Açude Caldeirões, em Saboeiro é um dos 33 que estão sangrando no Ceará — Foto: Honório Barbosa
Açude Caldeirões, em Saboeiro é um dos 33 que estão sangrando no Ceará — Foto: Honório Barbosa

Com o acumulado de 272.9 milímetros, este mês março de foi o segundo mais chuvoso dos últimos 33 anos no Ceará, ficando atrás apenas de 2008, quando a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme) registrou precipitações de 332.5 mm. A média histórica para o período é de 203.4 milímetros.

As volumosas chuvas garantiram recarga hídrica aos principais açudes cearenses. No acumulado deste mês de março, a Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh) registrou aporte de 2,43 bilhões de metros cúbicos nos 155 reservatórios monitorados pelo órgão. Em igual período do ano passado, este índice foi de 680 milhões de metros cúbicos.

Este resultado positivo também se dá pela regularidade das chuvas nestes três primeiros meses do ano, que ficaram acima da média histórica. Nos últimos 33 anos, isso só aconteceu em outras seis vezes. Porém, o acumulado total de 607 milímetros, nestes três primeiros meses de 2020 é o maior entre eles.

Outro fator importante é que as precipitações não tem se concentrado apenas em regiões historicamente favorecidas. O resultado é que, até ontem (31), 33 açudes do Ceará estavam sangrando.

Preocupação

Ceará tem um dos meses de março mais chuvosos das últimas décadas — Foto: Artur Lira/G1

Ceará tem um dos meses de março mais chuvosos das últimas décadas — Foto: Artur Lira/G1

Mesmo com o cenário positivo, o diretor de Operações da Cogerh, Bruno Rebouças, pede cautela, pois, apesar da segurança hídrica na maioria das regiões, a bacia do Banabuiú, responsável pelo abastecimento de importantes cidades, como Quixadá, ainda preocupa. “No início do ano, estava com 6.1% e agora está com 7.1%”, enfatiza.

Até mesmo o acúmulo atual dos açudes Castanhão e Orós, segundo estimativa da Cogerh, não garante a segurança hídrica da Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), onde vivem 4,1 milhões de pessoas e seriam necessários 1,7 bilhões m³ de água.

Juntos, os dois maiores reservatórios concentram, hoje, cerca de 1 bilhão de m³, enquanto o Pacoti, Gavião e Riachão, somam mais 450 milhões de m³. Juntos, totalizam 1,45 bilhão. “Faltam 250 milhões de metros cúbicos e vamos chegar lá”, pontuou, otimista, Hélder Cortez, diretor de Operações da Cagece.

Ainda conforme Hélder, grandes cidades do interior como Iguatu, Icó, Crateús e Tauá já “têm segurança de abastecimento por dois anos”.

Aumento do consumo

Fortaleza tem forte chuva entre a madrugada e manhã de sexta-feira, 31 de janeiro — Foto: José Leomar/SVM

Fortaleza tem forte chuva entre a madrugada e manhã de sexta-feira, 31 de janeiro — Foto: José Leomar/SVM

Com as medidas de isolamento social adotadas para conter o Covid-19, a Cagece estima que o consumo, a partir da segunda metade do mês de março, cresceu no Ceará. Para atender a demanda, a companhia aumentou a vazão em todo o Estado. “Tivemos que ampliar em 330 litros por segundo a oferta de água em Fortaleza, e em 5% para o interior”, explicou Cortez.

Alegria no campo

Com o aumento das chuvas, o agricultor Jonas Marques, da localidade de Mundo Novo, na zona rural de Cedro, dobrou de dois para quatro o número de hectares de sua área de plantação. “A colheita vai ser muito boa”, prevê.

O presidente da Ematerce, Antônio Amorim, ratifica este otimismo em todo o Estado, principalmente na safra de milho. “Ainda é cedo para apresentar números da safra de grãos, mas tudo leva a crer que será uma das melhores”, disse. “Outro setor que será beneficiado é o da apicultura porque há muita floração no campo”, acrescentou.

Estragos

Chuva deixa 500 famílias desabrigadas em Hidrolândia, no Ceará — Foto: Mateus Ferreira/SVM

Chuva deixa 500 famílias desabrigadas em Hidrolândia, no Ceará — Foto: Mateus Ferreira/SVM

Apesar de todos esses benefícios, as chuvas de março trouxeram uma série de transtornos a pelo menos 12 cidades cearenses. Em Hidrolândia, no Noroeste do Estado, uma chuva de 53 milímetros entre os dias 24 e 25 deixou um rastro de destruição e mais de 500 famílias desalojadas. A tragédia, que foi enquadrada pela gestão local como a pior da história da cidade, aconteceu após barragens de sete reservatórios na zona rural do Município romperem.

Além da perda material, a enchente no rio Batoque, em Hidrolândia, causou a morte de uma idosa de 80 anos. Após se afogar, a senhora, identificada apenas como “Dona Mocinha”, desenvolveu um quadro de pneumonia e faleceu no último domingo (29), após quatro dias internada. Em Tarrafas, no Sul do Estado, o canoeiro Antônio Teixeira morreu ao tentar atravessar uma passagem molhada.

Idosa morre em enchente em Hidrolândia

Idosa morre em enchente em Hidrolândia

Em Quiterianópolis, na região dos Inhamuns, o município decretou situação de Calamidade Pública, no último dia 16, após o rompimento de reservatórios na cidade que deixou mais de 40 famílias desalojadas. As cidades de Tauá e Novo Oriente, igualmente afetadas pelas chuvas, também tiveram decreto de calamidade reconhecido pelo Governo do Estado.

Já Crateús, no Sertão dos Inhamuns, registrou a maior chuva do País entre os dias 24 e 25, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). A chuva de 157 milímetros foi suficiente para arrastar veículos e deixar entre quase 400 famílias desalojadas, segundo a Defesa Civil do Município. A exemplo dos demais municípios também decretou estado de calamidade.

Outra forte precipitação aconteceu em Icapuí, no litoral Leste do Estado, que registrou entre os dias 12 e 13 deste mês a terceira maior chuva de sua história e uma das 15 maiores da última década, no Ceará. Com precipitação de 220 mm, a cidade teve estradas e ruas alagadas e deslizamentos de terra. No mesmo intervalo de tempo, pelo menos 15 famílias ficaram desalojadas em Iguatu, no Centro-Sul, e 16 em Massapê, na região Norte após chuvas de 86 mm e 39.5 mm, respectivamente.

A situação se estendeu ao Cariri, região com maior média de chuvas deste mês, com 360,8 mm, ou seja, 44,2% em relação à média histórica, de 218,4 mm. Em Juazeiro do Norte, uma chuva de 133 mm, entre os dias 25 e 26, alagou ruas e avenidas. A chuva é a quarta maior da história do município e a maior em 2020.

No mesmo intervalo, a cidade de Crato registrou 48.3 mm. A força da água formou correntezas e arrastou veículos que estavam estacionados em algumas vias do Município. Apesar dos transtornos, as defesas civis de Crato e Juazeiro do Norte não registraram famílias desalojadas e nem feridos.

Nordeste Notícia
Fonte: G1

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