Desde criança eu sinto muita saudade. Às vezes é de gente, mas tantas outras é de lugares, paisagens, tempos, instantes. Músicas, poesias. Sinto falta de uns cheiros, até. Penso que sinto essas saudades – desmedidas – talvez porque eu tenha sido uma criança e adolescente muito pensante, mas pouco falante. Por isso, guardei muitos detalhes no peito. De amores, dores e de revoltas, claro!
E, a cada fim de ano, fecham-se e abrem-se ciclos, muitos dos quais nos deixam essas e outras saudades. E para quem já acredita carregar, de outras vidas, alguns sentimentos, karmas (?), memórias, ou tanto mais do que esteja no nosso destino traçado de agora – isso existe? -, algumas coisas parecem ter sido feitas para aguçar sensações e são verdadeiras “aulas de saudade”, as quais temos acesso ao longo da vida.
Pedaços de poesias, músicas, piadinhas internas, momentinhos de amor. Que saudades dos amigos e amores, dos professores que amei e admirei e também já autografaram – e poetizaram – em meus cadernos e camisas da farda. Como era bom ver concretizada em suas letras aquelas nossas histórias, detalhes de viver e sorrir.
Hoje, quando penso naqueles momentos de uns tantos anos atrás, sinto saudade, e sinto também que a nossa memória é um dos nossos melhores lugares de existência. Relembrar, para além de reviver, é construir-se feito gente e ter esperança de que a saudade – a boa saudade – é mais uma das formas que a vida nos ensinou para nos fazer eternos na vida um dos outros.
Diário do Nordeste/DAHIANA ARAÚJO