Quatro pessoas que estavam soltas foram presas. Mais seis mandados de prisão foram cumpridos contra detentos FOTO: JOSÉ LEOMAR

A organização criminosa cearense Guardiões do Estado (GDE) teve as principais lideranças isoladas em presídios federais e dezenas de outros membros presos, neste ano. Para o chefe da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE) da Polícia Federal (PF), delegado Samuel Elânio, a facção está perto do fim. Ontem, a GDE foi alvo de uma nova operação policial, a ‘Reino de Aragão’.

Elânio revela que o grupo criminoso está sem chefia nas ruas. “Essa substituição não está havendo. Algumas pessoas tentaram ocupar espaços, mas sem muito êxito. Do meu ponto de vista, essa é uma organização que tende a se acabar, senão já se acabou. Seja pela falta de estrutura financeira, seja pela questão do próprio armamento. A gente chegou à conclusão que, se existe armamento na mão dessa organização, é algo muito ínfimo”, completa.

O coordenador do Grupo Especial de Combate às Organizações Criminosas (Gaeco), do Ministério Público do Ceará (MPCE), promotor de Justiça Rinaldo Janja, prega cautela sobre o fim dos Guardiões do Estado: “Essa facção sofreu vários golpes, no ano passado e nesse ano. Mas os órgãos de investigação e de repressão têm que ficar vigilantes, para que não haja essa sucessão dentro da facção”.

A GDE nasceu no bairro Conjunto Palmeiras, em Fortaleza, no ano de 2015, a partir de uma torcida organizada de futebol. Nos anos seguintes, a facção travou uma guerra sangrenta com o Comando Vermelho (CV), em todo o Estado, pelo domínio do tráfico de drogas, a ponto de o número de homicídios ultrapassar 5 mil em 2017.

O início de 2018 foi marcado por matanças. Os Guardiões do Estado foram apontados como autores da Chacina das Cajazeiras e da Chacina do Benfica, que deixaram o total de 21 mortos na Capital. Mas no segundo semestre daquele ano, o Estado começou a reduzir os índices de mortes violentas – o que se repete até hoje.

A maior onda de ataques a instituições públicas e privadas, com mais de 200 ocorrências, foi registrada em janeiro e fevereiro de 2019. GDE, CV e Primeiro Comando da Capital (PCC) estavam por trás dos incêndios criminosos. O Estado foi obrigado a combater, com mais ênfase, as facções criminosas. E uma das medidas adotadas foi a transferência das lideranças dos grupos criminosos para presídios federais de segurança máxima.

Os seis principais líderes da GDE, segundo a Polícia, já estão detidos em outros estados: Ednal Braz da Silva, o ‘Siciliano’; Francisco de Assis Fernandes da Silva, o ‘Barrinha’ ou ‘Guardião’; Francisco Tiago Alves do Nascimento, o ‘Magão’ ou ‘Juara’; Marcos André Silva Ferreira, o ‘Branquinho’ ou ‘Dedé’; Yago Steferson Alves dos Santos, o ‘Supremo’ ou ‘Gordão’; Deijair de Souza Silva, o ‘Mestre’ ou ‘De Deus’. Cada membro da alta cúpula era dono de um anel templário de ouro, com a inscrição da abreviação do apelido, avaliado em R$ 7 mil.

Liderança

O principal alvo da Operação ‘Reino de Aragão’ era ‘Siciliano’, que teve um mandado de prisão preventiva cumprido. A investigação descobriu que ele – mesmo preso em Pernambuco – deu ordens em uma nova série de ataques, ocorrida no Ceará, em setembro deste ano. Desta vez, a GDE foi a única responsável por pelo menos 115 atos criminosos, de acordo com as autoridades.

‘Siciliano’ foi localizado na Operação Torre, deflagrada também pela PF e pelo Gaeco, em 26 de setembro último, para prender os responsáveis por ataques a torres de transmissão de energia, em Fortaleza e Maracanaú, em abril deste ano. A partir de decisão judicial, ele foi transferido de um presídio estadual de Pernambuco para uma unidade federal.

