Em seguida, a parte do corpo do primeiro imperador do País será levado para o Palácio do Itamaraty, também na Capital, onde fica em exibição até as comemorações do bicentenário. O retorno do coração à cidade portuguesa está previsto para o dia seguinte a data, 8 de setembro.
“O coração do nosso D. Pedro será recebido com honras de chefe de Estado, com salvas de canhão e escoltado pelos Dragões da Independência, ficará fora cerca de 20 dias, mas vai regressar com mais reconhecimento e admiração por parte do povo brasileiro”, disse o presidente da Câmara Municipal do Porto, Rui Moreira.
Segundo informações da agência francesa RFI, as negociações para o empréstimo do órgão duraram cerca de quatro meses e envolveram o governo português, a Câmara do Porto e representantes da entidade religiosa que guarda a relíquia, Irmandade da Lapa.
O sinal positivo para o transporte do coração só aconteceu após uma equipe de peritos avaliar as condições do órgão e garantir que não haveria riscos. Os especialistas exigiram que o translado seja em um ambiente pressurizado. Rui Moreira viajará acompanhando o elemento, mas todos os custos e medidas de segurança são responsabilidade do Brasil.
CIENTISTA CRITICA EMPRÉSTIMO
Intelectuais dos dois países se manifestaram contra o transporte do órgão, desde que o pedido foi divulgado. A arqueóloga e historiadora brasileira Valdirene Ambiel acredita que o episódio é um desrespeito à memória de D. Pedro I e pode ser instrumentalizada como propaganda política.
“Em 1972 foi quando o corpo de D. Pedro foi trasladado para o Brasil, lamentavelmente foi usado de maneira política, durante o regime militar”, relembrou à RFI.
“O bicentenário é um evento muito importante, mas, acima de tudo, nós brasileiros temos que nos preocupar com a reflexão sobre a nossa independência. Não que a figura de D. Pedro tenha que ser esquecida, jamais, nem a importância dele para esse país”, completou.
Para a especialista, além de um “desrespeito à dignidade” de D. Pedro I, o pedido do coração é um gasto de dinheiro público desnecessário.
“Eu, como cidadã brasileira, no momento complicado do nosso país, inclusive para nós da área científica, que temos cortes muito grandes de pesquisa há muitos anos, não vejo razão para que haja gasto de dinheiro público com esse transporte. Acredito que se nós tivéssemos mais investimento não apenas na ciência, mas principalmente na educação de base, seria fundamental e inclusive uma homenagem a D. Pedro, que foi quem reconheceu a profissão e professor nesse país”.
EXIBIÇÃO INÉDIA EM PORTO
O empréstimo da relíquia também proporcionará a exposição inédita do órgão à população de Porto. Neste fim de semana, que precede o transporte ao Brasil, o órgão, que fica armazenado em um vaso de vidro com formol, numa urna trancada por cinco chaves, dentro de um cofre, na Igreja da Lapa, será disponibilizado ao público pela primeira vez.
DN