Duas vítimas, que pediram anonimato, relataram o caso com exclusividade ao Tribuna do Ceará sobre as agressões sofridas no Clube dos Calçadistas, na madrugada de sábado. O agressor teria cerca de 28 anos e seria praticante de jiu-jitsu.
Convidada por uma das formandas, a vítima A estava com outras 13 amigas, perto das mesas do local da festa.
“De repente, me virei e fui acertada no rosto com um soco, por este sujeito. Na hora, só pude perceber que ele estava sorrindo. Não entendi nada. Apaguei por uns segundos. Quando acordei, ele estava no chão, mas não consegui ver mais nada, pois minhas amigas me levaram pra longe. Só lembro de escutar que ele não sofreria nada, que é conhecido por fazer isso”, relatou a vítima que foi agredida com um soco no lado esquerdo do rosto.
Depois do ocorrido, ela foi registrar um Boletim de Ocorrência na Delegacia Regional de Sobral, na manhã de domingo.
“Entrei em contato com outra mulher agredida. Ela conseguiu contactar uma das outras vítimas, que preferiu não seguir com o caso porque seu namorado foi ameaçado. Soube que o namorado dela havia sido espancado porque ele foi um dos que pôs o agressor no chão. Duas amigas minhas viram todas as agressões, outras viram apenas a minha. Deve ter dezenas de pessoas que viram pelo menos uma das agressões”, revelou A.
Com dores no maxilar, ela diz que já se sente bem. No entanto, o abalo psicológico e a sensação de impunidade são as maiores dores, diz ela.
“O maior abalo é psicológico. Nunca pensei que poderia passar por isso na vida. Não consegui fazer nada no domingo, nem ontem. Já chorei muito. A sensação de impotência e de humilhação, não tenho como te descrever. É muito difícil. Parece que vivi um pesadelo e consegui acordar só agora”, relata a jovem.
Outra vítima
Também na mesma festa, a vítima B conta como sofreu a agressão. Ela estava perto do palco, na pista de dança, com diversos amigos. Depois, decidiu sair para encontrar os pais que estavam na mesa de uma das formandas.
“Passei por esse grupo de rapazes. Tentei passar por eles e fui atingida no rosto. Quando caí no chão, olhei pra cima tentando entender o que tinha acontecido, não acreditei. Ele estava rindo com os amigos dele”
“Nesse caminho, que era uma reta, passei por esse grupo de rapazes. Tentei passar por eles e fui atingida no rosto. Quando caí no chão, olhei pra cima tentando entender o que tinha acontecido, não acreditei. Ele estava rindo com os amigos dele. Não tinha ninguém ali que ia sair em minha defesa. Percebi que tinha levado um murro, levantei, corri em direção a mesa e comecei a chorar”, revelou.
A vítima B, que também levou um soco do lado esquerdo do rosto, conta que descobriu o contato de outras que também foram agredidas. Ela reforça que algumas têm receio de denunciar porque o agressor é de uma família conhecida na cidade.
“Não ficou roxo, mas um leve edema. Sinto dor de cabeça, no maxilar, no pescoço… Estou revoltada. Você vê que é realmente difícil. Por mais que a gente se sinta forte, ali, na hora, não tem como se defender. É você, sozinha, contra vários homens. Viram a agressão ali, presenciaram e não fizeram nada. Você se sente incapaz, frágil… E pode ainda não dar em nada. É um caso de se sentir impotente mesmo”, desabafou.
As duas vítimas já realizaram exame de corpo de delito e registraram Boletim de Ocorrência por Lesão Corporal Dolosa. O suspeito tem cerca de 28 anos e seria lutador de artes marciais.
Segundo a Delegacia Regional de Sobral, o caso está sendo investigado e está sob segredo de Justiça. Procurada, a Delegacia da Mulher de Sobral informou que é responsável apenas por casos que dizem respeito à violência doméstica, estupro e crimes contra transexuais, todos ligados à Lei Maria da Penha.