O Conselho Estadual de Recursos Hídricos (Conerh), órgão que coordena e fiscaliza a execução da política de recursos hídricos, se reúne na manhã desta terça-feira, 21. Na pauta, dois temas que, desde o início do segundo semestre de 2023, estão na linha de preocupação para 2024 e sobre o que poderá acontecer nos anos seguintes: “Perspectivas das implicações do El Niño no semiárido nordestino” e a “Situação do aporte hídrico no Ceará”.
Hoje, o consenso entre meteorologistas e gestores de águas é de que com o atual El Niño, fenômeno de superaquecimento da superfície do Oceano Pacífico, o próximo ano estaria se consolidando para um período de estiagem severa no Nordeste. Com isso, a recarga dos açudes cearenses deverá ser impactada na próxima quadra chuvosa, que vai de fevereiro a maio, e já nesta pré-estação, em dezembro e janeiro.
O receio, com a temperatura tão elevada na superfície dos mares, é até de que se inicie um novo ciclo prolongado de seca na região. Como foi de 2012 a 2018, com sete anos de precipitações abaixo da média, no mais longo período de estiagem registrado no Ceará. O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) define como a pior seca anotada no semiárido brasileiro.
O El Niño já tem registros, em alguns recortes de pontos oceânicos e períodos, de segundo a quarto mais quentes da história. O fenômeno foi considerado muito grave em séries dos anos 1982–1983, 1997–1998 e 2015–2016. E este mais recente seria o mais parecido com o atual momento.
“Na área mais a oeste do Pacífico Equatorial, está entre o segundo maior El Niño de toda a história. Na área mais centralizada, passa para o terceiro a quarto (pior)”, descreve o presidente da Funceme, Eduardo Sávio Martins. Durante a reunião do Conerh, a apresentação sobre o El Niño será feita pelo representante da Funceme.
Segundo Martins, os oceanos nunca estiveram tão quentes. As informações são de pelo menos seis modelos e sistemas de acompanhamento no globo terrestre, em séries comparadas por mês e trimestre. As águas do Atlântico Norte, que mesmo não sendo tão influentes poderiam amenizar esses efeitos, também estão muito mais quentes do que o normal e pioram os cenários projetados para 2024.
“O hemisfério norte está todo aquecido. Se isso aqui continuar, acho difícil com essa amplitude atual a gente reverter, os ventos alísios dos hemisférios norte e sul vão convergir mais ao norte. A Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) vai ficar longe (do continente) e não produzirá chuvas para o Nordeste e o Ceará. É por isso que a Amazônia está na seca grande. A ZCIT está lá em cima”, detalha.
Martins até chama atenção que, desde 2016, uma nova cor precisou ser incluída nos gráficos com as medições de temperatura da superfície dos mares (TSM). Até então, a maior anomalia (desvio) usava o bordô para mostrar 3°C acima da média. Agora, a cor oliva confirma que a escala dos registros piorou.
O encontro do Conerh será na sede da Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh), no Parque Iracema. O Conselho é presidido pelo titular da Secretaria estadual de Recursos Hídricos (SRH), atualmente Marcos Robério Ribeiro Monteiro. São 14 membros, com gestores diretos do setor, representantes de outras secretarias estaduais e entidades classistas.
Entre as atribuições, o órgão conduz as negociações para o uso, oferta e preservação das reservas existentes, também deliberando as regras a serem cumpridas sobre isso. Ainda faz a articulação entre os órgãos municipais, estaduais e da União do setor e a sociedade civil.
Açudes cearenses têm 40,8% de volume armazenado
Entre os 157 açudes monitorados pela Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh), o volume total acumulado no Ceará está em 40,8% (7,5 bilhões de metros cúbicos). Será a Cogerh que fará a explanação durante a reunião do Conselho Estadual de Recursos Hídricos, na manhã desta terça, 21.
Se as chuvas forem insuficientes ao longo de 2024, este volume precisará durar todo o próximo ano. A preocupação é principalmente com regiões hidrográficas no Estado que sempre apresentam aportes ruins.
Uma das mais críticas é a Bacia do Banabuiú, com 19 açudes espalhados em 12 municípios do Sertão Central e Vale do Jaguaribe. Entre todos os novembros de 2014 a 2022, os volumes de água armazenados na bacia do Banabuiú foram descritos como “muito crítico” (abaixo de 10%, de 2015 a 2019 mais 2021) ou “crítico” (de 10% a 30%, em 2014, 2020 e 2022).
Pelas chuvas tradicionalmente abaixo da média, a região chega nesta época do ano com as barragens esvaziadas. O açude Banabuiú, o terceiro maior do Ceará, está com 38,36% de reserva (588,4 milhões de m³) — o melhor cenário em anos, mas ainda bem abaixo do ideal. Neste novembro de 2023, o quadro da bacia é tido como “de alerta” (está com 35,82%). As bacias do Curu (28,84%), do Médio Jaguaribe (24,89%) e dos Sertões de Crateús (21,34%) estão com volumes atuais ainda menores. Os dados são do Portal Hidrológico, em registros desta segunda-feira, 20.
O Povo