Um decreto que firma o tombamento definitivo do Sítio Patu, em Senador Pompeu, foi assinado nesta segunda-feira (27). O local foi utilizado na década de 1930 como campo de concentração para retirantes da seca no Ceará. A assinatura do governador Elmano de Freitas marca, de vez, o conjunto arquitetônico como Patrimônio Histórico e Artístico do estado.
O tombamento corresponde à capacidade de pesquisa, estudos e reflexão histórica que o espaço propicia. Entre os campos de concentração, o Sítio Patu é o único que permanece com ruínas de pé. Com cerca de 9 km², o lugar contribui para estudos acadêmicos e potencial desenvolvimento turístico da Região Central do Ceará.
O “Campo do Patu” funcionou de 1932 a 1933 e chegou, segundo estimativas, a confinar cerca de 20 mil pessoas oriundas de diversas partes do estado. Mesmo com a escassez de documentos oficiais, existe a previsão de oito a 12 mil mortos enterrados em valas coletivas na região.
“Tão importante quanto a preservação do Sítio Histórico, a medida traz à tona as histórias de vida das pessoas que ali estiveram e como a seca de 1932 institucionalizou as práticas de confinamento. É o reconhecimento de um crime contra a humanidade, em especial, contra os mais pobres”, declarou Elmano de Freitas.
O tombamento visa preservar a volumetria, fachada e ambientes internos, sendo proibidas ações de demolição ou mutilação destes imóveis. Qualquer reforma, alteração, modificação ou restauro só é possível após licença prévia da Coordenadoria de Patrimônio Cultural e Memória (Copam).
“É uma história dos flagelados da seca, das pessoas que foram submetidas a trabalhos forçados. Elas procuravam melhores oportunidades e eram colocadas nestes espaços praticamente para morrer. Essa memória está sendo finalmente reconhecida”, disse a titular da Copam, Jéssica Ohara.
Processo de tombamento
O primeiro pedido de tombamento para o Sítio Histórico do Patu aconteceu em 1996 e foi realizado pelo grupo “19-22”, liderado pelo advogado e ativista Valdecy Alves. Em julho de 2019, o sítio foi tombado como “patrimônio histórico-cultural municipal” pela cidade de Senador Pompeu. Sensível a décadas de reivindicações e espera pelo reconhecimento oficial, o Ceará concretiza o tombamento definitivo em 2023.
“Enquanto não saímos desse processo de apagamento, de fingir que as coisas não aconteceram, nunca iremos chegar ao consenso com nosso passado. É ter um entendimento do que aconteceu e tentar que essa situação nunca volte. Principalmente, quando pensamos nas novas questões climáticas que podem causar outras tragédias humanitárias. Temos que estar preparados para não repetir esses mesmos erros”, comentou Jéssica Ohara.
O trabalho desenvolvido pela Coordenadoria de Patrimônio Cultural e Memória (Copam), da Secretaria da Cultura estadual (Secult Ceará), atendeu a demandas da sociedade civil. Garantida via decreto, a salvaguarda protege os edifícios e instalações que ainda restaram do local.