Uma operação que visava coibir o tráfico de mulheres brasileiras para a Europa, deflagrada ontem, pela Polícia Federal (PF) culminou na prisão de dois empresários de agências de turismo localizadas em Fortaleza e outras 13 pessoas envolvidas com o aliciamento das vítimas. O grupo criminoso internacional desarticulado pela ‘Operação Marguerita’ nasceu em Fortaleza, mas já tinha ramificações na Bahia, Minas Gerais e São Paulo. Durante a noite de ontem, vítimas que eram exploradas na Eslovênia foram resgatadas pelas autoridades locais.
As investigações, iniciadas em 2013, identificaram o esquema que existe desde 2010, conforme a delegada Juliana Pacheco, da Delegacia de Defesa Institucional (Delinst). O número de mulheres enviadas para a Europa ainda não é preciso. Elas eram submetidas a 10, 12 horas de exploração sexual diária. Precisavam cumprir a meta de, no mínimo, seis atendimentos por dia ou eram ameaçadas pelos estrangeiros que as mantinham em casas de prostituição com a liberdade cerceada.
O esquema nasceu no Ceará e partiu de um esloveno, que é um dos presos. “Ele veio para o Brasil fazer uma visita e acabou vindo tanto que decidiu morar. Era amigo de um outro esloveno que tem uma boate em Nova Gorica, na Eslovênia, chamada Marguerita, que era o principal destino dessas mulheres”, afirmou.
Para conseguir o visto de permanência aqui, o estrangeiro se dizia empresário no ramo de sorvete e de energia, mas conforme Juliana Pacheco as empresas eram de fachada.
A teia montada por ele foi aumentando com o tempo. Mulheres que eram aliciadas passaram a ser aliciadoras, motoristas que faziam o translados até aeroportos e hoteis e pessoas que faziam o acolhimento das vítimas foram incluídas no esquema. Foi então que os empresários também passaram a fazer parte do grupo, conforme a delegada federal que presidiu as investigações.
“Eles ofereciam passagens mais baratas, cartas-convites e algumas vezes até davam as passagens para que essas mulheres embarcassem. Quando elas já estavam lá e começavam a ser exploradas, a pessoa que recebia o dinheiro delas lá mandava de volta para os donos das agências. Essas empresas são legais, grandes e atendem pessoas que não têm nada a ver com prostituição também”, explicou.
Lucros
A delegada disse que transações de até um milhão de reais foram identificadas entre os operadores do esquema. Todas as mulheres usadas pelo grupo criminoso já atuavam com prostituição em Fortaleza, conforme a titular da Delinst.
Durante as apurações, a Polícia Federal identificou uma tentativa de aliciamento de uma adolescente de 14 anos. Porém, ela foi a única que fugia do perfil das demais, que tinham entre 18 e 30 anos.
A delegada afirma que as vítimas eram mantidas em condições degradantes, de extrema vulnerabilidade. “Tinham uma liberdade limitada. Em determinado horários tinham que ficar restritas. Se elas quisessem voltar para casa não podiam, porque tinham que fazer programa por até 12 horas para que eles obtivessem o lucro deles”, explica Juliana.
Conforme a Polícia Federal, as mulheres recebiam cerca de 200 euros por noite. Porém, 50% do apurado ficava com os organizadores da exploração sexual. Parte do dinheiro ficava com os donos das boates eslovenas e outra parte era enviada para o Fortaleza, onde ficavam os donos de agências que recrutavam as vítimas. Além de precisarem obter o lucro para divisão com os agenciadores, as mulheres tinham que conseguir dinheiro para o pagamento de despesas como alimentação e moradia, em torno de 480 dólares.
Nordeste Notícia
Fonte: Diário do Nordeste/Márcia feitosa/Felipe Lima