Mesmo atuando há mais de 30 anos no Ceará, a força das facções criminosas foi demonstrada de maneira mais incisiva entre os anos de 2016 a 2018. No ano de 2017, cerca de 5 mil pessoas foram assassinadas. A maioria das mortes teria sido em decorrência da luta travada entre a facção local, Guardiões do Estado, e o Comando Vermelho.
Em 2019, com o avanço das forças de segurança sobre o sistema penitenciário, líderes de facções foram transferidos para presídios federais e os grupos criminosos tentam reorganizar forças. A reportagem é do programa Barra Pesada / TV Jangadeiro.
Assistindo tudo de longe, o PCC, que era fornecedor de drogas da GDE, teve pouca influência na matança. Um rearranjo iniciado no sistema penitenciário em janeiro deste ano foi determinante para que as facções se desestabilizassem. Os líderes foram encaminhados para presídios federais. Os que ficaram não são mais divididos por facções nas penitenciárias.
Um especialista em segurança pública que preferiu não se identificar explica o surgimento dos grupos. “Na GDE, foi onde surgiu uma dissidência do pessoal do PCC. Os que não estavam satisfeitos com o PCC saíram e fundaram a GDE, com bandidos aqui do Estado”.
“Com o efetivo combate dado ao crime organizado pelo Governo do Estado, foram transferidos daqui os líderes, as pessoas que se arvoravam como líderes do Comando Vermelho, do GDE, e foram transferidos também Família do Norte, para os presídios de segurança máxima. Acontece que, quando um bandido desse vai transferido, logo chega outro pra assumir seu lugar, geralmente é o braço direito dele”, acrescenta.
As transferências e prisões dos criminosos geraram uma movimentação entre os membros das facções para ocupar as lideranças. Os números estão em evidente crescimento, conforme a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS). Abril foi o mês deste ano com maior número de homicídios, com 213 casos. Os números aconteceram em maior número na periferia e Região Metropolitana, nas quintas-feiras e sábados, das 18 às 23h59, segundo dados da SSPDS.
“Está havendo essas mortes, mas não é uma facção contra outra facção. São membros que querem assumir o comando, porque os líderes estão isolados em presídios federais. É uma disputa interna, não é externa. No Ceará, o PCC sempre foi fraco. O homicídio caiu por causa do sistema penitenciário. O cara não está lá dentro mais para mandar matar quem está aqui fora, os líderes estão em outros estados, não está havendo comunicação. Quando corta comunicação, corta tudo do crime”.
Áreas já conhecidas da Polícia, como as comunidades da Babilônia e do Gueto, voltam a atrair a atenção dos traficantes. “Hoje continua no Barroso, que a Babilônia é jogada lá dentro; no Gueto, na Barra do Ceará, e em vários outros bairros. São as mesmas facções só que com outros direcionamentos, outros chefes, outros líderes. (…) Eles estão se reorganizando internamente, estão aparecendo outras pessoas se arvorando de líderes, tomando conta e estão se organizando”, afirma o especialista.
Caucaia
É na Região Metropolitana, principalmente em Caucaia, onde as disputas internas entre os criminosos se dão de forma mais acirrada. “Hoje a área com maior número de mortes está na Caucaia, Parque Leblon, Araturi, Jurema, é a parte mais crítica. O número de mortes que aumentou em abril é mais de 60% na Região Metropolitana”, afirma fonte ouvida pelo Barra Pesada.
Nordeste Notícia
Fonte: Tribuna do Ceará