Medo e temor por uma tragédia. Sentimentos de quem vivenciou a invasão ao CT da Barra Funda, local de treinos do São Paulo, no último sábado (veja o vídeo acima com o passo a passo). Centenas de torcedores arrombaram o portão automático, danificado depois da invasão, entraram no campo e interromperam o treino dado pelo técnico Ricardo Gomes.
Os jogadores estavam no gramado. Carlinhos, Wesley e Michel Bastos sofreram agressões, entre muitas intimidações. Camisas, bolas e garrafas foram roubadas. Atletas ouviram ameaças por um possível rebaixamento: “Se cair para a segunda divisão, vocês estão fu…”. O Tricolor é o 11º colocado do Brasileirão, com quatro pontos acima do Vitória, 17º lugar, primeiro dentro do Z-4, e enfrenta o Coritiba neste domingo, no Morumbi.
Porte de arma
Quatro pessoas relataram que viram ao menos um torcedor com uma arma na cintura durante a invasão. O clube contratou seguranças particulares para reforçar o efetivo, insuficiente para conter as centenas de invasores. Também pediu por e-mail reforço na segurança do local ao Choque da Polícia Militar na última sexta-feira, véspera do protesto.
Algumas viaturas estavam no local. Funcionários foram ameaçados e hostilizados ao tentar impedir a passagem dos torcedores por locais que poderiam comprometer a integridade física de todos. O Tricolor tem imagens de toda invasão.
Ameaça de mais terror
Os jogadores do São Paulo foram ameaçados. A promessa é de que se os resultados não mudarem nos próximos três jogos a vida deles será transformada em um inferno. Torcedores disseram que sabem onde os atletas moram. Jogadores foram obrigados a entregar as camisas de treino. No total, dez foram levadas. Também houve relatos de que alguns invasores estavam claramente drogados e bêbados.
Vídeo da discórdia
A torcida Independente publicou nos últimos dias que invadiria o CT nas redes sociais. São-paulinos comuns e da organizada Dragões da Real também entraram no local. Em um vídeo gravado no Rio de Janeiro durante a semana, o ator Henri Castelli convocou os torcedores para participarem do protesto.
“Se essa diretoria de vagabundo não reage, a gente vai reagir, a torcida do São Paulo. Quem é torcedor de verdade, que está com a gente… vamos dar a resposta para eles. Dizer que aqui tem voz. (…) Sábado eu vou estar com a torcida do São Paulo na porta do CT da Barra Funda, às 10h da manhã, para a gente cobrar o que é nosso”.
Funcionários, membros da comissão técnica e dirigentes do Tricolor ficaram indignados com o vídeo depois da invasão. Acreditam que serviu para incitar a violência, vinda de uma pessoa pública.
– Lá do Rio gravar o vídeo é fácil. Quero ver falar aqui na frente – reclamou um funcionário.
Onde estão Gustavo e Leco?
O presidente Carlos Augusto de Barros e Silva, o Leco, e o diretor-executivo Gustavo Vieira de Oliveira foram os principais alvos da torcida entre os dirigentes. Leco, no entanto, estava em Cotia para a inauguração de um busto em homenagem ao ex-presidente falecido Juvenal Juvêncio. O evento aconteceria na semana da assembleia de sócios sobre o estatuto e foi adiado para o último sábado, marcado previamente ao anúncio do protesto. Ao tomar conhecimento da invasão, o mandatário e outros diretores foram para o CT e entraram quando houve viabilidade.
Gustavo, por sua vez, não foi encontrado no campo na hora da invasão, mas estava no CT. Funcionários disseram que o dirigente correria sérios riscos, caso estivesse no gramado. Houve relatos de que ele ficou na parte interna.
Lugano idolatrado
Em meio à tensão, ameaça e cobrança da torcida, Diego Lugano teve nova prova do seu status de ídolo. O uruguaio foi ovacionado pelos invasores e até ajudou a apaziguar uma briga maior quando policiais militares usaram força para afastar torcedores que estavam próximos ao zagueiro. Ele e Maicon também foram até a porta do CT para conversar com os são-paulinos, após os ânimos se acalmarem. O defensor tirou inúmeras selfies.
João Schmidt salvador
Carlinhos foi agredido na invasão, mas a situação do lateral poderia ter sido pior, não fosse a coragem de João Schmidt em ajudá-lo a sair da confusão para levá-lo aos vestiários do CT.
“E se usam uma faca?”
A perplexidade com a situação deixou alguns funcionários do São Paulo com medo. Um indagou:
– E se entram aqui e dão uma facada em alguém?
Cenas inéditas e Ricardo Gomes poupado
Profissionais do São Paulo com anos de experiência no futebol relataram nunca ter vivenciado nada parecido com a invasão do último sábado no CT. Dentro do campo, torcedores abordaram Ricardo Gomes e o pouparam de críticas. Disseram ao comandante que ele assumiu uma “bucha”. A promessa foi de reverter a má fase dentro de campo.
Rompimento sem volta
A invasão das organizadas ao CT deu a dirigentes do São Paulo a certeza de que o rompimento anunciado em julho foi a atitude correta. No início do ano, o presidente Leco chegou a admitir que financiava as torcidas e citou medo por parte dos jogadores.
Respeito a história
Torcedores abordaram jogadores, sendo que alguns ouviram gritos para “sair do instagram”, e membros da comissão técnica durante a invasão. Em dado momento, um deles arrancou o boné da cabeça de Pintado, auxiliar técnico e ídolo do clube. Prontamente foi repreendido por outro torcedor, levou um tapa na cabeça e devolveu o boné ao ex-jogador.
Sem rescisão
Michel Bastos e Wesley, os mais cobrados e agredidos durante a invasão, não cogitam no momento rescindir seus contratos com o São Paulo, de acordo com pessoas próximas aos jogadores. Apesar da pressão e das ameaças, eles estavam bem após o episódio. O volante tem vínculo até dezembro de 2018, e o meia até o fim de 2017.
Fonte: Globoesporte.com