© Foto: Fábio Rocha/Extra/Agência O Globo Em 11 meses de 2017, foram 36,7 mortes violentas por 100 mil habitantes.

Georgina Ferreira, de 60 anos, lutava contra a depressão. Ajudava os vizinhos, da comunidade do Jacarezinho, a conseguir trabalho, usando os contatos que tinha fora da favela. Era seu jeito de vencer a tristeza: pensando nos outros. Estava justamente ajudando uma amiga a fechar seu bar quando uma bala perdida lhe tirou a vida, no dia 20 de agosto. Só após uma rajada de tiros de 20 minutos cessar é que os moradores viram o corpo de “vascaína”, como era conhecida, caído sobre uma poça de sangue.

Georgina é um nome escondido em um somatório que não para de crescer: 2017 caminha para o nada honroso recorde de mortes violentas nos últimos oito anos. O ano passado, encerrado com taxa de homicídios de 37,6 por 100 mil habitantes, já detinha o pior resultado desde 2009, com 44,9 assassinatos por 100 mil moradores. Em 2012, depois de três anos com homicídios encolhendo, o Rio teve um pico “positivo” de 28,7 mortes para cada 100 mil habitantes, mas esse indicador, com a exceção de uma queda em 2015 (de 34,7 em 2014 para 30,3), não para de crescer.

Nos 11 meses de 2017, foram registrados 36,7 assassinatos a cada 100 mil habitantes, e o estado só escapa dessa marca nada honrosa se a Segurança tiver um desempenho milagroso em dezembro. Faltam 89 mortes violentas para 2017 bater as 6.262 de 2016 inteiro.

— Dois mil e dezessete vai superar 2016. Não vai crescer tanto quanto no ano passado, mas a taxa de homicídios será certamente maior — afirma o coordenador do Laboratório de Análise da Violência da Uerj, Ignacio Cano — Em 2016, tivemos um crescimento de 20% em relação a 2015. Em 2017, a alta deve atingir 10%.

Apenas com esse resultado de 11 meses, o Rio já chegaria ao segundo pior índice desde 2010, quando registrou 36,4 mortes causadas pela violência por 100 mil pessoas. Se a conta, entretanto, for feita só com as mortes dos 11 primeiros meses de cada ano, 2017 só teria desempenho melhor, nos dez últimos anos, que 2009 (41,23) e 2008 (41,79). Ficaria, inclusive, em situação bem pior que 2016, que de janeiro a novembro de teve uma taxa de letalidade de 33,99.

Todos esses números, encontrados na base do Instituto de Segurança Pública (ISP), se referem ao dado de letalidade violenta. É um indicador que soma os homicídios dolosos, os decorrentes de intervenção policial, os latrocínios e as lesões corporais seguidas de morte. Especialistas apontam fatores como a crise financeira e o fracasso da estratégia das UPPs como razões para o fenômeno. O ex-secretário nacional de Segurança Pública José Vicente da Silva Filho cita também problemas de gestão na pasta:

— Hoje, há má gestão na segurança. Problemas como a falta de recursos para manter equipamentos e atrasos nos salários também servem como desestímulo para policiais. A polícia terá que passar por uma espécie de refundação para superar a crise. E não se pode esperar resultados a curto prazo. A tendência é que sejam necessários ao menos cinco anos para melhoras.

José Vicente observou que a piora em meio a uma crise financeira é um problema que não se limita ao Rio. Ele cita o Rio Grande do Norte e o Rio Grande do Sul, onde as estatísticas vêm se deteriorando. Dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública (2017) mostram que, no caso do Rio Grande do Sul, a taxa de letalidade violenta subiu de 23,3 para 25,2 (aumento de 8%) entre 2015 e 2016, enquanto que no Rio Grande do Norte passou de 40,4 para 50,2 (alta de 24,4%).

Na avaliação do antropólogo e ex-capitão do Bope Paulo Storani, os indicadores dos últimos dez anos refletem o sucesso inicial da estratégia desenvolvida a partir da criação do programa das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs). E a degradação do projeto, pela falta de recursos:

— Eles começaram a melhorar a partir de 2008 (ano da instalação da primeira UPP, Santa Marta). Aliado a isso, investiu-se no pagamento de melhores salários e no treinamento das forças policiais. O problema é que o projeto não se sustentou ao longo do tempo porque o estado apostou em acelerar a implantação de novas unidades sem ter recursos.

Apesar da tendência negativa, a situação ainda está longe de voltar aos indicadores da década de 90. Em 1994, a taxa de letalidade violenta atingiu 64,8 por 100 mil habitantes. Desde então, o Rio experimentou anos de baixas e altas, mas só conseguiu mesmo deixar pra trás a casa das 40 mortes por 100 mil habitantes em 2010, quando registrou 36,4.

Procurada, a Secretaria de Segurança disse em nota que trabalha “para preservar a vida e a dignidade humana, o controle dos índices de criminalidade e a atuação qualificada e integrada das polícias”.

Nordeste Notícia
Fonte: Agencia O Globo

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