Guarda Nacional Venezuelana bloqueia a fronteira da Venezuela com o Brasil na cidade de Pacaraima (RR), nesta sexta-feira (22). Os venezuelanos que estavam no Brasil não conseguem voltar para a Venezuela e estão contornando pelas montanhas o bloqueio da guarda nacional venezuelana que mantém fronteira fechada após a ordem do presidente Nicolas Maduro.

A secretaria da saúde de Roraima pede doação de sangue para vítimas do confronto entre indígenas pemones e militares na fronteira entre Brasil e Venezuela ontem. Pelo menos três venezuelanos estão internados no Hospital Geral de Roraima com ferimentos à bala, informa o órgão. Duas mortes foram confirmadas do lado venezuelano após o presidente Nicolás Maduro anunciar que fecharia a fronteira entre os dois países. Segundo a imprensa internacional e voluntários, militares chavistas têm se deslocado para a cidade Santa Elena de Uirén, por onde deveria entrar caminhão com suprimentos hoje.

Opositores denunciam suposta presença de tanques na divisa com o Brasil. De acordo com o governo de Maduro, o bloqueio fronteiriço tem o objetivo de evitar que “os imperialistas”, como se refere a Estados Unidos e aliados da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), se infiltrem no país para derrubá-lo. Aliada da Venezuela, a Rússia acusa os Estados Unidos de tentarem armar a oposição venezuelana com a desculpa de envio de carga humanitária, como ocorreu na Síria.

Na última quinta-feira, Maduro disse ter garantido medicamentos para população com dinheiro do governo e ajuda russa. A mensagem foi um recado para os Estados Unidos e clara recusa à ajuda humanitária proposta pelos americanos e seus aliados.

O impasse sobre o recebimento ou não da carga com 200 toneladas de suprimentos deve continuar por todo o dia de hoje. Representantes de países vizinhos, inclusive Brasil e Colômbia, vão acompanhar a chegada do comboio de alimentos e remédio na expectativa de que haja reabertura de fronteira.

“Maduro tem dificuldade de admitir a falta de abastecimento porque legitima o discurso internacional de que ele está levando o país a frangalhos. Já houve acordo para ajuda internacional e a ONU controla os recursos no setor de saúde. Em tese, essa ajuda humanitária é vista como fortalecimento do Guaidó”, afirma o coordenador do curso de Relações Internacionais da Universidade Federal de Roraima (UFRR), João Carlos Jarochinski. O pesquisador não descarta uma escalada de violência, caso haja tentativa de entrada no país sem autorização oficial do governo.

“Se forçarem a entrada vai configurar um quadro de tensão. Como o recebimento dessa carga vai ocorrer do lado interno venezuelano, pode ser que tenha armas e pode ser que sejam implantadas armas pelo governo (para justificar futuros bloqueios). Se for assim, pode partir para um quadro de conflito, até uma guerra civil. A gente não sabe. É preocupante”, afirma.

Líder da oposição e autoproclamado presidente interino, o congressista Juan Guaidó solicita ajuda internacional e conta que seus apoiadores possam recebê-la nas fronteiras. Ele também deu um prazo, até hoje, para que os militares permitam a entrada da carga no país. “Hoje a Venezuela está extremamente militarizada. As pessoas pensam em saída política, mas na verdade depende de uma ação das forças armadas”, avalia Jarochinski.

Guaidó compreende que, mais que a comoção internacional e a ainda improvável intervenção americana, ele precisa da ajuda do grupo que mantém Maduro no poder: o exército. Em sua conta no Twitter, o parlamentar tem feito apelo aos militares para tentar dissuadi-los. Segundo ele, os generais precisam decidir como querem ser lembrados na história. “Já sabemos que estão com o povo, vocês já deixaram muito claro. Amanhã (referindo-se a hoje) poderão demonstrá-lo”, escreveu.

De acordo com o professor de relações internacionais da Fundação Getúlio Vargas, Oliver Stuenkel, o dia de hoje, com caminhões nas fronteiras e toda a atenção da mídia internacional, será a tacada final de Guaidó para pressionar Maduro. “Se não ocorrer grandes confrontos ou deserções, Guaidó terá enorme dificuldade de manter a atenção e interesse internacional nesta causa”, disse.

Pelo menos 25 países já reconheceram oficialmente Guaidó como presidente interino. Por outro lado, há os países que apoiam o atual governo e interpretam o movimento da oposição como golpe. Tanto Guaidó como Maduro convocaram apoiadores para participar de manifestações neste sábado.

Mesmo após o fechamento da fronteira, ainda sem data para ser reaberta, o Brasil anunciou que mantem a ajuda humanitária em colaboração com os Estados Unidos. O País está entre os que não reconhecem o governo Maduro, mas já garantiu que não tem intenção de cruzar fronteiras ou intervir com as forças armadas. A carga de suprimentos (leite, arroz e outros produtos) será levada para Santa Elena por caminhões e motoristas venezuelanos, evitando a entrada indesejada de brasileiros em território alheio.

Reunião

Além das autoridades brasileiras, o encontro desta segunda-feira, 25, contará com a presença do vice-presidente norte-americano, Mike Pence, o secretário-geral da Organização dos Estados Americanos, Luis Almagro, e líderes regionais.

O encontro ocorre logo depois de o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, anunciar o fechamento da fronteira do Brasil com a Venezuela desde ontem, 21, à noite.

A ajuda humanitária e o acirramento da crise no país vizinho serão os temas da reunião em Bogotá.

Dos 14 integrantes do Grupo de Lima, 11 reconhecem Juan Guaidó como presidente legítimo da Venezuela, incluindo o Brasil. Hoje completa um mês que Guaidó se autoproclamou presidente interino do país.

“Vamos para a avalanche humanitária!

Convocamos todos para mobilizar amanhã #23F em todos os quartéis. Vamos em paz, sem violência e com determinação de mudança para exigir que a ajuda humanitária seja inserida”, publicou Guaidó em sua conta no Twitter, por volta de 23 horas de ontem.

Ontem, Ernesto Araújo se reuniu com o presidente interino, em Cúcuta. A cidade recebeu ato contra o regime de Maduro. Estiveram presentes os presidentes da Colômbia, Iván Duque, do Chile, Sebastián Piñera e do Paraguai, Mario Abdo.

Nordeste Notícia
Fonte: O Povo/ISABEL FILGUEIRAS

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