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Além de desenvolver as habilidades de cada integrante, a educação musical sequenciada pela participação na banda, favorece o entrosamento e o relaxamento dos alunos, diante da rotina estafante do tempo integral

Ipueiras. O estudante Marcos Paulo Pereira Feitosa, 19, morador deste Município, no pé da Serra da Ibiapaba, Norte do Ceará, acredita que o mercado de trabalho, em diversas áreas, tem estado cada vez mais restrito para jovens como ele, que moram em pequenas cidades.

Pensando nisso, e num futuro profissional mais abrangente, resolveu buscar uma educação que ele acredita ser diferenciada, ao se matricular no curso de técnico em edificações na Escola Estadual de Educação Profissionalizante Dário Catunda Fontenele, inaugurada em 2012, na sede de Ipueiras.

Mas o rapaz não imaginava que, entre os horários corridos de intensa dedicação ao curso, fosse capaz de realizar um sonho antigo, um desejo que o acompanhava desde a adolescência: soltar a voz e levar emoção às pessoas por meio da música.

Estudo e diversão

Há três anos, Marcos tem aproveitado o horário de recreação para exercitar a paixão pelo canto. O jovem é vocalista de uma banda musical formada por outros estudantes como ele. “Eu não imaginava que pudesse participar de um grupo musical dentro da escola. O problema é que estou no último ano do curso e, com certeza, deverei deixar o grupo em breve. Mas as amizades que fiz aqui serão para a vida toda”, garantiu.

Assim como Marcos Paulo, a estudante Maria Tharrenia Pereira, 16, é outra apaixonada por música. A jovem já fazia parte de um coral quando começou a estudar edificações e não pensou duas vezes ao se candidatar à vaga de backing vocal do grupo.

“Eu gosto de estar com eles, pois me sinto à vontade quando estamos ensaiando ou durante as apresentações. É um momento de interação com pessoas de outros cursos, onde a gente esquece um pouco a sala de aula e foca num trabalho que exige dedicação, mas que ao mesmo tempo é feito de uma maneira leve”, afirmou.

O grupo segue se renovando e já faz sucesso até em outros municípios ( Fotos: Marcelino Júnior )
O grupo segue se renovando e já faz sucesso até em outros municípios ( Fotos: Marcelino Júnior )

Criada no mesmo ano em que a escola profissionalizante foi inaugurada, a Dari Samba, com 32 integrantes e um repertório eclético, que mistura samba de raiz com as novidades do pagode e outros estilos, surgiu como resultado das diversas práticas da disciplina de Arte/Educação, tendo como base o importante papel social que a música possui em qualquer meio cultural.

O projeto segue o que preconiza a Lei Nº 11.769, aprovada em agosto de 2008, que colocou a música como disciplina obrigatória na grade curricular dos ensinos Fundamental e Médio, almejando uma formação mais humanística dos estudantes, quando são desenvolvidas habilidades motoras, de concentração e a capacidade de trabalhar em grupo, de ouvir e respeitar a opinião do outro.

Ao som da percussão, do pandeiro, do baixo, violão, cavaquinho, flauta transversa e trompete, entre outros instrumentos, e com a participação de um grupo de dança, que dá mais vigor às apresentações, a Dari Samba continua atraindo a atenção dos jovens, que chegam cada vez mais cedo a fazer parte do grupo. A ideia é aproveitar características artísticas, ou habilidades que os estudantes tenham para que sejam trabalhadas durante as aulas.

Hoje, muitos dos alunos são donos de seus próprios instrumentos, ou a escola os adquire, por meio de doação. A dedicação, durante os ensaios, já os levou a lugares além dos muros da escola, como apresentações em municípios próximos e boas colocações em festivais musicais na região.

De acordo com Antônio Uérique Barbosa, um dos três professores da banda e idealizador do projeto, a banda está sempre se renovando. “No ano que vem vamos receber uns 400 novos alunos aqui na escola e novamente estaremos fazendo esse trabalho de busca por talentos. É importante ressaltar que, para permanecer no grupo, todos têm que apresentar boas notas, e a Dari Samba tem sido uma boa base na vida desse meninos e meninas que por aqui passam. Um dos maiores problemas que enfrentávamos, em alguns casos, era o uso de cigarro e álcool, entre eles, mas que aos poucos vamos ajudando a solucionar com a energia toda voltada à música. A banda está transformando a vida dessas pessoas”, afirmou o professor.

Tempo integral

Cerca de 80% dos alunos da Escola Profissionalizante Dário Catunda Fontenele são moradores dos distritos ou localidades distantes, o que torna a rotina deles bem mais puxada ainda.

O ensino de tempo integral, iniciado às 7h20, segue com parada para o primeiro lanche às 9h e almoço às 11h50, com pausa para descanso até às 13h20, quando recomeçam as aulas; às 15h, os alunos têm mais um intervalo para o lanche da tarde, e depois retornam à sala de aula, com saída às 17h.

O coordenador pedagógico da escola, Guy Bravos Monteiro Júnior, reconhece que a banda representa um estímulo, por conta do que fazer nos horários de lazer, onde a ociosidade muitas vezes toma conta de um ou outro estudante.

“Esse jovens não têm muitos atrativos nas próprias localidades isoladas onde eles moram, e já vêm para a escola em busca de algo diferente, que canalize a energia deles; mas o dia a dia é intenso, diferentemente do que é aplicado no ensino regular, o que pode causar estranhamento no início. Tivemos casos de gente que quis desistir dos estudos por conta desse ritmo diferenciado, mas o trabalho realizado aqui veio integrar mais a todos. Hoje a Banda é um sucesso consolidado”, completou Antônio Uérique.

Enquete

Por que você decidiu entrar na banda?

“Eu sempre me identifiquei com a dança e me sinto muito bem com o pessoal da banda. Meu curso é Finanças e exige muito cálculo. Movimentar o corpo nas horas de lazer distrai e ajuda manter o equilíbrio”

Maria Beatriz Araújo – Dançarina

“Eu amo cantar de tudo um pouco. Aqui consegui meu espaço. No grupo, temos muita amizade. Quando alguém tem um problema, entre um ensaio e outro, a gente conversa e parece que fica mais fácil de resolver”

Francisca Fabrina Alves da Rocha – Vocalista

Nordeste Notícia
Fonte: Diário do Nordeste

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