Os primeiros passos que damos são sempre os mais complicados, não é mesmo? Foi assim com a internet no Brasil. Inicialmente, tivemos o apoio para navegar na internet, seja na fase pré-internet ou nos primórdios do serviço comercial, com duas empresas: Empresa Brasileira de Telecomunicações (Embratel) e Rede Nacional de Pesquisa (RNP). Cada uma ao seu estilo foi fundamental para chegarmos aos dias atuais.
Considerando que a Internet já estava presente nas universidades brasileiras no final de 1980 até meados de 1990, a Embratel buscou apoio na COPPE-UFRJ para transferência de conhecimentos na implantação dos serviços. Foram realizados vários treinamentos da equipe da Embratel na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e a COPPE se prontificou em auxiliar a implantação, por meio de um convênio existente. A proposta inicial do serviço comercial a ser oferecido foi utilizar a infraestrutura de telefonia da época como conexão à internet. “Sendo assim, a Embratel ativou conexões com provedores internacionais, como MCI World Com, TeleGlobe, entre outros, e forneceu acesso discado em velocidades de 14.400bps e 28.800bps. Os primeiros serviços foram de correio eletrônico e a Web. Um novo modo de vida estava se desenhando”, afirmou Marcello Miguel, diretor executivo de Marketing e Negócios da Embratel.
Segundo Miguel, as informações eram passadas de um ponto a outro do planeta com uma velocidade jamais vista para aquela época. “O serviço comercial neste formato foi lançado em maio de 1995. Os desafios eram enormes, pois o conhecimento acadêmico da rede se associou às complexidades do uso em larga escala por clientes que, muitas vezes, não tinham conhecimento da rede. Com o acesso das pessoas à rede, um grande negócio de produção de informações surgia, os Provedores de Serviços”.
Já a RNP foi criada em setembro de 1989 com o objetivo de iniciar uma infraestrutura nacional de rede de internet de alcance acadêmico. Paralelamente à implantação de sua primeira rede, a RNP se dedicou a diferentes atividades, além de divulgar serviços de internet na comunidade acadêmica por meio de seminários, montagem de repositórios temáticos e treinamento, promovendo a formação de uma consciência de sua importância estratégica para o país. “O primeiro backbone da RNP iniciou suas operações em 1992, conectando dez estados e o Distrito Federal. Em maio de 1995, teve início a abertura da internet comercial no Brasil. Nesse período, a RNP passou por uma redefinição de seu papel, estendendo seus serviços de acesso a todos os setores da sociedade. Com essa reorientação de foco, ofereceu um importante apoio à consolidação da internet comercial no país”, afirmou Nelson Simões, diretor geral da RNP.
De acordo com Simões, a RNP operou tráfego comercial por três anos, entre 1995 e 1998, em alternativa à Embratel, que estava impedida pelo governo de exercer o monopólio de serviços de redes de dados no Brasil. A atuação desta foi limitada à provedora de serviço de backbone de internet comercial, papel também assumido pela RNP nesse período. “Na época, a RNP sentiu a pressão do setor de telecomunicações para a comercialização da internet. Em 1995, já existia o backbone acadêmico em TCP/IP, desde 1992, com duas saídas internacionais, uma em Brasília e outra em São Paulo, e uma capacidade que alcançava 2 Mb/s, considerada elevada à época em comparação às redes de dados desse período. Sustentamos-nos em meio a essa turbulência, pois defendíamos que era preciso mais capacidade de banda para o progresso da ciência. Detentora do monopólio no País à época, a Embratel demorou a entender uma característica essencial da internet que a diferencia da telefonia: a descentralização”.
A Embratel também sentiu a pressão da internet comercial nos primeiros anos do serviço. “Todos os aspectos do projeto de implementação de internet comercial foram desafiadores. A Embratel tinha conhecimento amplo sobre a tecnologia e sobre como implantar a rede. Porém, um dos maiores desafios era medir a performance do serviço prestado com a infraestrutura de telefonia existente na época. Era um desafio saber se o cliente teria uma boa experiência na utilização do serviço. Como não havia dados de referência, era difícil encontrar uma forma de medir esse desempenho. Não tínhamos disponível um mercado modelo para isso. Nos Estados Unidos e demais partes do mundo, por exemplo, a infraestrutura não era igual. Desta forma, o desafio da Embratel se tornava único. Alguns meses após o lançamento do serviço, começamos a entregar conectividade com IP sobre X25, e em seguida IP sobre Frame-Relay. Esta combinação das tecnologias nunca tinha sido utilizada no Brasil e era novidade até mesmo para os fabricantes que disponibilizam os equipamentos que compunham a rede, o que tornava o desafio ainda maior”, afirmou o gestor da Embratel.
