© Daniel Teixeira/Estadão Cardápio político. Empresários discutem eleição de 2018

RIO/SÃO PAULO – O temor em relação ao desfecho eleitoral vem alimentando debates políticos, que ocorrem em profusão em pequenos eventos, jantares e reuniões em entidades que representam o empresariado. Executivos e lideranças do setor têm demonstrado preocupação com o fato de que, a poucos meses das eleições, um candidato de centro ainda não tenha se firmado nas pesquisas. A tensão eleitoral desta vez é maior, dizem.

Por isso, há uma profusão de encontros e conversas para que empresários possam se antecipar aos movimentos políticos e entender quais são de fato as propostas dos postulantes ao Planalto. “Este ano há bastante estresse, o próprio mercado mostra isso. Temos de ter consciência que, nesse momento, possivelmente não temos o candidato que una a visão de País (que o empresariado deseja) e o tema de não ter ligação com os processos de investigação”, diz Antônio Carlos Pipponzi, presidente do conselho Raia Drogasil e do Instituto para o Desenvolvimento do Varejo (IDV). “É preciso olhar alternativas”.

O IDV, bem como o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) e a Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc) ouvem há semanas pré-candidatos em pequenas sabatinas.

“O momento é muito importante. Temos de ouvir e nos mobilizar. O medo é de que o populismo e extremismo venham a se proliferar”, diz Rubens Menin, presidente do conselho da MRV e conselheiro da Abrainc, que ouviu Geraldo Alckmin e receberá outros presidenciáveis.

“Queremos que os candidatos entendam a relevância da indústria para o País. Somos geradores de emprego, exportamos e pagamos impostos”, diz Pedro Wongtschowski, presidente do Iedi e do conselho de administração do Grupo Ultra. O Iedi recebeu Alckmin e Ciro Gomes (PDT). Fará outros encontros.

Executivos e donos de grandes empresas ainda aguardam pela definição das coligações – importantes para cálculo do tempo de TV – e a composição das chapas. Mas, em encontros, não escondem receio com os rumos das candidaturas de centro, especialmente a de Alckmin. A pulverização de candidaturas aumenta a sensação de incerteza, afirmam empresários.

Na terça-feira passada, Gustavo Junqueira, da Sociedade Rural Brasileira (SRB), reuniu em sua casa, em São Paulo, cerca de 30 executivos e empresários para debater as possibilidades eleitorais. Estavam presentes representantes do agronegócio, como o usineiro Maurílio Biagi Filho, e executivos como Felipe Cavalieri, da BMC-Hyundai, e Antonio Moraes Barros, da CBC. Nas rodas que se formavam, repetia-se em uníssono: Alckmin precisa ganhar tração.

No evento, acompanhado pelo Estado, a maioria dos empresários ouvidos indicou que o candidato ideal seria João Amoêdo, do Novo, mais liberal que o tucano. No entanto, como ele aparece com baixíssima intenção de voto, Alckmin é visto como opção mais segura.

Na mesma noite, em São Paulo, um grupo de 60 executivos e investidores se reuniu para ouvir o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso elaborar sobre a corrida eleitoral, a convite do Canadian Pension Plan Investment Board (CPPIB). O tucano voltou a defender a união dos candidatos de centro, o que animou a plateia. “Com a greve dos caminhoneiros ficou o alerta de que há uma fragilidade exposta, mas o mercado ainda acredita numa composição de nomes de centro”, diz Alexandre Bertoldi, sócio-gestor do Pinheiro Neto Advogados, uma das maiores bancas do País, que estava presente no evento.

A busca por um caminho eleitoral distante dos extremos ideológicos também foi um dos assuntos no jantar na sexta retrasada na casa de Rubens Ometto, dono da Cosan, em São Paulo, que reuniu empresários e banqueiros como Luiz Carlos Trabuco (Bradesco), Roberto Setúbal (Itaú), Sérgio Rial (Santander) e André Esteves (BTG), em torno de Michel Temer e do ministro da Fazenda, Eduardo Guardia.

Alguns dos presentes pediram empenho para que o centro se una ao redor de Alckmin, manifestando descrença numa candidatura própria do MDB, de acordo com fontes ouvidas pelo Estado. Empresários indicaram ainda preocupação com uma transição ordenada até a posse do próximo presidente.

Alvo dos que advogam pela “unificação do centro”, Henrique Meirelles diz, porém, que não pensa em desistir de se lançar pelo MDB. “Não houve nenhum pedido ou pressão para qualquer mudança”, afirmou ao Estado. “É evidente que adversários têm muita preocupação com minha candidatura”.

Apartidário. O cenário de incerteza eleitoral e em relação à economia, que deu sinais de fragilidade, motivou um grupo de executivos e empresários a articular um movimento para debater propostas para o País. Luiza Trajano, presidente do conselho do Magazine Luiza, Paulo Kakinoff, presidente da Gol, Pedro Passos, sócio da Natura, Walter Schalka, presidente da Suzano, Salim Mattar, presidente do conselho da Localiza, Rubens Menin, da MRV, entre outros, vão promover em agosto o evento “Você Muda o Brasil”.

A ideia é fazer um debate apartidário sobre temas como educação, segurança e ética. O grupo não apoiará candidaturas, mas pode fazer um documento com algumas das ideias debatidas.

Nordeste Notícia
Fonte: Estadão

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