Já são seis trimestres desde o início da crise exacerbada pela pandemia do coronavírus – e pouca recuperação. Nesta quinta-feira (2), o IBGE informou que a economia brasileira recuou 0,1% no terceiro trimestre, consolidando a ‘paradeira’ do PIB, que entrou em recessão técnica.

Se os dados traduzem preocupações com a retomada do país, nas ruas a crise econômica segue viva, com o desemprego ainda na casa dos dois dígitos, inflação em alta, renda em queda e juros escalando.

No início da pandemia da Covid-19, em abril de 2021, e ao longo de um ano, o g1 acompanhou seis empresários e empreendedores tentando sobreviver à crise que veio no rastro da doença.

Agora, revisitamos dois deles, que, diferente de milhares de outros pelo país conseguiram sobreviver – pelo menos por enquanto, e com ‘marcas’ que podem se arrastar pelos próximos anos.

Estas são as suas histórias.

Irenildo Barbosa, 56 anos

 

Irenildo Queiroz, o Bigode, mantém um bar e restaurante em Botafogo, na Zona Sul do Rio, há 14 anos — Foto: Daniel Silveira/G1
Irenildo Queiroz, o Bigode, mantém um bar e restaurante em Botafogo, na Zona Sul do Rio, há 14 anos — Foto: Daniel Silveira/G1

Um ano inteiro acumulando dívidas, toda a reserva financeira esgotada, sem acesso a crédito no mercado, obrigado a garantir nove meses de estabilidade para cinco funcionários e sem nenhuma perspectiva de mudança no curto prazo. Esse foi o saldo de 12 meses de pandemia para o empresário Irenildo Barbosa, o Bigode, de 65 anos, dono de um bar na Zona Sul do Rio.

Em março deste ano, Irenildo dizia ao g1 que, se pudesse voltar no tempo, teria fechado o bar ainda no começo da pandemia.

Hoje, com dívidas contraídas para manter as portas abertas, vê o movimento voltar a aumentar no Bar do Bigode, mas ainda distante do que era antes da pandemia.

“A gente está se arrastando. Estou com cinco funcionários, segurando a onda como posso”, conta agora.

 

A nova tentativa do empresário é uma parceria para ampliar a venda de refeições que, ele espera, possa ajudar a expandir os negócios, quitar as dívidas e voltar a fazer caixa. Isso porque o bar, em uma área empresarial, é muito dependente do entorno, onde o movimento deve demorar a voltar ao ‘antigo normal’.

“Estou com 50% do faturamento que tinha antes da pandemia. Voltamos a abrir à noite, mas nem sempre dá muito movimento. As faculdades no nosso entorno não voltaram [às aulas presenciais] e as empresas estão fazendo rodízio dos funcionários”, disse.

E se a parceria não der certo?

“Eu vou continuar em busca de outras parcerias e sobrevivendo como estou até hoje, aos trancos e barrancos”, diz o Bigode.

 

Cláudia Mendes, 56 anos

 

Dona de uma rede de lavanderias na Zona Sul do Rio, a empresária Cláudia Mendes acumulou dívidas ao longo da pandemia — Foto: Daniel Silveira/G1
Dona de uma rede de lavanderias na Zona Sul do Rio, a empresária Cláudia Mendes acumulou dívidas ao longo da pandemia — Foto: Daniel Silveira/G1

Depois de um ano ”difícil e assustador” como foi 2020, a empresária Cláudia Mendes evitou depositar grandes expectativas sobre o ano novo. Dona de uma rede de lavanderias na Zona Sul do Rio, ela se resignou diante da crise provocada pela pandemia do coronavírus.

Porém, no início de 2021, a resignação já dava lugar à preocupação com a demora na retomada. Se em 2020 ela manteve o negócio à tona graças a linhas de crédito e suspensão de contratos de funcionários, em 2021 foi a hora de pagar por isso – e o dinheiro ainda não estava entrando.

A luz no fim do túnel, no entanto, começou a aparecer aos poucos, mesmo fraca. Ao longo dos meses, ela viu o movimento de clientes – e turistas – voltar a crescer.

“O pior só passou porque injetamos dinheiro para recompor caixa, dinheiro pessoal. Mas, com isso, nossa reserva financeira foi toda embora”.

 

Mas a inflação vem freando o retorno do lucro.

“O nosso faturamento não mudou muito. O movimento melhorou, mas como a inflação deu uma disparada, o impacto no nosso caixa foi muito pequeno”.

“Seguramos até maio sem repassar a inflação para os clientes. Entre maio e junho aumentamos em 5% alguns serviços, mas não adiantou nada, porque a conta continuava não fechando. Decidimos, então, reajustar um pouco mais em alguns serviços. No total, o aumento foi em torno de 15%. Esse percentual não cobre tudo, mas já melhorou muito”, conta.

“Com o reajuste nos preços, o faturamento começou a melhorar. Mas a gente tem um acumulado [de dívidas] para trás que ainda gera uma defasagem muito grande”.

A inflação dos combustíveis também prejudicou as mudanças na oferta de serviços que Claudia fez para aumentar a clientela.

“No início da pandemia começamos a atender a Zona Sul inteira sem cobrar pelo delivery. Isso ajudou muito a aumentar a nossa demanda. Só que o aumento da gasolina foi sendo tão grande que ficou inviável. A gente demorou a se tocar que estava aumentando o volume de demanda, mas sem lucro nenhum” conta.

Para a empresária, a falta de clareza sobre o futuro e de perspectivas para a retomada prejudicou a gestão e o futuro do negócio.

“Uma das piores coisas que aconteceu com a gente, acho que com a maioria dos empresários, é que não tivemos a dimensão do que era real”, diz.

 

Sem essa previsibilidade, a empresária acumulou dívidas ao longo da pandemia, acreditando numa melhora futura das condições.

“Estamos com seis empréstimos para pagar. O governo disse que iria suspender a cobrança, mas só suspendeu a de um por apenas dois meses”, lamenta.

 

 

 

Nordeste Notícia
Fonte: g1

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