Outro diferencial, explica ele, é o custo para a operação do transporte das águas. “No transporte de água, você não tem sempre a gravidade ajudando. Tem que ter as estações de bombeamento que chega a dar 60% do custo operacional de um sistema de transporte de água”, reforça.
Na adução subaquática, conforme a pesquisa apresentada pelos professores, não haveria nenhum custo energético, pois a energia necessária para impulsionar o fluxo das águas seria gerada pelo vento. “Usaria a energia do vento em alto mar. Seria adequada para transportar essa água, pois o sistema estará no mesmo nível”.
A estimativa é que a energia necessária para vencer a resistência da tubulação seria oriunda de uma pequena estação eólica afastada da costa, localizada entre os municípios de Parnaíba (PI) e Camocim (CE).
A viabilidade da proposta foi avaliada e divulgada em um artigo científico em na revista internacional Water, este ano. O estudo aponta um custo estimado de US$ 250 milhões para a projeto. A tubulação subaquática, segundo Daniel, seria instalada a uma distância de 2 a 3 km mar adentro. Com uma profundidade de 20 a 25 metros, com escoras fincadas no fundo do mar. “Para localizar os tubos submarinos, escolhemos um caminho que otimizasse o consumo de materiais e, ao mesmo tempo, possibilitasse a conformação adequada do litoral entre a foz do rio e o ponto de entrega na metrópole”, argumentam os pesquisadores.
Escolha
Daniel explica ainda que três fatores influenciaram a escolha do Rio Parnaíba nessa proposta de alternativa de abastecimento: a vazão média do rio, que é de 763 m³/s, suficiente para suprir as necessidades da capital cearense, a qualidade da água – própria para consumo e a proximidade do rio com Fortaleza. “O Rio Parnaíba já é utilizado para abastecimento. Pode até ter algumas partes poluídas, mas na foz ele não é”, reforça o pesquisador.
O professor defende que esse tipo de adutora, embora seja novidade no Brasil, não é “fora do comum” e já conta com experiências bem sucedidas em outras partes do mundo. No artigo, os pesquisadores dizem que recentemente, “a construção de um oleoduto submarino de 80 km de profundidade, de 8.000 metros de profundidade no Mediterrâneo, para transferir água da Turquia, para a estação de bombeamento de Güzelyali, no norte de Chipre, tornou as capturas subaquáticas uma opção realista para o consumo transfronteiriço”. Além da transposição de para Fortaleza, a pesquisa analisou a viabilidade de adução subaquáticas do Rio Huanghe para a cidade de Dalian, na China, e do Rio Nilo, no Egito, para Tel Aviv/Gaza, em Israel e na Palestina.
Contudo, o professor ressalta que no território latino-americano essa proposição é inovadora “No Brasil não existe nada parecido com isso. De trazer água do mar movimentado por energias, essa ideia de adução subaquáticas movidas por eólicas”.
Questionado se após a divulgação da pesquisa, houve algum contato com representante do poder público para sugestão do projeto no Ceará, Daniel informou que não. Desde abril deste ano, o Decreto 9.335/2018, estabeleceu que a bacia hidrográfica do Rio Parnaíba – que possui áreas do Piauí, Maranhão e Ceará – passou a contar com um comitê de bacia. O colegiado tem, dentre as funções, estabelecer mecanismos de cobrança pelo uso de recursos hídricos e sugerir os valores a serem cobrados.
Nordeste Notícia
Fonte: Diário do Nordeste/Thatiany Nascimento