O delegado da Polícia Civil do Ceará detido por chamar um policial militar de “vagabundo” precisou ser contido por sete PMs, conforme mostra um vídeo obtido pelo g1 nesta quarta-feira (20). Igor Vasconcelos Fernandes, de 41 anos, foi detido na sexta-feira (15), após confusão com um policial militar em bar no Bairro Varjota, área nobre de Fortaleza.
Conforme o policial militar alvo dos xingamentos, Igor Vasconcelos apresentava sinais de embriaguez. O PM chamou reforçou para levar o delegado até a delegacia, quando foram necessários sete agentes para contê-lo. (Assista no vídeo acima.)
O advogado do delegado alega que houve “excessos”, “agressões” e “tortura” na abordagem contra o cliente.
“Destaque-se que o delegado, que sequer estava portando arma, é frequentador do estabelecimento em que se deram os fatos, sendo reconhecido pelos que lá trabalharam como alguém que jamais causou qualquer desconforto”, afirma o advogado. (Veja ao fim desta reportagem a íntegra do posicionamento da defesa de Igor Vasconcelos.)
Após prestar depoimento na delegacia, o delegado foi solto.
Confusão em bar
Em nota, a Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos da Segurança Pública e Sistema Penitenciário (CGD) afirmou que “está investigando os fatos no âmbito administrativo”. A Secretaria de Segurança Pública afirmou que o delegado responderá a um processo disciplinar.
No vídeo da confusão, o delegado Igor Vasconcelos foi filmado visivelmente alterado e com a fala arrastada, respondendo aos agentes com ironia e xingamentos. No início da gravação, ele chama o policial de vagabundo, que responde: “Vagabundo não, me respeite”.
Em outro momento, Igor diz “Eu sou delegado de polícia, tu é quem?”; e o policial militar responde “Eu sou subtenente da Polícia Militar, estou trabalhando”. “Você tá de folga, bêbado”, diz o PM.
Delegado Igor Vasconcelos Fernandes foi detido por desacato — Foto: Reprodução
Defesa do delegado Igor Vasconcelos:
A defesa do delegado esclarece, inicialmente, que ainda está se debruçando sobre todas as circunstâncias que envolvem o caso para inteirar-se de todo o contexto. Além da análise de imagens e áudios do momento da abordagem pela Polícia Militar, faz-se imprescindível um criterioso exame sobre a condução do delegado pelos militares, de modo a se verificarem eventuais excessos por agressões caracterizadoras de tortura, abuso de autoridade ou uso indevido de algemas, com violação à Súmula Vinculante 11.
Destaque-se que o delegado, que sequer estava portando arma, é frequentador do estabelecimento em que se deram os fatos, sendo reconhecido pelos que lá trabalharam como alguém que jamais causou qualquer desconforto.
Recomenda-se sempre a prudência de uma apuração serena, no âmbito dos procedimentos cabíveis e com base no conjunto de provas completo – e não apenas em trechos selecionados para privilegiar uma versão acusatória capaz de enlamear biografias inatacáveis, como a do delegado em questão, que ostenta anos de modelares serviços prestados à segurança pública do Ceará.
Leandro Vasques, advogado.