O policial militar George Tarick Vasconcelos de Oliveira, 33 anos, vai a júri popular como réu por matar um jovem dentro de delegacia em Camocim, no Ceará, em fevereiro de 2022. A decisão foi da juíza da Comarca de Camocim. O militar é julgado pelo crime de homicídio qualificado, contra Matheus Silva Cruz, de 19 anos, por motivo fútil por meio cruel, com recurso que impossibilitou a vítima de defesa.
Matheus foi assassinado com mais de 10 tiros dentro da Delegacia de Polícia Civil de Camocim por um policial militar que estava de folga, após um desentendimento entre eles em uma festa. Ambos aguardavam na delegacia quando a vítima foi assassinada.
O policial também enfrenta processo na Justiça militar, e pode ser expulso da corporação. Ele está detido em um presídio militar de Fortaleza.
Câmeras flagraram perseguição
Câmeras de segurança de pontos comerciais de Camocim registraram o momento em que o jovem de 19 anos foi perseguido por policiais, dentre eles, o que é acusado do crime. Nas imagens, Matheus aparece correndo, fugindo do policial que atiraria contra ele momentos depois.
A perseguição começou logo após os dois discutirem no estacionamento de uma boate. As imagens também mostram o momento em que Matheus chega próximo a uma praça e é imobilizado pelo suspeito do crime. Em seguida, ele é levado para um carro da Polícia Militar. De lá, Matheus foi conduzido para a delegacia da cidade.
A vítima e o agente George Tarick de Vasconcelos Ferreira, de 33 anos, foram levados à delegacia após uma discussão. O agente disse ter assassinado o jovem “em um momento de fúria, levado por violenta emoção”. O policial foi indiciado por homicídio qualificado.
Discussão em festa
A Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) afirmou, à época do crime, que o inquérito policial que investiga as circunstâncias da morte de Matheus, ocorrida dentro de uma repartição pública, foi remetido à Delegacia de Assuntos Internos (DAI), vinculada à Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos de Segurança Pública e Sistema Penitenciário (CGD).
Conforme o órgão, a vítima do homicídio e o militar suspeito teriam se desentendido em um estabelecimento comercial. Eles foram conduzidos para a Delegacia Regional de Camocim. No local, enquanto aguardavam o procedimento, o militar atirou contra o homem que não resistiu aos ferimentos e morreu.
O policial militar, que estava de folga, foi preso e autuado em flagrante pela Polícia Civil, além disso teve a arma apreendida. Ele foi “colocado à disposição da Justiça e permanece preso no Presídio Militar”.
“A SSPDS reitera que não compactua com desvios de conduta de seus agentes e determinou a apuração imediata dos fatos para possível responsabilização de policiais militares e civis envolvidos na ocorrência. A pasta informa ainda que a própria CGD também conduz investigações paralelas sobre o assunto”, disse um trecho da nota da secretaria.
‘Momento de fúria’
O militar disse em depoimento ter atirado contra o jovem “em um momento de fúria, levado por violenta emoção”.
“Essa pessoa que matou o Matheus já se encontra presa e, por mim, passa o resto da vida dele preso lá. Não justifica ele ter matado o meu filho, meu filho era o meu amor, minha tela preciosa, eu amava muito o meu filho, não precisava ele ter matado o meu filho”, disse o comerciante Eglício de Souza Cruz.
Mateus trabalhava no pet shop do pai, na cidade de Camocim, como tosador e entregador. Segundo a família, o jovem não tinha antecedentes criminais.
“Estamos arrasados, e a gente quer justiça com esse policial e também com os outros que estavam juntos com ele [o suspeito], não só esse que matou ele, mas outros que bateram nele também”, afirmou o pai.
Pai soube da morte por amigo
O pai disse que, por volta de 2h do dia 6 de fevereiro de 2022, recebeu uma ligação da namorada de Matheus, informando que ele estava sendo espancado por PMs na orla da cidade. O homem encontrou o filho detido no carro de polícia ensanguentado e vomitando, conforme relatou ao g1.
O comerciante contou que os policiais que atenderam a ocorrência disseram que iriam levar Mateus para o hospital e, em seguida, para a delegacia. Ele se encaminhou à unidade hospitalar, mas a polícia não foi ao local. Então, ele foi à delegacia quando se deparou com uma grande quantidade de pessoas do lado de fora.
“Quando chego lá, já tá cheio de policial e não deixaram eu entrar. Aí eu perguntei o que foi que aconteceu, todo mundo ficou calado e não falou nada. O Matheus foi preso com outro colega dele, o Isac. O pai do Isac chegou e falou pra mim ‘mataram o teu filho aí’. Eu fiquei perguntando para os policiais o que tinha acontecido e eles não falaram nada”, conta Eglício.