Os desafios da Embratel envolviam também a necessidade de modernização da rede e a inserção de nova tecnologia, de modo a fornecermos priorização de tráfego baseado em mecanismos de QoS (qualidade de serviço) para garantir diferentes ofertas, incluindo voz pública via internet. “Tivemos que buscar ferramentas de análise e estudo do comportamento de rede, de modo a simular e atuar preventivamente sobre possíveis ocorrências e interrupções. Expressivos aumentos de capacidade dos links internacionais para os provedores nos Estados Unidos também representaram um enorme desafio”, disse Marcello Miguel.
Provedores, segurança e o retorno às origens
A RNP ajudou a criar o Centro de Informações da Internet/BR, para dar suporte ao surgimento de provedores e usuários da rede. Mais de 3.000 questões relativas à internet foram respondidas em seu primeiro ano de funcionamento. A RNP também criou o primeiro centro de segurança de redes brasileiro. Inúmeras empresas fabricantes de bens de informática, tais como Compaq, Equitel, IBM, Philips, entre outras, passaram a oferecer apoio concreto à RNP, fornecendo equipamentos, software e, mesmo, financiando atividades diretas do projeto.
Com a transformação da RNP em organização social e o interesse do Ministério da Educação em mantê-la para o atendimento das universidades e outras instituições, surgiu o Programa Interministerial entre Ministério do Planejamento e Orçamento (MPO), Ministério da Indústria, Comércio e do Turismo (MICT) e Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), em 1998. “Acredito que a decisão sobre a formação do PIRNP se deve à visão estratégica do então MCTI, que viu a internet como elemento importante para o futuro da educação e pesquisa e, em grande parte, à necessidade do Ministério da Educação (MEC) de viabilizar o acesso aos periódicos científicos eletrônicos. A partir daí, a RNP pôde voltar à sua essência: continuar contribuindo para o uso inovador de redes avançadas no país e para a constante evolução da internet”, disse Simões.
Desafios e passos para o futuro
Segundo Marcello Miguel, a Embratel enfrentou muitos desafios para implantar a internet comercial no País. Entre eles ser o primeiro provedor de acesso à internet no Brasil, além de ser o primeiro a conectar instituições brasileiras com outras do exterior, ainda antes da rede comercial. “Atingir o maior número de conexões com os Provedores Internacionais e ter a maior banda contratada para tráfego de Internet no Brasil também foram marcos. A Embratel foi pioneira na implantação de serviços de VPN (Virtual Private Network) e Multicast, em um Backbone IP/MPLS. Também foi pioneira na implantação de ferramentas de Gerência de Tráfego, utilizando tecnologia de ponta na época; e ao fornecer suporte aos serviços de Telefonia IP em escala Nacional. Também podemos mencionar o lançamento de diversos satélites com tecnologia de ponta que ajudaram a democratizar a Internet no Brasil, permitindo transmissões de importantes eventos”, concluiu Miguel.
Já a RNP hoje é uma plataforma digital para educação, pesquisa e inovação no Brasil, sistema que beneficia milhões de alunos, professores e pesquisadores. Se não faz mais a conexão do usuário comum com a grande rede, hoje liga pessoas com objetivos em comum em um ambiente que propicia a produção de conhecimento. “Para isso, ofertamos serviços para promover a colaboração e atender às necessidades de pesquisa, educação e inovação de nossas comunidades. São 30 anos de história e queremos continuar impulsionando a Ciência e a Educação no país. Com apoio de nossos parceiros, temos trabalhado para chegar cada vez mais no interior, a fim de incentivar a colaboração com foco em ensino e pesquisa, independentemente da localização. Só assim oferecemos oportunidades iguais para educação, saúde, inovação, pesquisa, cultura e segurança”, conclui Simões.
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Fonte: Diário do Nordeste