Os desenhos históricos foram identificados pela equipe de acompanhamento arqueológico das obras do projeto ‘Malha D’água’. A iniciativa estadual visa o adensamento da rede de adutoras para reforçar o abastecimento hídrico em nove cidades do Interior.
Coordenadora do projeto arqueológico, Emília Maria Almeida Arnaldo explica que as gravuras foram reconhecidas entre maio e junho. Segundo ela, a proximidade com o material histórico se deu por meio da conexão com a própria população, além do trabalho da equipe durante o caminhamento nas localidades próximas.
IDENTIFICAÇÃO: GRAVURAS OU PINTURAS?
Como explica a especialista, dentro da arqueologia há uma classificação maior chamada de ‘registros rupestres’, que são grafismos inseridos em rocha. Dentro dessa categoria, existe a divisão entre ‘gravura’ e ‘pintura’. “Para a região onde estamos trabalhando, até o momento só conseguimos identificar as gravuras rupestres, que são incisões na rocha sem a necessária participação das pinturas.”
No caso de Solonópole, de acordo com a primeira análise da equipe local, são gravuras rupestres executadas por caçadores coletores do período pré-histórico, que tinham esse tipo de atuação nos painéis, abrigos e matacões. Ainda será preciso estudar as técnicas de manufatura, mas os grafismos se repetem nos 13 sítios.
“A gente já tem mais ou menos uma ideia de padrão aí. Isso não quer dizer que seja o mesmo grupo pré-histórico, mas quer dizer que tem uma tendência. Em três sítios, por exemplo, têm gravuras que são chamadas de grafismo puro, que são aqueles grafismos em que a gente não consegue reconhecer formas. Em outros sítios, a maior parte, já têm marcas de polimento, que são arredondadas, um pouco aprofundadas, que a gente pode delegar a atividade de polimento de peças em pedra ou mesmo de trabalho manual com alimento”, ressalta Emília Arnaldo.
Somente após uma análise mais detalhada, que deve ser guiada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), será possível confirmar mais informações sobre as técnicas nos grafismos, o que envolve procedimentos como polimento, raspagem e picoteamento.
IMPACTOS NA OBRA
Em geral, obras como as do ‘Malha D’água’ são acompanhadas por uma equipe de arqueólogos. Os profissionais buscam identificar e preservar possíveis materiais históricos e, caso seja preciso, a construção é interditada temporariamente para que os devidos procedimentos sejam definidos pelo Iphan.
No caso do projeto do Governo do Ceará, a identificação das gravuras não impactará o andamento das obras. Os sítios arqueológicos encontrados estão entre 100 metros e 8 km de distância da construção do sistema de adutoras.
Além disso, todos eles estão em propriedades privadas, em que há também um trabalho de conversa e pedido de autorização para os donos.
PRÓXIMOS PASSOS
Atualmente, o projeto arqueológico em Solonópole está na fase de identificação e produção do relatório para envio ao Iphan, explica Emília. O material será analisado e, a partir disso, serão definidas as diretrizes do trabalho a ser realizado junto às gravuras rupestres.
“Normalmente esse processo demora um pouquinho mais, porque eles vão analisar e vão dizer o que a gente vai executar. Geralmente, em uns três meses mais ou menos eles devem dar um parecer de quais são os procedimentos que devem ser tomados na área de análise e sinalização”, complementa.