Dormir e saber o que tem para comer na despensa, no dia seguinte, não é realidade para os moradores de 1,1 milhão de lares cearenses atingidos por algum grau de insegurança alimentar, conforme nova pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgada nesta quinta-feira (25). Ao todo, 35,1% dos domicílios – cerca de um a cada três – enfrentam dificuldades na obtenção de alimentos.
Conforme o levantamento, a condição de Segurança Alimentar (SA) reflete o pleno acesso dos moradores dos domicílios aos alimentos, tanto em quantidade suficiente como em qualidade adequada. No Ceará, essa característica está presente em 64,9% das residências, correspondendo a cerca de 2,1 milhões, com base em dados de 2023.
Os demais domicílios se dividem em três categorias:
- Insegurança Alimentar Leve: em 21,4% dos lares, há preocupação com o acesso aos alimentos no futuro e já se verifica comprometimento da qualidade da alimentação; adultos assumem estratégias para manter uma quantidade mínima de alimentos
- Insegurança Alimentar Moderada: em 7,4%, os moradores, em especial os adultos, passaram a conviver com restrição quantitativa de alimentos
- Insegurança Alimentar Grave: no pior nível, que atinge 6,2% dos domicílios, há ruptura nos padrões de alimentação pela falta de alimentos entre todos os moradores, incluindo crianças.
O nível de IA grave no Estado, predominante em 206 mil domicílios, também é o 7º maior do Brasil. Os piores indicadores foram registrados no Pará (9,5%), no Amazonas (9,1%) e no Amapá (8,4%). No Nordeste, o Ceará fica atrás apenas de Pernambuco (6,5%).
Na análise por regiões, o Norte tem a pior situação. Por lá, 39,7% dos domicílios têm dificuldade na aquisição de alimentos. Em seguida, aparece o Nordeste, com 38,8%. O Sul tem o menor índice, com 16,6%; Sudeste e Centro-Oeste aparecem próximas, com 23% e 24,3%, respectivamente.
Segundo o IBGE, a segurança alimentar se refere ao “direito de todos ao acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais, tendo como base práticas alimentares promotoras da saúde que respeitem a diversidade cultural e que sejam ambiental, cultural, econômica e socialmente sustentáveis”.
A pesquisa aponta que o acesso é dificultado principalmente nos domicílios onde os moradores têm rendimento, per capita, de 1/4 de salário mínimo a um salário mínimo. Em famílias com mais de dois salários mínimos por indivíduo, a insegurança alimentar só atinge 5,6% dos lares. A diferença também é acentuada pela localidade: zonas rurais têm ainda mais problemas.
Diário do Nordeste