Após o encarceramento por engano do borracheiro Antônio Cláudio Barbosa de Castro pelo estupro de oito mulheres, a Polícia Civil do Ceará identificou o verdadeiro criminoso e pediu a prisão preventiva do homem, que também ficou conhecido como o “maníaco da moto”. A Justiça negou o pedido neste mês.
O maníaco fez uma série de estupros em 2014 nas ruas dos bairros Parangaba, Maraponga e Vila Peri, em Fortaleza, ameaçando mulheres com uma faca. Uma criança de 11 anos, vítima, fez o primeiro reconhecimento de Antônio Cláudio como o agressor e ele acabou preso injustamente. Foi solto cinco anos depois, quando teve a inocência provada pela Defensoria Pública e pelos advogados do Innocence Project Brasil, que atua na defesa de condenados erroneamente pelo poder judiciário.
Em novembro de 2019, o homem apontado como o verdadeiro “maníaco da moto” teve prisão preventiva pedida pela polícia, mas a Justiça negou, segundo os investigadores. Ele chegou a ser preso por um ano e dois meses por ter atacado outras duas mulheres quando Antônio ainda estava na cadeia, porém, foi liberado. O G1 aguarda o posicionamento da Justiça sobre o caso.
“Reunimos todas as provas possíveis e técnicas para colocar esse rapaz na prisão. A gente amarrou tudo para que ele fosse preso e mandamos para o judiciário pedindo a prisão preventiva. Isso em novembro [de 2019], e agora recebemos a decisão do judiciário negando a prisão dele”, afirma a inspetora Daniele de Castro, que acompanha o caso desde o início.
Segundo ela, o judiciário alega que o criminoso não oferece risco à sociedade, tendo em vista que o crime ocorreu há muito tempo. “Ele é um maníaco, ele atacou várias mulheres e continua solto. E a gente, a polícia, investigou e provou pro Judiciário que ele é culpado. Tem uma vítima, que é incisiva no reconhecimento. Ela fica nervosa só em olhar uma foto”, afirma a inspetora.
Inocente livre
Antônio Cláudio foi acusado pelos crimes hediondos que não cometeu e permaneceu preso por engano durante quatro anos e 11 meses. Ele foi encarcerado em agosto de 2014 e voltou à liberdade somente em julho de 2019, quando a Justiça o inocentou em novo julgamento. Antônio Cláudio era dono de uma borracharia no Bairro Mondubim, em Fortaleza, e não tinha passagens pela polícia.
No dia em que ganhou liberdade, Cláudio foi recebido sob os abraços e lágrimas de alívio dos familiares que o aguardavam do lado de fora do Centro de Execução Penal e Integração Social Vasco Damasceno Weyne (Cepis), conhecido como CPPL V, em Itaitinga, Região Metropolitana de Fortaleza.
Homem preso no lugar de estuprador deixa presídio após cinco anos
“Muita coisa que a gente passou junto, minha família, meus irmãos, eu não tenho nem palavras, eu não estou nem acreditando. Pra ser sincero, muita fé eu tive. É muito difícil porque eu não consigo imaginar como pessoas que se consideram seres humanos colocam uma pessoa inocente dentro de um lugar desse aqui onde passei todo tipo de coisa horrível”, afirmou Antônio Cláudio, logo ao sair do presídio.
Antônio Cláudio foi preso durante cinco anos no lugar de homem que estuprou oito mulheres em Fortaleza — Foto: Natinho Rodrigues/G1
Mãe, pai, irmãos e outros familiares foram à Itaitinga receber Antônio Cláudio na estreia da nova etapa de vida do borracheiro. Sem ter realizado visitas ao filho durante o período de detenção, o pai, e também borracheiro, José Joaquim de Castro, falou sobre o sentimento de reencontrar o filho depois de quase cinco anos.
“Sou operado do coração, mas sou forte. Esperei muito tempo, mas Deus é maior. Meus amigos estão tudo esperando a chegada do meu filho lá em casa”, disse.
Evidências do erro
Uma ex-namorada do borracheiro procurar ajuda da Defensoria Pública e dos Advogados do Innocence Project Brasil. Entre as evidências apontadas pela defesa no novo julgamento, os advogados alegam que o autor do crime tem cerca de 1,80 metro, com base em vídeos que registram o homem cometendo os atos. A altura de Antônio Cláudio, condenado por engano, é 1,59 metro.
Família de Antônio Cláudio o aguardou na porta de presídio na Grande Fortaleza — Foto: Natinho Rodrigues/G1
A advogada Flávia Rahal, integrande do projeto, afirma que “a única coisa que sustentou a condenação foi o reconhecimento feito pela vítima” – não houve exame de DNA, por exemplo. O reconhecimento foi feito por uma criança de 11 anos, vítima de estupro. Conforme Rahal, a criança se equivocou ao se convencer de que o borracheiro foi o autor do crime.
Nordeste Notícia
Fonte: G1