A cada dia, lucro de 1%. Por mês, 30% a mais na conta. A promessa de um alto rendimento aliada a depoimentos com histórias de sucesso de quem já investiu, encanta e deixa passar desapercebida a possibilidade de se tratar de um golpe. Conforme a Polícia Civil, no Ceará, cerca de 500 pessoas já foram vítimas do esquema da pirâmide que comercializa moedas virtuais.
Três plataformas digitais vêm sendo investigadas no Estado pela Delegacia de Defraudações e Falsificações (DDF).
De acordo com o delegado adjunto da Especializada, Andrade Júnior, as empresas, supostamente, norte-americanas, são responsáveis pelo desvio de milhões de reais a partir da comercialização de duas pseudocriptomoedas Bitcoin e Ethereum.
O golpe, já amplamente conhecido em outros estados do Brasil, acontece no esquema de pirâmide. É preciso persuadir novos investidores para subir de nível e aumentar o ganho. Segundo Andrade Júnior, o crime tem início a partir do momento em que é vendido o que não existe. Em determinado momento, a farsa não se sustenta e os pagamentos cessam.
O adjunto da DDF lembra que a comercialização das criptomoedas não é irregular. Elas existem e podem ser negociadas. No entanto, com a alta e rápida valorização, foram criadas falsas plataformas que trazem ofertas de investimentos com lucratividade milionária.
“Ao invés da pessoa acessar a plataforma original do Bitcoin, por exemplo, as vítimas estão adquirindo pseudocotas em outros sites. Geralmente, o golpe se inicia com cinco pessoas. Esse grupo cria uma rede e começa a dar palestra com testemunhos de sucesso. Eles dizem que investiram mil dólares e mostram um falso retorno para conquistarem o público”, detalha o delegado.
Ganhos gradativos
Conforme Andrade Júnior, os primeiros a investirem recebem os lucros. Com o início de um ganho real, é possível persuadir amigos e familiares a também entrarem para o negócio. O passo a passo dito pelo policial civil é reiterado pelo engenheiro Eduardo Meneses, 25, uma das vítimas que registrou Boletim de Ocorrência na Especializada.
Meneses conta que, por indicações de amigos, vendeu o carro para investir o valor de R$ 22 mil em Bitcoins por meio da ADS Play. A partir dos primeiros ganhos, conseguiu convencer a mãe a investir mais R$ 12 mil. Ao todo, levou até a empresa, oito empreendedores.
“Eu ganhava 10% a cada indicação. Recebia os lucros duas vezes por mês. Era 1% de lucro a cada dia. A maioria do pessoal que entrou comigo colocava, em média, R$ 10 mil. Teve um amigo meu que colocou R$ 30 mil. No último dia 6 de outubro foi passado a todos nós que o dono da empresa havia sido sequestrado e eles não teriam mais condições de pagar”, lembra o engenheiro Eduardo Meneses.
Há pouco mais de um mês, o jovem começava a se dar conta que havia caído em um golpe. Ao procurar a Delegacia de Defraudações e Falsificações, se viu com mais 80 outras vítimas prestando queixa pelo mesmo motivo. Conforme Meneses, o número de pessoas que acreditaram nas promessas da ADS Play só foi possível devido ao encontro presencial que acontecia todas as semanas com um representante da empresa.
“Existia uma pessoa que ministrava palestras semanalmente aqui. Nos disseram que os donos estão sendo investigados. Eu investi por confiar nas pessoas que já estavam ganhando dinheiro com isso. Desde esse dia 6, essas pessoas também estão tendo prejuízos. Só em Fortaleza, a ADS levou R$ 1,2 milhão. A maioria dos que eu conheço está com prejuízo de R$ 8 mil”, afirmou Meneses.
O delegado adjunto da DDF lembra que na última quarta-feira (1º) foram ouvidas mais 10 vítimas e instaurado um novo inquérito acerca dos golpes envolvendo moedas virtuais. Andrade Júnior acrescenta que por não ter lastro físico, a Polícia Civil não recomenda a aquisição das moedas.
“No Brasil, há muitos aproveitadores de plantões. Existe a plataforma de ganho real, mas muita gente conhece o sistema e cria falsas plataformas. Estamos identificando os cabeças de cada grupo no Estado. Vamos na base da pirâmide até buscar o topo dela. Não é papel da Polícia recuperar esses investimentos”, disse o delegado. Até ontem, nenhum suspeito havia sido preso.
Supervalorização
A moeda online Bitcoin existe desde 2008, porém, sua comercialização só foi intensificada nos últimos dois anos. Atualmente, um Bitcoin tem valor aproximado de 6,5 mil dólares, o equivalente a, aproximadamente, R$ 22 mil. Já a moeda digital Ethereum chega a R$ 1 mil.
O delegado adjunto da DDF ressalta que, conforme analistas financeiros, a alta demanda para pouca oferta fez com que as moedas se supervalorizassem rapidamente. Com o aumento da oferta, os valores devem se equilibrar e os crimes relacionados a esse comércio diminuir.
Nordeste Notícia
Fonte:Diário do Nordeste