Caso Elmano Freitas (PT) ou Roberto Cláudio (PDT) não cheguem à etapa seguinte, e considerando que Capitão Wagner (União) avance, Cid atuará como “catalizador ou o cupido da renovação dessa aliança no segundo turno”.
As aspas são de falas do próprio pedetista, dadas no último sábado (3), em Sobral, palco de sua entrada na disputa política de 2022.
Certamente é uma função que apenas Cid poderia desempenhar. Juntar os pedaços de uma aliança que o irmão Ciro ajudou a implodir não será tarefa simples, porém.
Há mesmo que se perguntar: existem condições de sanar as feridas de um primeiro turno que ainda deve ter surpresas pela frente?
É cedo para dizer, mas os sinais não são bons. Campanhas deixam marcas, feridas se escancaram, as rusgas se tornam divergências abertas e o debate descamba para hostilidades.
Em parte, foi isso que aconteceu na relação entre PT e PDT não apenas agora, com a campanha já na rua, mas desde o processo de escolha do candidato.
O afastamento entre os dois partidos foi gradual, mas muito violento e com consequências que podem cobrar preço alto no mês de outubro.
Cid é habilidoso e tem fama de bom negociador. O cenário que encontrará pela frente, contudo, não se assemelha a nenhum outro. Sobretudo porque, nesse debate, entra também a variável nacional, que está por se definir.
Elmano e RC vêm fazendo uma campanha com críticas de parte a parte cuja temperatura tende a aumentar, embora não se saiba em que proporção. Isso vai se dar a ponto de inviabilizar uma composição futura?
Cid aposta que não. Mas as eleições de 2020 estão aí para mostrar que um entendimento pós-primeiro turno não se faz como num passe de mágica.
O pedetista se afastou da dinâmica ao fim da qual Roberto Cláudio foi votado e apontado como candidato do PDT ao Governo. Em meio ao processo, o deputado André Figueiredo chegou a falar que o senador estava sendo representado por Ciro, o que hoje se sabe que não era bem assim.
No sábado (3/9), o ex-governador do Ceará e principal liderança do PDT começou a esclarecer a razão pela qual se manteve longe.
“Por razões alheias à minha vontade, contra a minha vontade, essa aliança se desfez agora”, disse, para depois acrescentar que “isso foi contra a minha vontade”, “essa separação”.
As expressões usadas pelo senador falam por si. Houve uma decisão no PDT que o contrariou, e essa decisão foi responsável pela quebra da aliança pela qual ele se sente patrono e que explica o seu distanciamento.
Durante o ato do qual participou no interior, debaixo daquele sol tipicamente sobralense, com 35° C à sombra, Cid correu para lá e para cá adesivando carros com material de Ciro e de Camilo Santana (PT), a quem declarou voto para senador – a candidata da aliança do seu partido é Erika Amorim (PSD).
Não havia nada ali que lembrasse que o PDT tinha candidato ao Governo.
Se Elmano passar ao 2º turno e não RC, tudo isso será esquecido e os pedetistas irão às ruas de braço dado com petistas? Adail Júnior engolirá as críticas e pedirá voto no PT depois de tudo que disse vocalizando o setor que apoiava o ex-prefeito de Fortaleza?
Ou, pelo contrário, se RC estiver na etapa seguinte enfrentando Wagner, os petistas vão fazer vista grossa a tudo que Ciro Gomes falou sobre o partido e o ex-governador Camilo, sugerindo que ele era um traidor e que rompera com Ciro em troca de um cargo num possível governo Lula?
Acordos são sempre possíveis, claro, principalmente na política, mas muita água já rolou sob esse moinho para que se acredite que apenas boa-vontade ou conversa ao pé do ouvido resolvam.
DN