A facção criminosa Comando Vermelho tem presença em, pelo menos, 49 municípios cearenses, conforme dados colhidos durante a operação Annulare, deflagrada em 19 de novembro último e apontada como a maior ofensiva da história da Polícia Civil do Ceará contra uma única organização criminosa.
A Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco) obteve dados que permitiram catalogar 528 pontos de vendas de drogas, as chamadas “biqueiras”, do grupo. Em Fortaleza, os agentes mapearam tais espaços em, pelo menos, 54 bairros.
Na lista ainda constavam informações como onde se localiza a biqueira e o nome do responsável pelo ponto. Com isso, a Delegacia de Combate às Ações Criminosas Organizadas (Draco) chegou ao nome de 361 supostos integrantes do Comando Vermelho — levando a especializada a solicitar à Justiça 863 mandados, tanto de prisão preventiva, quanto de busca e apreensão. No dia de deflagração da operação Annulare, 186 mandados de prisão preventiva foram cumpridos.
As informações foram encontradas em diálogos mantidos, via aplicativos de troca de mensagens, por Francisca Valeska Pereira Monteiro, de 28 anos, conhecida como Majestade. Ela, que foi presa em 26 de agosto último, é apontada como chefe de uma célula do Comando Vermelho batizada de “Quadro Geral de Biqueira”. Conforme a Draco, Valeska “controlava centenas de locais de venda de entorpecentes de todo o Estado do Ceará”. Ela responderia diretamente ao homem que supostamente chefiaria o CV no Estado, Max Miliano Machado da Silva. As mensagens datam de junho e julho de 2020.
Em um “salve” também encontrado no celular de Valeska, é explicado que o cadastro das “biqueiras” é necessário como forma de resolver problemas (disputas) de “território” e “limitação de espaços”. Para isso, ao cadastrar um ponto de drogas, o criminoso precisa pagar uma “caixinha mensal” de R$ 250. Havendo 528 pontos de vendas de drogas do CV no Estado, o total faturado seria de R$ 132 mil mensais, chegando a mais de R$ 1,5 milhão em um ano. O valor, prossegue o salve, é revertido para o “fortalecimento” do paiol da facção. Caso haja atraso de três meses no pagamento da contribuição, porém, o cadastro pode ser cancelado.
Os pedidos de prisão chegaram a ser negados pela Vara de Delitos de Organizações Criminosas (VDOC), que argumentou, entre outras justificativas, que o inquérito ainda estava em andamento e não houve a delimitação da necessidade da prisão para cada um dos suspeitos, “tendo em vista as diversidades de condutas observadas no contexto investigativo”. O Ministério Público do Ceará (MPCE), porém, entrou com recurso no Tribunal de Justiça do Estado (TJCE), o que levou ao colegiado da VDOC a reconsiderar a posição.
“Saliente-se: as biqueiras são verdadeiros ‘QGs’ (quarteis-generais) da organização criminosa Comando Vermelho”, afirmou o Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas (Gaeco), do MPCE, no recurso. “São locais onde criminosos se encontram não só para adquirir e comercializar drogas, mas como ponto de confiança para guardar produtos e instrumentos do crime e para reunirem-se para planejamento de futuras empreitadas criminosas. É muito claro que a existência de um desses ‘pontos’ em uma determinada localidade significa risco concreto, atual e permanente à ordem pública, o que torna evidente o Periculum Libertatis daqueles que comandam e convivem nas biqueiras”.
A Draco trata o Comando Vermelho como o grupo criminoso com maior domínio territorial no Estado. Na representação pelos mandados à Justiça, os delegados da Draco relembram que a facção passou por uma expansão a partir de junho de 2020, “conquistando” territórios da rival Guardiões do Estado (GDE) e áreas consideradas neutras. A Draco também mencionou que, recentemente, além do tráfico de drogas, o CV tem intensificado tentativas de extorsão, sobretudo, contra comerciantes. Ainda é lembrado que a facção tem, pelo menos, 9 mil integrantes somente em presídios.
