Ipu-IgrejaA Ibiapaba foi objeto de um conflito de jurisdição entre a Junta das Missões do Maranhão e a Junta das Missões da Diocese de Pernambuco. Ambas requisitavam o direito de catequizarem os índios da região. O processo correu em Portugal e foi determinado que os jesuítas não poderiam ultrapassar o rio Inhuçu (próximo a São Benedito).

Dessa forma, a Ibiapaba foi dividida em duas parte: ao norte, sob a jurisdição dos jesuítas, tínhamos o que se chamou de Serra da Ibiapaba; ao sul, ficava a imensidão habitada por índios bravios e de geografia mais inóspita chamada de Serra dos Cocos. O conjunto da cordilheira era chamado, a esta época, simplesmente de Serra Grande.
Em 1722, enquanto a questão com os jesuítas arrastava-se, o Padre João de Matos Serra, cura do Curato do Acaracu, enviou para a Serra dos Cocos o frei José da Madre de Deus, da ordem dos Carmelitas, com a missão de construir uma capela sobre a serra a fim de evitar o avanço dos jesuítas rumo ao sul da Ibiapaba.

Frei José veio ter com o Capitão José de Araújo Chaves, dono da sesmaria das Ipueiras (atual cidade de Ipueiras), pedindo-lhe que cedesse um terreno na porção serrana de suas terras para a construção da dita capela. O capitão, por sua vez, cedeu não um, mas dois terrenos, exigindo que fossem construídas duas capelas, uma na serra e outra no sertão. Ele também escolheu os padroeiros. A capela do sertão seria dedicada a Nossa Senhora da Conceição e a da serra a São Gonçalo do Amarante.
O padre carmelita deu prioridade à construção da capela serrana, mas acabou tendo que fugir das perseguições movidas pelos jesuítas. Deixou, no entanto, a capelinha inacabada, mas já servindo para as celebrações que eram raras nessa época dada a distância imensa que os padres tinham que percorrer. No máximo, os devotos podiam confessar-se e comungar uma vez por ano, quando pela capela passava um padre que ministrava a “desobriga”, aproveitando também o ensejo para realizar todos os batismos, crismas e casamentos necessários. Diz-se que era comum as crianças batizarem-se com até doze anos de idade em alguns pontos da Serra dos Cocos, dada a distância e o longo tempo que ficavam ser receber a visita de sacerdotes. Estes, por sua vez, enfrentavam toda sorte de perigos em cavalgadas intermináveis, subindo e descendo serras, percorrendo sertões, sujeitos a emboscadas de índios e saqueadores.

Ipu (1)A capelinha de São Gonçalo foi escolhida, em 30 de agosto de 1757, para matriz da Freguesia de São Gonçalo da Serra dos Cocos. Desde então, o povoado ao seu redor passou a chamar-se de Matriz de São Gonçalo e hoje chama-se simplesmente “Matriz” e é distrito do município de Ipueiras.
O território da Freguesia de São Gonçalo era imenso. Compreendia as atuais cidades de Ipueiras, Guaraciaba do Norte, Ipu, Poranga, Nova Russas, Ararendá, Tamboril e Hidrolândia perfazendo uma extensão de quarenta léguas.

No final do século XVIII, o povoado do Campo Grande, atual Guaraciaba do Norte, encontrava-se mais desenvolvido do que a Matriz de São Gonçalo, ao mesmo tempo em que ficava mais próximo de outros pontos também em desenvolvimento, como Viçosa e Sobral. Por este motivo, os padres da imensa Freguesia acabaram preferindo residir no Campo Grande, deixando em segundo plano a matriz.
Por outro lado, bandos violentos agitavam a serra em constantes brigas de família, ensangüentando a Ibiapaba e, principalmente, o povoado da Matriz de São Gonçalo.
Em 12 de maio de 1791, o território da Freguesia de São Gonçalo emancipou-se politicamente com a criação da Vila Nova d’El Rey. Para sede da vila foi escolhido o povoado do Campo Grande, o que aumentou o isolamento da Matriz de São Gonçalo.

Ainda no final do século XVIII, no arraial do Ipu, foi doado um terreno para constituir o patrimônio de São Sebastião e foi construída a primeira igreja no centro do quadro formado pelas casas do arraial. Essa primeira igreja tinha a frente voltada para o poente e dizem ter sido coberta de palhas.
A 26 de agosto de 1840, a sede da Vila Nova d’El Rey foi transferida para o Ipu, tomando o nome de Vila Nova do Ipu Grande. Mais ou menos em 1845, chega ao Ipu o último cura da Freguesia de São Gonçalo da Serra dos Cocos, o padre Francisco Corrêa de Carvalho e Silva. Ao que tudo indica, foi o primeiro sacerdote a fixar residência no Ipu. Sua justificativa para não morar na sede da Freguesia era o fato de haver encontrado a igreja de São Gonçalo em péssimo estado, com paredes ruindo, o que impossibilitava seu uso para as celebrações. A providência que tomou foi a de mandar demolir a antiga igreja para que fosse construída outra. Enquanto isso, conseguiu autorização para transferir as alfaias e ornamentos para a capela de São Sebastião.

A construção da atual igreja da Matriz arrastou-se por muitos anos. Enquanto isso, resolveu o Padre Corrêa demolir também aquela primitiva capela que havia no Ipu e mandou construir a atual igrejinha.
Dessa forma, a capela da igrejinha remonta à segunda metade do século XIX, não sendo a primeira igreja do Ipu, como dizem alguns.

O Padre Corrêa faleceu no Ipu a 13 de junho de 1881, sendo nomeado para seu sucessor o Padre João José de Castro. No entanto, em 27 de outubro de 1883, a antiga Freguesia de São Gonçalo da Serra dos Cocos foi extinta, sendo criadas em seu lugar as Freguesias de Nossa Senhora da Conceição de Ipueiras e a de São Sebastião do Ipu. A igreja de São Gonçalo passou a ser capela da Freguesia de Ipueiras.
O Padre João José de Castro foi, dessa forma, o primeiro pároco do Ipu, visto que o Padre Corrêa, apesar de residir por aqui, era oficialmente pároco da Freguesia de São Gonçalo.

Em 1886, o Ipu foi elevado à categoria de cidade. A economia e a cultura desenvolviam-se e o padre João de Castro, além de seu trabalho pastoral, atuou em outros âmbitos, tendo sido fundador e primeiro presidente do Gabinete Ipuense de Leitura e organizado a festa de inauguração da Estação da Estrada de Ferro de Sobral, em 1894, ano em que veio a falecer.

Nordeste Notícia
Fonte: Paróquia de Ipu

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