Foi condenado a 32 anos e seis meses de prisão o ex-bancário e comerciante de automóveis em Juazeiro do Norte, Sérgio Brasil Rolim, em audiência nesta sexta-feira (25) por dois assassinatos cometidos há 20 anos na região do Cariri. Sérgio Rolim foi julgado pelas mortes de Maria Aparecida Pereira da Silva e Vaneska Maria da Silva.
Rolim é acusado de ser o principal mentor de uma organização criminosa que agia na região do Cariri. Ele já havia sido condenado a 118 anos de prisão por homicídios e estupros e cumpria a pena em regime fechado. Nesta sexta-feira ele foi condenado por mais dois homicídios.
O julgamento teve início às 8h. A defesa do réu sustentou a tese de que, no caso de Aparecida e Vaneska, não haviam provas da sua autoria. O julgamento reuniu familiares, estudantes e também militantes de direitos humanos.
O julgamento terminou por volta das 17h. Os jurados decidiram pela condenação de Rolim, que deve cumprir pena pelas duas novas mortes. Agora, os 32 anos e seis meses de prisão serão somados ao tempo que ele já cumpre na prisão.
Sérgio Brasil Rolim já foi condenado pelas seguintes mortes:
- Ana Amélia Pereira de Alencar (julgado em 09/09/2005, Rolim foi condenado a 24 anos de prisão);
- Edilene Maria Pinto Esteves (julgado em 06/11/2006, Rolim foi condenado a 28 anos de prisão);
- Telma de Sousa Lima (julgado em 14/11/2008, Rolim foi condenado a 21 anos e 4 meses de prisão);
- Ricardo Guilhermino dos Santos (julgado em 29/08/2005), Rolim foi condenado a 18 anos e 8 meses de prisão;
- Maria Aparecida Pereira da Silva;
- Vaneska Maria da Silva.
Rolim também foi condenado por estupros. No primeiro, a 12 anos de prisão; no segundo, a 14. As ações foram julgadas, respectivamente, em 2004 e 2005.
Tortura e em seguida assassinadas
As investigações da Polícia Civil apontaram que todas as vítimas foram violentadas e, em seguida, assassinadas.
Thelma, Ana Amélia, Vanesca, Eliane, Edilene, Alessandra e Aparecida foram as vítimas dos crimes que aconteceram entre maio de 2001 e março de 2002, nos municípios de Juazeiro do Norte, Crato, Barbalha, Missão Velha, Brejo Santo e Araripe. Alguns dos homicídios seriam queima de arquivo, já que as vítimas sabiam da existência do “Escritório do Crime”.
Motivos passionais e queima de arquivo
Sobre a motivação dos crimes, de acordo com o delegado da Polícia Civil do Crato, Marcos Antônio dos Santos, duas vítimas foram mortas por motivos passionais. Outras três por queima de arquivo, por terem algum envolvimento com integrantes da organização criminosa.
“As duas primeiras vítimas que nós identificamos em Juazeiro do Norte eram casos separados. Detectamos que era motivo mais passional. Um dos envolvidos, o mentor, mandante, tinha um caso amoroso com a vítima. As outras, no Crato, Barbalha e Missão Velha, elas participaram desse escritório no sentido de quando eles [criminosos] praticavam os crimes eles iam para bares e restaurantes e elas participavam dessa comemoração”.
Através do relato de uma testemunha que conseguiu escapar da morte, a Polícia Civil chegou a um nome que já tinha aparecido na investigação: Sérgio Brasil Rolim. A partir daí, os assassinatos de mulheres que aconteciam em diferentes lugares da região começaram a ser associados.
Mulheres incendiadas e corpos mutilados
A professora e vice-presidente do Conselho da Mulher Cratense, Mara Guedes, afirmou em 2021 que a morte das mulheres representa até hoje uma marca cruel da violência de gênero da Região do Cariri. Mara Guedes lembra da crueldade de como as vítimas foram executadas.
“A crueldade era quase tudo igual. Mesma característica. Tirando parte do corpo e incendiando. Essas mulheres na verdade representam a marca presente cruel da violência aqui no Cariri. Mulheres vítimas do machismo e da violência contra a mulher”.
Mara Guedes também relata como era formado o “Escritório do Crime”. Segundo ela, cada membro era responsável por praticar um tipo de crime diferente. Desde a morte de mulheres, como tráfico de drogas e desmanches de carros.
“Esse escritório tinha os matadores de mulheres. Eram organizados neste sentido.Tinha os que desmanchavam carros, os traficantes, dentre outros”, detalhou.
Passados 20 anos dos assassinados, Mara Guedes afirma que o julgamento de um suspeito de participar da morte de duas mulheres ainda não foi realizado. De acordo com ela, ambas mortas pelo “Escritório do Crime”, e responsável pelas mortes de outras mulheres.
“Depois de 20 anos nós temos duas meninas que foram assassinadas também pelo escritório do crime. E o julgamento não aconteceu ainda. Sabem que é, mas não houve julgamento. Sei que o mentor [Sérgio Brasil Rolim] foi julgado pelos seus crimes e ele pegou uns 96 anos de prisão”.
Segundo as investigações, Sérgio Rolim, não agia sozinho. Em depoimento, apontou pelo menos 30 pessoas integrando o escritório do crime. Além de mortes encomendadas, a maioria de mulheres, o grupo praticava assaltos e roubos de carga.
Situação dos acusados
O advogado de Sérgio Rolim informou que acompanha somente os recursos dos crimes de Maria Aparecida Pereira e de Vanesca Maria da Silva e ele nega a autoria dos crimes. Sobre as condenações, ele tenta a progressão das penas.
Já sobre os assassinatos de Luisa Alessandra e Maria Eliane Gonçalves, o Tribunal de Justiça do Ceará disse que o processo está em julgamento na 1ª Vara Criminal de Juazeiro do Norte. Um dos réus morreu durante o processo. Para outros dois acusados, o crime prescreveu em 2015 por terem mais de 70 anos.
O réu Damião Laurentino de Sousa deve ser submetido a Juri ainda com data a ser marcada.
g1