No calendário católico, a Páscoa é a celebração mais importante do ano. No período, os fiéis são chamados à abstinência da carne como forma de recordar os sacrifícios de Jesus. A prática tem origem nas celebrações da cultura judaica e, atualmente, segue orientações adotadas pela Igreja Católica.
Evitar o consumo da carne vermelha e do frango é prática reservada para dois dias desse período: a Quarta-Feira de Cinzas e a Sexta-Feira Santa. Nestes dias, é comum que o peixe seja escolhido como substituição.
Fora isso, os fiéis também devem fazer abstinência de carne em todas as sextas-feiras do ano, explica o padre Bruno Moreira, vigário episcopal da Região Metropolitana de São José na Arquidiocese de Fortaleza. A exceção é quando grandes solenidades religiosas caem na sexta-feira, como seria o caso do Natal.
Como contextualiza, os cristãos adotaram a abstinência da carne por influência das celebrações antigas da cultura judaica.
Até os dias atuais, os rituais ligados à introspecção e às restrições alimentares marcam os tempos solenes da religião judaica. Como é o caso do tradicional jejum na celebração do Yom Kippur (Dia do Perdão), considerada a data mais sagrada do calendário hebreu.
No catolicismo, a Quaresma é marca o tempo de reflexão e sobriedade em preparação para a Páscoa. O comportamento e as práticas alimentares da Quaresma estão intimamente ligadas ao surgimento do Carnaval, com origens na Idade Média.
“A festa do Carnaval vem daí, a festa da carne. Eles comiam carne durante todo esse período para passar aqueles 40 dias abstendo-se de carne”, recorda padre Bruno Moreira.
Dentre as tradições que se perpetuaram no cristianismo, a abstinência da carne em dias específicos está descrita no Código de Direito Canônico, conjunto de leis que rege diversos segmentos da Igreja Católica, incluindo práticas a serem observadas pelos fiéis.
Os dias de abstinência
Não comer carne na Quarta-Feira de Cinzas e na Sexta-Feira Santa são formas de mortificação e penitência para vivenciar a celebração dos grandes mistérios da fé cristã: a morte e a ressurreição de Jesus.
Durante todo o ano, as sextas-feiras também são dias de recordar a Paixão de Cristo. Conforme o padre Bruno Moreira, a prática da abstinência nesses dias é uma forma de prolongar a celebração desses mistérios.
Na Sexta-Feira Santa, os católicos fazem memória ao dia em que Jesus foi crucificado. Para este dia, a Igreja orienta também que se faça o jejum.
O vigário explica que o jejum é diferente da abstinência de carne: além de evitar carne vermelha e aves, o fiel deve escolher apenas uma refeição completa para fazer durante o dia, deixando que as outras virem refeições pequenas ou lanches.
Na Sexta-Feira Santa, o horário das 15 horas é o período em que toda a Igreja se une para celebrar a Paixão de Cristo. Na tradição católica, esse é o horário em que Jesus morreu. Pelo simbolismo desse dia, existem orientações que vão além das práticas alimentares.
“É o nosso gesto de também estar com Jesus na cruz. E nesse dia, várias obras de penitência poderão ser feitas. Não é só você se abster de carne ou de algum alimento, mas também o jejum e a caridade, que é o gesto mais profundo. É até recomendado que você possa doar esse alimento do qual você se abstém para alguma pessoa que não tem”, complementa o padre.
Assim, o convite para os fiéis é que a reflexão espiritual esteja também presente para dar sentido e demarcar uma das celebrações mais fortes do ano litúrgico católico.
Quem está dispensado da abstinência
A tradição prevê que nem todos terão condições de seguir o jejum e a abstinência. Por isso, existem os casos de fiéis que são dispensados destas práticas.
Conforme o padre Bruno Moreira, um dos quesitos é a idade: o jejum e a abstinência de carne devem ser observados apenas pelas pessoas que tenham entre 15 anos e 60 anos.
Outro fator é se a pessoa tem alguma condição de saúde que impeça a prática, como em casos de pacientes com diabetes. Em resumo, ele lembra que a saúde deve vir em primeiro lugar.
Para estes casos acima, o vigário explica que existe a alternativa de substituir o jejum e a abstinência pelas práticas de caridade.
Essa alternativa também existe para quem não puder fazer abstinência de carne em alguma outra sexta-feira do ano. Conforme prescrito pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, a prática pode ser substituída por obras de caridade e exercícios de piedade.