de tentar passar isso. Acho que a Câmara dos Deputados não vai aprovar isso, vai ter bom senso para não aprovar isso.
O tempo necessário não é muito longo, mas os equipamentos necessários para que haja árbitro de vídeo são muito caros. Os clubes não têm condição para arcar com essas despesas todas. Por isso acho que não vai vingar, é meio absurdo a Câmara se envolver nesse assunto.
O Campeonato de vôlei estadual não tem esse equipamento, o de basquete também não tem esse equipamento todo. Esses não são exemplos bons que ele está dando.”
LEONARDO GACIBA
comentarista de arbitragem da TV Globo
“Tem que ver se isso é constitucional, se ele pode impor a uma entidade como a CBF que tenha árbitro de vídeo. E ainda tem que ver se existem profissionais capacitados, porque hoje não existem. É complicado falar sobre isso. Sinceramente, acima de tudo, as pessoas, quando participarem de processos desses, precisam saber como tudo isso funciona. É a mesma coisa que eu votar que o salário mínimo tem que ser de R$ 5 mil. Eu posso votar e virar uma lei, mas não tem como pagar. Fazer uma lei que não tem como cumprir me parece um pouco de perda de tempo. Não existe, hoje, como cumprir a lei.
Pelo que conversei com o pessoal, eles pretendem colocar na 28ª rodada, mas sabemos que assim mesmo a preparação não vai ser ideal. O que o deputado está fazendo é exatamento o que o presidente da CBF fez, “eu quero na rodada que vem”. Não tem como, não existe possibilidade. São problemas técnicos, não tem como colocar no ar o árbitro de vídeo. Eles estão trabalhando para fazer o mais rápido possível, foi uma ordem do presidente (da CBF).
Será que o deputado tem noção do custo que isso gera? Tem que ver com ele se ele tem noção. É a Câmara dos Deputados que vai pagar o projeto? É o mesmo que eu fazer uma lei e mandar que a partir de agora na empresa todo mundo tem que andar em carro 0km. Como vou fazer isso sem saber se minha empresa tem dinheiro para isso (risos)?”
MARCELO VIANNA
diretor de competições da Ferj
“Estamos vendo com muita preocupação. Não que a gente acredite que não tenha que ter o árbitro de vídeo. A gente acha que tem que ter, mas não é simplesmente obrigar a colocar, precisa implementar todo um sistema para que a gente possa ter o árbitro de vídeo. Esperamos que lá na Alerj eles tenham esse entendimento e que seja uma coisa que a Ferj e todo o Brasil tenha que utilizar, mas tenha um tempo para isso.
O principal é o custo financeiro, e o momento de todos, ou pelo menos da maioria, não permite que todos esse problemas sejam solucionados de uma maneira rápida. Falta o lado financeiro e o lado técnico, montar equipamentos em todos os estádios. Não pode ser em estádios pontuais, penso eu, tem que abranger todos os clubes.
Precisamos de um tempo, não pode ser no próximo campeonato, por exemplo. (180 dias) é quase nada, isso precisa ser pelo menos para o campeonato de 2019.”
Fonte: Globoesporte.com