Saiba quais são os municípios com atuação da facção no Ceará
Acarape
Acaraú
Alcântaras
Aquiraz
Aracati
Maracanaú
Barreira
Barroquinha
Beberibe
Bela Cruz
Camocim
Caridade
Cascavel
Catunda
Caucaia
Chaval
Choró
Chorozinho
Coreaú
Crateús
Crato
Croatá
Cruz
Forquilha
Fortaleza
Frecheirinha
Granja
Guaiúba
Guaramiranga
Horizonte
Icapuí
Ipaumirim
Ipueira
Irauçuba
Itaitinga
Itapajé
Jijoca de Jericoacoara
Marco
Massapê
Milagres
Miraíma
Moraújo
Morrinhos
Nova Russas
Ocara
Pacajus
Pacoti
Palmácia
Pentecoste
Redenção
Russas
Santa Quitéria
Santana do Acaraú
São Gonçalo do Amarante
Senador Sá
Sobral
Taiba
Trairi
Tururu
Ubajara
Umirim
Uruoca
Fonte: Delegacia de Combate às Ações Criminosas Organizadas (Draco), da Polícia Civil do Ceará
Denúncia contra 54 alvos da operação já foi ofertada pelo MPCE
No último dia 1º de dezembro, o Ministério Público Estadual (MPCE) denunciou 54 dos alvos da operação Annulare. Na denúncia, assinada pelos promotores do Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas (Gaeco), consta que 50 deles estão presos. Na peça ainda é afirmado que o MPCE optou pelo desmembramento do processo e que as acusações contra os demais acusados ainda estão sendo apreciadas. À ocasião da oferta da denúncia, 25 presos haviam prestado depoimento. A Justiça ainda não havia recebido a acusação até o fechamento da reportagem.
A maioria dos presos negou as acusações. É o caso de Anastácio Gonçalves Dias, apontado como “frente” de uma biqueira Frecheirinha, na Zona Norte do Estado. Ele disse que era apenas um “laranja”, um “pau mandado” da facção, a qual só se batizou enquanto esteve preso por “obrigação”.
Outro a dizer que foi obrigado a entrar no Comando Vermelho foi Eduardo Matos de Souza, apontado como frente de uma biqueira no Parque Manibura. Outros disseram que não eram integrantes da facção, mas apenas “simpatizantes”, por morarem em bairros dominados pelo grupo. Foram os casos, por exemplo, de Daniel Pinheiro de Mesquita (suposto frente na Parquelândia), Emanuel Marcos Pereira Lima (suposto frente no Pirambu) e Josué Ferreira Batista Filho (também suposto frente no Pirambu).
Filipe Ramos de Morais admitiu em depoimento ter sido frente de um biqueira, localizada no Jardim Guanabara. Entretanto, ele afirmou que não integrava a facção há cerca de dois anos. Yuri da Costa Coelho, por sua vez, confessou ser frente de uma biqueira no Crato (Cariri). No momento de sua prisão, ele tentou jogar cocaína em um ralo, informaram os policiais. Além disso, um revólver foi encontrado em sua casa.
No caso do cumprimento do mandado contra Leonardo Saraiva da Cunha, no bairro Autran Nunes, em Fortaleza, o suspeito foi baleado no ombro pelos policiais. Eles relataram que Leonardo tentou fugir e apontou uma arma contra os agentes de segurança pública.
Nem todos os mandados de prisão foram cumpridos. Em, pelo menos, dois casos, isso se deu pela morte dos suspeitos: Jaime Rosa de Carvalho foi assassinado em 26 de setembro último e Francisco Vanderlande França Freitas morreu de Covid-19 antes da ação. Outros, como Vilmar Ferreira Ramos, não foram localizados. Há ainda casos de investigados que, notoriamente, deixaram o Comando Vermelho, como é o caso de Francisco Cilas de Moura Araújo, anteriormente apontado como maior chefe da facção em Caucaia (Região Metropolitana de Fortaleza), mas, hoje, é apontado como integrante do comando de grupo dissidente e rival à organização originariamente carioca.
