A morte do ator Tarcísio Meira, 85, devido a complicações por Covid-19, nesta quinta-feira (12), reacendeu discussões sobre a eficácia das vacinas disponíveis para combater a doença, mesmo após a aplicação das duas doses. O artista já havia completado o esquema vacinal em março, quando recebeu a segunda dose da CoronaVac.
A esposa de Meira, a atriz Glória Menezes, 86, por sua vez, também foi infectada pelo vírus e internada junto ao marido, mas seu quadro de saúde foi mais brando. Sendo assim, qual a eficácia dos imunizantes contra a Covid-19 após as duas doses? Por que, mesmo vacinadas, algumas pessoas vêm a óbito?
Segundo a epidemiologista, pesquisadora e professora da Universidade Estadual do Ceará (Uece), Thereza Magalhães, todas as vacinas disponíveis contra a Covid-19 são capazes de conferir proteção contra os efeitos mais graves da doença. Sobretudo, 15 dias após a completa imunização com as duas doses. Porém, nenhuma delas possui 100% de eficácia.
Além disso, a idade avançada da pessoa vacinada e outros problemas de saúde associados podem contribuir para o agravamento da Covid-19. Tarcísio Meira, por exemplo, foi intubado e ainda passou por hemodiálise enquanto esteve internado no Hospital Albert Einstein, em São Paulo.
“O que pode dar errado ao aplicar uma vacina? Propriedades da própria vacina, da conservação dessa vacina, e também durante a aplicação. Além das propriedades do corpo que recebe a vacina”.
A epidemiologista também lembra que o sistema imunológico de um idoso está em contínuo “decaimento”. Ou seja, não reage ao efeito das vacinas da mesma forma que o sistema imunológico de uma pessoa mais jovem.
Isso não quer dizer que todos os idosos que tomaram as duas doses da vacina A, X, Y ou Z morrerão. Isso quer dizer que, independentemente de ter tomado as duas doses, a gente tem que sabiamente pensar que nenhuma vacina tem proteção 100%. Todas podem ter suas barreiras furadas em alguma medida”.
THEREZA MAGALHÃESEpidemiologista, pesquisadora e professora da Uece
EFICÁCIAS
No Ceará são aplicadas as vacinas CoronaVac, AstraZeneca, Pfizer e Janssen, sendo somente esta última de dose única (DU). O Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra a Covid-19, do Ministério da Saúde (MS), informa que a CoronaVac teve sua eficácia demonstrada em um esquema contendo duas doses, com intervalo de duas a quatro semanas.
Conforme o Plano de Operacionalização para vacinação contra Covid da Secretaria da Saúde do Estado (Sesa), as vacinas de duas doses possuem as seguintes porcentagens de eficácia:
CORONAVAC/BUTANTAN
- Eficácia: de 77,96% em casos ambulatoriais, hospitalares e 100% em casos graves
- Esquema de vacinação: 2 doses com intervalo de 28 dias
ASTRAZENECA
- Eficácia: 73,43%
- Esquema de vacinação: 2 doses com intervalo de 12 semanas
PFIZER
- Eficácia: 94,6% para casos leves e moderados, e 100% para casos graves
- Esquema de vacinação: 2 doses com intervalo de 12 semanas
Embora os percentuais de eficácia das vacinas sejam díspares, não é correto compará-las entre si. Além de serem desenvolvidas com diferentes tecnologias, os testes de eficácia de cada uma delas são obtidos por meio de recortes amostrais distintos. E a eficácia completa do imunizante só é garantida com o esquema vacinal completo.
O cálculo de eficácia, soma Thereza Magalhães, é mensurado dentro de um laboratório. E isso, não necessariamente, vai se repetir fora do laboratório. Especialmente, por se tratar de um vírus com alto grau de mutabilidade.
Devido a essas constantes mudanças do Sars-Cov-2, todas as vacinas contra o coronavírus, independentemente dos percentuais de eficácia, poderão necessitar de uma dose de reforço. O que deve ocorrer em 2022, estima a pesquisadora.
“Obviamente que quando nós tivermos que fazer o reforço a gente também vai ter que dar prioridade aos grupos mais vulneráveis. E os idosos, com certeza, devem ser um deles pela maior fragilidade do seu sistema imunológico, mas não por conta de vacina A ou vacina B”, diz, orientando a população a não selecionar vacinas.
“Apenas tome duas doses de vacina porque, na prática, fora dos muros do laboratório, na vida real, qualquer vacina tem mostrado proteção contra casos graves e óbitos, mesmo na variante Delta”.
“PACTO COLETIVO”
Supervisor do Centro de Educação Permanente da Escola de Saúde Pública do Ceará (ESP/CE), Fabrício Martins concorda que, mesmo não conferindo 100% de proteção, a vacinação se constitui hoje como a melhor forma de controle da doença. Por isso, defende a necessidade de um “pacto coletivo”, estabelecido por meio da imunização.
“Quanto mais pessoas estiverem vacinadas, mais haverá uma proteção para a comunidade. A arma maior que nós temos agora, além do uso de máscaras, sem dúvida, é a vacinação, seja de qualquer marca. Existem fatores individuais que podem reduzir a eficácia da vacinação, mas isso já é sabido em qualquer vacina, não vale só para Covid-19”.
Ao se vacinar, acrescenta Martins, o indivíduo protege a si mesmo e a coletividade, quem está do lado. “Muita gente não está vacinada, muitas pessoas ainda estão expostas, né? Então, o que precisamos fazer é vacinar, vacinar e vacinar, e manter as medidas de distanciamento e máscara, até que haja um controle maior da pandemia”.
Nordeste Notícia
Fonte: DN