Moradores de Coreaú, na região Norte do Ceará, foram surpreendidos por uma chuva com queda de granizo durante a tarde dessa terça-feira (26), quando também foram registrados ventos fortes e até queda de árvores. O fenômeno está ligado a um tipo específico de nuvem com grandes proporções e, normalmente, acontece na transição entre o período mais quente e o início das chuvas.
A Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme) informou que a queda de granizo se deve às nuvens do tipo Cumulonimbus (CBs) no noroeste do Ceará, compreendendo as regiões do Litoral Norte e da Ibiapaba, entre 15h e 16h30 do dia.
Essas nuvens são de grandes dimensões e estão associadas à ocorrência de chuvas mais fortes, com possibilidade de rajadas de vento, raios e queda de granizo, como aconteceu no município cearense.
“As CBs são formadas quando a atmosfera local apresenta fatores como a umidade e temperatura do ar mais elevadas, além de condições de relevo. No caso do cenário mais recente no Estado, a presença de áreas de instabilidade atmosférica observadas sobre o norte do Nordeste foram determinantes”, informou a Funceme por meio de nota.
Foi identificada a circulação de baixa pressão em altos níveis, conhecida como Vórtice Ciclônico de Altos Níveis (VCAN), com o centro posicionado sobre áreas do Maranhão, Piauí e Tocantins. Com isso, a borda dessa circulação que estava posicionada sobre o noroeste do Ceará favoreceu a formação das Cumulonimbus.
O comerciante Wendson Portela, de 30 anos, mora em Coreaú e viu o fenômeno pela primeira vez. “Por volta de 15h começou uma ventania muito forte e depois veio uma chuva também forte, com granizo, pedras de gelo. Árvores caíram, postes foram derrubados e telhados levados. Foi assustador”, define sobre o momento.
Em diálogo com os vizinhos, Wendson acrescenta que “nem os mais velhos que aqui residem também nunca tinham visto”, completa.
DINÂMICA DAS NUVENS
Morgana Almeida, meteorologista no Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), explica que é preciso entender as condições do tempo numa escala maior para entender a chuva com granizo.
“Ontem estávamos com um Vórtice Ciclônico de Altos Níveis, que é um sistema meteorológico, com uma circulação no mesmo sentido dos ponteiros do relógio, que consegue levar a umidade das baixas para as altas camadas e forma nas bordas essas nuvens muito extensas”, detalha a especialista.
Esse sistema é tão curioso que, no centro dele, pode ter regiões mais quentes e ensolaradas, enquanto as bordas registram situação parecida com a de Coreaú. No Piauí, inclusive, também houve registro de granizo nesta terça-feira (26). Mas, afinal, como se formam essas pedras de gelo?
“Dentro dessas nuvens, os movimentos de subida e descida são muito intensos e com os resfriamento rápido acontece a formação do granizo, que é a água em estado sólido”, acrescenta Morgana. Com o peso, as pedras de gelo soltam das nuvens e caem. Isso, na verdade, não é um fenômeno raro.
Esse sistema é típico do verão e não é raro chover granito no sertão nessas primeiras chuvas, quando a atmosfera ainda está muito quente, como uma panela de pressão. Quando entra um pouco de umidade rompe esse limite
MORGANA ALMEIDAMeteorologista no Inmet
O acompanhamento feito pelo Inmet também aponta um início de 2024 chuvoso entre os estados nordestinos. “Na primeira quinzena de janeiro estamos esperando uma mudança nas condições de tempo e é esperada chuva nos primeiros 15 dias em toda a região Nordeste”, adianta ao Diário do Nordeste.
PREVISÃO DO TEMPO
A Fundação publicou um aviso sobre o risco potencial de chuvas intensas no Estado entre terça (26) e esta quarta-feira (27), o qual inclui a área de Acaraú. Cariri, Centro Sul e parte do Sertão de Crateús também estão na área possivelmente afetada.
Em Coreaú choveu 36 milímetros entre às 7h da terça e 7h desta quarta – apesar de ser uma baixa quantidade, foi o maior acumulado do Estado no período.
Ainda nesta quarta-feira (27), no período da tarde e da noite, há alta possibilidade de chuva isolada no Litoral Norte, na Ibiapaba e no Sertão Central e Inhamuns, conforme a previsão do tempo elaborada pela Funceme.
Para a quinta (28), a Fundação prevê céu variando de parcialmente nublado a poucas nuvens em todas as macrorregiões com alta possibilidade de chuva isolada na faixa litorânea e na Ibiapaba.
Por fim, para a sexta-feira (29), o céu deve variar de parcialmente nublado a poucas nuvens em todas as macrorregiões com baixa possibilidade de chuva isolada na faixa litorânea.
Imagens de satélite mostram nuvens sobre todo o Ceará e, no momento, são observadas chuvas isoladas sobre áreas do Litoral de Fortaleza. As chuvas previstas são por causa da formação de áreas de instabilidade sobre o norte do Nordeste do Brasil (NEB).
Em relação às temperaturas, as macrorregiões do Litoral Norte, Ibiapaba, Cariri e Jaguaribana podem variar de 35 a 40°C. As mínimas, entre 22 a 26°C, devem acontecer no interior do Estado. Em Fortaleza, mínimas de 26°C e máximas de 33°C.
Diário do Nordeste