“Diante do trabalho realizado em setembro, nós chegamos a uma pessoa, que estaria presa em Pernambuco. Com as informações que colhemos durante as buscas e a própria prisão, identificamos que essa mesma pessoa estava envolvida não só nos ataques em setembro, como em outras ordens, inclusive colocando em risco a vida de pessoas do Poder do Estado, autoridades, e planos de fuga do presídio”, afirma o delegado federal Samuel Elânio.

Advogada

Um mandado de prisão preventiva também foi cumprido, ontem, contra a advogada Elisângela Maria Mororó, que já estava detida em um presídio de Itaitinga, na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF). Ela foi presa no Município de Catarina, no dia 13 de novembro último, por suspeita de vender cocaína por R$ 15 mil, o quilo. Na residência onde a mulher estava, que seria de propriedade de um líder da organização criminosa, foram apreendidos uma pistola e 500g da droga.

Segundo Elânio, a atuação da advogada na GDE se dava “de diversas formas”. “Levando e trazendo recado, trocando mensagens com aquele preso em Pernambuco. Não seria uma mera integrante, ela participava diretamente da situação. Não propriamente dos ataques (execução), mas ela seria uma das mentoras de tudo que ocorreu no Estado neste ano, em relação aos ataques das organizações criminosas”, explica.

Operação

A ‘Operação Reino de Aragão’ foi deflagrada pela PF e pelo Gaeco, com apoio das polícias Civil e Militar, da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), da Secretaria da Administração Penitenciária (SAP) e do Departamento Penitenciário Nacional (Depen).

O objetivo era o cumprimento de 31 mandados de prisão preventiva e 20 mandados de busca e apreensão, no Ceará, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Paraná, expedidos pela Vara de Delitos de Organizações Criminosas da Justiça do Estado do Ceará. Cerca de 140 policiais (sendo 80 federais, 50 militares e 10 civis) participaram da Operação. Dez mandados de prisão foram cumpridos, sendo seis contra alvos que já estavam no cárcere e quatro contra pessoas soltas, até o fechamento desta matéria.

Na ação, foram apreendidos computadores, aparelhos celulares, munições e pequena quantidade de cocaína.

No Ceará, os mandados foram cumpridos em Fortaleza, Maranguape e Juazeiro do Norte. Mais especificamente na Capital, os alvos estavam localizados tanto na periferia como na área nobre. Entre os bairros visitados pelos policiais, estão Vicente Pinzón, Conjunto Palmeiras, Lagamar, Autran Nunes e Meireles. Os investigados irão responder, conforme a conduta, pelos crimes de dano, incêndio e organização criminosa.

O nome da Operação faz referência ao principal alvo da investigação. “Siciliano nos remete à Sicília, região da Itália. Há muito tempo, a região da Sicília, junto com a região da Espanha, foi comandada pelo imperador Aragão. E a região de Sicília, como outras regiões próximas, ficou conhecida como ‘Reino de Aragão'”, esclarece o delegado federal Samuel Elânio.

Integração

O chefe da Delegacia Regional de Combate ao Crime Organizado (DRCOR), delegado Paulo Henrique Oliveira, ressaltou o trabalho integrado dos órgãos no enfrentamento às facções criminosas:

“A integração é fundamental para esse tipo de combate. A gente tem feito e aperfeiçoado, cada vez mais, essa união de forças, para tentar trazer um estado de paz para a comunidade cearense”.

O promotor Rinaldo Janja destacou também a importância da criação da SAP e do trabalho realizado nos presídios do Ceará para frear as facções: “Como é adotada a disciplina e a fiscalização pela Secretaria da Administração Penitenciária, barrou a comunicação do presídio para a rua”.

Nordeste Notícia
Fonte: Diário do Nordeste

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