A fábrica de calçados Democrata, de Santa Quitéria, no interior do Ceará, uma das principais empresas contratantes da região, demitiu mais de mil funcionários nesta semana e suspendeu as atividades, sem previsão de retorno. A decisão foi tomada em meio à crise causada pela pandemia do novo coronavírus que afetou setores da economia, e confirmada pelo advogado da empresa, Adenauer Moreira, nesta quinta-feira (2). Com cerca de 90% do quadro dispensado, a fábrica não fechou as portas, mas teve todos os pedidos cancelados.
Foram mantidos somente funcionários que possuem estabilidade, como grávidas, membros da Comissão Interna de Prevenção de Acidente (Cipa) e sindicalistas. Segundo o advogado, Moreira, a fábrica possui “muito” estoque e não pretende fechar.
“Não vamos fechar a fábrica, vamos ter que achar uma solução”, sustentou.
O cenário pode se repetir em breve na filial da empresa, localizada em Camocim, casos os pedidos também sejam cancelados. Lá, os funconários estão em férias coletivas até o próximo dia 13 de abril. Originária da cidade de Franca, em São Paulo, a empresa iniciou suas atividades no Ceará no ano de 1997, em Camocim.
Apesar de drástica, para o advogado, a medida foi a solução encontrada para manter o pagamento rescisório dos empregados. “Essa demissão só tem uma finalidade, resguardar os direitos dos trabalhadores nesse período muito delicado”, salientou.
PROPOSTA DO SINDICATO
Clertiano da Silva, contratado há cerca de quatro anos, é um dos empregados com garantia. Supervisor da fábrica e diretor sindical, diz que foram propostas pelo menos duas alternativas à empresa para evitar a demissão em massa.
Uma delas era determinar férias coletivas de dois meses, com pagamento de salário e pagamento parcelado em até 15 vezes das férias, ou a redução da carga horária com redução salarial. No entanto, a empresa não acatou as propostas.
“Nesse momento de incerteza, a diretoria da empresa optou por pagar todos os direitos, absolutamente tudo. Porque tem histórico no interior do Estado do Ceará de outras empresas que quando têm crise como essa somem e não pagam o direito de ninguém, deixa todo mundo empenhado”, argumentou Moreira, representante jurídico da Democrata.
RECONTRATAÇÃO
Segundo o diretor sindical Clertiano da Silva, a fábrica investiu recentemente cerca de R$ 1 milhão em máquinas, que estão paradas. Por isso, ele acredita que haverá recontratação do quadro de funcionários dispensado tão logo o cenário econômico do País melhore, com o fim da crise na saúde.
A empresa de calçados é um importante motor para a economia da região, empregando não só a população local, mas de municípios vizinhos, como Santa Quitéria, Catunda, Hidrolândia e Varjota, lembrou o diretor sindical.
“O comércio local e o município em si perdem muito. Nossa folha de pagamento é em torno de R$ 1,5 milhão. Perde o município, perde o comércio e principalmente o trabalhador. É uma fonte de renda pra região local”, reforçou.
O advogado da empresa, Adenauer Moreira, confirma que há interesse em retomar os contratos, mas não há previsão.
“Na hora que a economia conseguir retornar a uma normalidade, nós com certeza vamos voltar a produzir e voltar a contratar as pessoas”, frisou.
Nordeste Notícia
Fonte: Diário do Nordeste