Saiba quais os bairros de Fortaleza com atuação da facção
Aerolândia
Aldeota
Álvaro Weyne
Antônio Bezerra
Autran Nunes
Barroso
Bela Vista
Benfica
Boa Vista
Bom Jardim
Bonsucesso
Cajazeiras
Carlito Pamplona
Centro
Cidade dos Funcionários
Conjunto Ceará
Couto Fernandes
Demócrito Rocha
Dias Macedo
Ellery
Genibaú
Granja Lisboa
Granja Portugal
Henrique Jorge
Itaoca
Itaperi
Jardim das Oliveiras
Jardim Guanabara
Jardim Iracema
João XXIII
José Walter
Lagoa Redonda
Maraponga
Mondubim
Montese
Moura Brasil
Padre Andrade
Parangaba
Parque Araxá
Parque Dois Irmãos
Parque Manibura
Parque Santa Maria
Parquelândia
Pici
Pirambu
Praia do Futuro I
Praia do Futuro II
Presidente Kennedy
Quintino Cunha
Rodolfo Teófilo
Sabiaguaba
Sapiranga
Serrinha
Vila União
Vila Velha
Fonte: Delegacia de Combate às Ações Criminosas Organizadas (Draco), da Polícia Civil do Ceará
Saiba quais são os municípios com atuação do CV no Ceará
Acarape
Acaraú
Alcântaras
Aquiraz
Aracati
Maracanaú
Barreira
Barroquinha
Beberibe
Bela Cruz
Camocim
Caridade
Cascavel
Catunda
Caucaia
Chaval
Choró
Chorozinho
Coreaú
Crateús
Crato
Croatá
Cruz
Forquilha
Fortaleza
Frecheirinha
Granja
Guaiúba
Guaramiranga
Horizonte
Icapuí
Ipaumirim
Ipueira
Irauçuba
Itaitinga
Itapajé
Jijoca de Jericoacoara
Marco
Massapê
Milagres
Miraíma
Moraújo
Morrinhos
Nova Russas
Ocara
Pacajus
Pacoti
Palmácia
Pentecoste
Redenção
Russas
Santa Quitéria
Santana do Acaraú
São Gonçalo do Amarante
Senador Sá
Sobral
Taiba
Trairi
Tururu
Ubajara
Umirim
Uruoca
Denúncia contra 54 pessoas já foi ofertada pelo MPCE
No último dia 1º de dezembro, o Ministério Público Estadual (MPCE) denunciou 54 dos alvos da operação Annulare. Na denúncia, assinada pelos promotores do Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas (Gaeco), consta que 50 deles estão presos. Na peça ainda é afirmado que o MPCE optou pelo desmembramento do processo e as acusações contra os demais acusados ainda estão sendo apreciadas. À ocasião da oferta da denúncia, 25 presos haviam prestado depoimento. Na última quarta-feira, 15, a Justiça recebeu a denúncia.
A maioria dos presos negou as acusações. É o caso de Anastácio Gonçalves Dias, apontado como “frente” de uma biqueira Frecheirinha, na Zona Norte do Estado. Ele disse que era apenas um “laranja”, um “pau mandado” da facção, a qual só se batizou enquanto esteve preso por “obrigação”. Outro a dizer que foi obrigado a entrar na facção foi Eduardo Matos de Souza, apontado como frente de uma biqueira no Parque Manibura. Outros disseram que não eram integrantes da facção, mas apenas “simpatizantes”, por morarem em bairros dominados pelo CV. Foram os casos, por exemplo, de Daniel Pinheiro de Mesquita (suposto frente na Parquelândia), Emanuel Marcos Pereira Lima (suposto frente no Pirambu) e Josué Ferreira Batista Filho (também suposto frente no Pirambu).
Filipe Ramos de Morais admitiu em depoimento ter sido frente de um biqueira, localizada no Jardim Guanabara. Entretanto, ele afirmou que não integrava a facção há cerca de dois anos. Yuri da Costa Coelho, por sua vez, confessou ser frente de uma biqueira no Crato (Cariri). No momento de sua prisão, ele tentou jogar cocaína em um ralo, informaram os policiais. Além disso, um revólver foi encontrado em sua casa.
No caso do cumprimento do mandado contra Leonardo Saraiva da Cunha, no bairro Autran Nunes, o suspeito foi baleado no ombro pelos policiais. Eles relataram que Leonardo tentou fugir e apontou uma arma contra os agentes.
Nem todos os mandados de prisão foram cumpridos. Em, pelo menos, dois casos, isso se deu pela morte dos suspeitos: Jaime Rosa de Carvalho foi assassinado em 26 de setembro último e Francisco Vanderlande França Freitas, que morreu de Covid-19. Outros, como Vilmar Ferreira Ramos, não foram localizados. Há ainda casos de investigados que, notoriamente, deixaram o Comando Vermelho, como é o caso de Francisco Cilas de Moura Araújo, que já foi apontado como maior chefe da facção em Caucaia (Grande Fortaleza), mas, hoje, é apontado como líder de um grupo dissidente e rival à organização carioca.
Saiba quais os bairros de Fortaleza com atuação da facção
Aerolândia
Aldeota
Álvaro Weyne
Antônio Bezerra
Autran Nunes
Barroso
Bela Vista
Benfica
Boa Vista
Bom Jardim
Bonsucesso
Cajazeiras
Carlito Pamplona
Centro
Cidade dos Funcionários
Conjunto Ceará
Couto Fernandes
Demócrito Rocha
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Granja Portugal
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Fonte: O Povo/ Lucas Barbosa