Criminosos realizaram uma série de ataques contra veículos entre a noite de quinta-feira (24) e a manhã desta sexta-feira (25) em Fortaleza e Região Metropolitana. Na capital, homens armados assaltaram clientes de um posto de gasolina e, antes de fugirem, atearam fogo em um carro que estava estacionado no local. Bandidos também queimaram dois tratores, um ônibus e um micro-ônibus na capital e em Maracanaú. Já nesta manhã, uma van foi incendiada no Bairro Dias Macêdo, em Fortaleza. A violência no estado chegou ao 24º dia.
Desde o dia 2 de janeiro, quando começaram as ações criminosas, ocorreram 250 ataques contra ônibus, carros, prédios públicos, prefeituras e comércios em 50 dos 184 municípios cearenses. As ações começaram em Fortaleza e se espalharam para a Região Metropolitana e diversas cidades do interior. A Secretaria da Segurança Pública do Ceará confirmou que 414 pessoas já foram detidas por envolvimento nas ações criminosas.
Para tentar conter os ataques, o governo estadual convocou 1.200 policiais militares da reserva para reforçar a segurança nas ruas. O Ministério da Justiça enviou agentes da Força Nacional e reforço da Polícia Rodoviária Federal para o estado. Policiais militares e agentes penitenciários de outros estados brasileiros também foram deslocados ao Ceará após o início dos crimes.
O posto de combustível foi atacado por criminosos no Bairro Papicu por volta das 21h. Clientes que estavam no local foram assaltados por dois suspeitos, que, antes de fugir, incendiaram um dos carros estacionados no local. Câmeras de segurança do local registraram a ação crimosa.
Conforme um funcionário do estabelecimento, os suspeitos assaltaram cinco clientes que estavam na calçada da loja de conveniência. O fogo foi controlado por funcionários do posto de combustível. Apesar do ocorrido, não houve feridos nem danos à estrutura do estabelecimento.
Veículos incendiados
Na manhã desta sexta, criminosos incediaram uma van na Rua Capitão João Ferreira Lima. Uma equipe do Corpo de Bombeiros foi acionada ao local e apagou as chamas.
Por volta das 22h de quinta-feira, dois homens invadiram o prédio do Centro Social Urbano (CSU) César Cals, localizado na Rua Coronel Matos Dourado, no Bairro Pici, em Fortaleza, e incendiaram dois tratores que estavam estacionados no local. A dupla pulou um muro que cerca a parte lateral do prédio e ateou fogo no estofado dos veículos.
As chamas foram apagadas por policiais militares com a ajuda de populares, que utilizaram baldes com água e conseguiram evitar que o fogo se espalhasse pelo prédio. Os tratores seriam usados em obras para a contrução de um novo prédio. Os suspeitos fugiram em uma motocicleta.
Ocupantes do micro-ônibus foram rendidos por grupo armado que chegou a atirar no veículo — Foto: Rafaela Duarte/ Verdes Mares
Já na cidade de Maracanaú, na Região Metropolitana da capita, um micro-ônibus foi incendiado na Rua Chanceler Edson Queiroz, no Bairro Jardim Bandeirante. O veículo estava deixando funcionários de uma empresa na região, quando o motorista e oito passageiros que estavam no micro-ônibus foram rendidos por seis homens armados.
Um dos suspeitos atirou contra o veículo e o grupo ordenou que os passageiros deixassem do micro-ônibus. As chamas chegaram a atingir parte de uma fiação do local, mas não há informações de pessoas feridas. O Corpo de Bombeiros foi acionado para o local e conseguiu controlar o incêndio.
Por de 22h40, um ônibus foi incendiado em frente ao condomínio Alameda das Palmeiras, no Bairro Pedras, em Fortaleza. Por conta do incêndio, houve registro de explosões no ônibus, que ficou destruído. O fogo foi controlado por uma equipe do Corpo de Bombeiros.
Entenda o que está acontecendo no Ceará
- O governo criou a secretaria de Administração Penitenciária e iniciou uma série de ações para combater o crime dentro dos presídios. O novo secretário, Mauro Albuquerque, coordenou a apreensão de celulares, drogas e armas em celas. Também disse que não reconhecia facções e que o estado iria parar de dividir presos conforme a filiação a grupos criminosos.
- Criminosos começaram a atacar ônibus e prédios públicos e privados. As ações começaram na Região Metropolitana e se espalharam pelo interior.
- O governo pediu apoio da Força Nacional. O ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, autorizou o envio de tropas; 406 agentes da Força Nacional reforçam a segurança no estado.
- A população de Fortaleza e da Região Metropolitana sofre com interrupções no transporte público, com a falta de coleta de lixo e com o fechamento do comércio.
- A onda de violência afastou turistas e fez a ocupação hoteleira no estado cair.
- 35 membros de facções criminosas foram transferidos do Ceará para presídios federais desde o início dos ataques, segundo o último balanço do Ministério da Justiça.
- Agentes penitenciários apreenderam 2,3 mil celulares nos presídios cearenses durante os ataques.
Ações criminosas chegaram à 23ª noite consecutiva — Foto: Arte/ G1
Ordens partiram de presídios
Áudios compartilhados entre membros de facções do Ceará revelaram que as ordens para as ações criminosas partiram de presidiários. As mensagens chegaram até as autoridades após a apreensão de 407 aparelhos de celulares nas unidades prisionais do estado, no dia 6 de janeiro.
Agentes penitenciários apreenderam 2,3 mil celulares nos presídios cearenses durante os ataques. Conforme a Secretaria da Administração Penitenciária, também foram recolhidas das unidades prisionais aparelhos de televisão e materiais ilícitos, como armas brancas e drogas.
Em uma mensagem, um detento ordena: “Uns toca fogo na prefeitura, uns toca fogo nas coisa lá dos policial, tá ligado?”. O Palácio Municipal da Prefeitura de Maracanaú, na Grande Fortaleza, foi um dos 49 prédios públicos atacados no Ceará. “Agora a bagunça vai começar é com força”, diz outra mensagem de áudio. “Agora nós vamos parar os ônibus, vamos tocar fogo com vocês dentro”, ameaça um terceiro detento.
Em outro áudio, um detento diz que a sequência de crimes é uma tentativa de fazer com que o secretário da Administração Penitenciária desista de medidas que tornaram mais rigorosa a fiscalização no sistema penitenciário. “Vocês vão tirar esse secretário aí dos presídios. Vocês vão ver, vai piorar é pra vocês”, ameaça um criminoso.
O secretário da Segurança Pública do Ceará, André Costa, confirmou que a nomeação do novo secretário de Administração Penitenciária provocou a onda de ataques criminosos. Segundo André Costa, “a criminalidade já conhecia o trabalho” do novo gestor da pasta que administra os presídios do Ceará.
‘Terrorismo’
Em entrevista à GloboNews, o governador do Ceará, Camilo Santana (PT), classificou as ações criminosas registradas como “atos de terrorismo”. Santana defendeu que o Congresso Nacional revisse a lei antiterrorismo para tipificar ataques como os que ocorrem no Ceará.
Nordeste Notícia
Fonte: G1