Legenda: O acumulado no Orós, segundo maior reservatório do Estado, chegou a 50%. Hoje o reservatório tem 45,89% do volume. Foto: Wandenberg Belem

Os açudes do Ceará encerram fevereiro, primeiro mês da quadra chuvosa, com 31,2% de água acumulada. O volume represado nos 157 reservatórios monitorados pelo Governo do Estado representa um total de 5,79 bilhões de m³ de água. Esse é o melhor índice de água armazenada para o mês de fevereiro desde 2013.

A situação sinaliza um certo “conforto” hídrico, mas o Governo ressalta que é preciso aguardar o fim da quadra chuvosa. Pois para que os reservatórios mantenham os índices desejados é preciso que as chuvas ocorram de forma concentrada, constante e nas “áreas certas”, resultando, de fato, em aportes.

Em fevereiro de 2013, o Ceará encerrou o mês com um volume de 42% de água acumulada nos açudes monitorados pela Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh).

Desde então, a quantidade de água represada nos reservatórios ao final de fevereiro, ano a ano, não havia superado a marca dos 30%. Em um dos anos de crise hídrica mais severas, como 2017, o acumulado em fevereiro chegou a ser de 6,5%.

 

Início da quadra chuvosa no CE tem 50% de chance de ficar acima da média, projeta Funceme

 

 

Em 2023, o Ceará começou um ano com um certo cenário hídrico “confortável”.  Com 31,2% de água acumulada, no atual momento, no Estado 5 açudes (Muquém, Valério, Germinal, Tijuquinha e Rosário) já atingiram o volume máximo e sangraram. Uma das dimensões desse contexto é o reflexo da quantidade de chuvas de 2022 que garantiu grande aporte de água.

Dentre os benefícios, as chuvas no ano passado ajudaram o volume do Orós, segundo maior açude, a aumentar. O acumulado chegou a 50%. Hoje o reservatório tem 45,89% da capacidade total atingida.

Além disso, o aporte de 2022 gerou uma boa recuperação do Castanhão (maior reservatório) e também influenciou na Região Metropolitana de Fortaleza, de modo que a bacia chegou a atingir 100% de aporte nos reservatórios. Isso, conforme o Governo, à época, excluiu a necessidade de transferência de água do Castanhão para a RMF.

Índice de água acumulada nos reservatórios do Ceará

  • Fevereiro 2023: 31,2%
  • Fevereiro 2022: 21,1%
  • Fevereiro 2021: 24,3%
  • Fevereiro 2020: 15,7%
  • Fevereiro 2019: 11,1%
  • Fevereiro 2018: 7,6%
  • Fevereiro 2017: 6,5%
  • Fevereiro 2016: 11,5%
  • Fevereiro 2015: 17,6%
  • Fevereiro 2014: 27,7%
  • Fevereiro 2013: 42,0%

No atual cenário, das 12 bacias hidrográficas monitoradas pela Cogerh, apenas 4 têm o volume represado inferior a 40% da capacidade. E esse é um dos pontos de atenção, pois, apesar do cenário positivo, esse acúmulo não é uniforme.

Atualmente, a Bacia do Banabuiú tem apenas 9,62% de água acumulada. A bacia tem o terceiro maior açude, o Banabuiú, que está com apenas 8,97% do volume.

 

Conforme o diretor de operações da Cogerh, Bruno Rebouças, as bacias de Banabuiú e Sertões de Crateús “são as que mais demandam atenção”, mas também há preocupação com as bacias do Curu e Médio Jaguaribe.

BALANÇO DAS CHUVAS

No Estado, as chuvas se concentram majoritariamente no primeiro semestre, em especial entre os meses de fevereiro a maio. E esse aporte é uma das contribuições relevantes para o acúmulo de água nos reservatórios.

Em 2023, o volume de chuvas em janeiro, na pré-estação, segundo a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme) foi 15,2% acima da média histórica.

Já em fevereiro, o volume registrado ficou 0,6% acima da média histórica. Para o período, o volume histórico é de 118,6 milímetros e o observado foi 119,3 mm. O prognóstico da Funceme para o trimestre março, abril e maio de 2023, indica 40% de probabilidade para chuvas acima da normalidade, 40% em torno dela e 20% abaixo.

 

castanhão
Legenda: O volume armazenado no Castanhão é o melhor para fevereiro desde 2015 Foto: Honório Barbosa/SVM

O diretor de operações da Cogerh, Bruno Rebouças, destaca que a Cogerh utiliza sempre “o cenário mais conservador da série histórica para fazer seu planejamento”. Desse modo, acrescenta: “somente após a quadra, com os volumes definidos, é feito o Processo de Alocação Negociada de Água”.

 

O processo mencionado por Bruno envolve as decisões de gestão utilizadas para estabelecer como serão os múltiplos usos das águas por região no Estado.

Isso, ocorre geralmente, após a quadra chuvosa, com base em parâmetros técnicos e nas condições hídricas dos reservatórios. A alocação tramita nos respectivos comitês de cada uma das 12 bacias hidrográficas no Estado.

SITUAÇÃO DO CASTANHÃO

O volume armazenado no Açude Castanhão (maior reservatório público para múltiplos usos de água da América Latina) é o melhor para fevereiro desde 2015. Na época, o Castanhão encerrou o primeiro mês da quadra chuvosa com 23,0% do volume. Atualmente, está com 19,6%.

Índice de água acumulada no Castanhão

  • Fevereiro 2023: 19,6%
  • Fevereiro 2022: 8,4%
  • Fevereiro 2021: 10,1%
  • Fevereiro 2020: 2,7%
  • Fevereiro 2019: 3,5%
  • Fevereiro 2018: 2,3%
  • Fevereiro 2017: 5,1%
  • Fevereiro 2016: 9,9%
  • Fevereiro 2015: 23,0%
  • Fevereiro 2014: 37,75%
  • Fevereiro 2013: 52,6%

O reservatório, em épocas de grandes crises hídricas, chegou a ter menos de 3% do volume. Na série histórica desde 2004, em fevereiro de 2017 teve o pior índice de armazenamento, com somente 2,13% do volume. Em fevereiro de 2023, o Castanhão tem mais que o dobro do volume do mesmo mês em 2022, quando registrou 8,4% da capacidade.

O Castanhão é um dos açudes que pode receber as águas da Transposição do Rio São Francisco. No caminho até o reservatório, as águas caem na barragem de Jati, no Sul do Ceará, entram no Cinturão das Águas e, depois, passam  pelo riacho Seco, pelo rio Salgado e pelo rio Jaguaribe até chegar ao Castanhão.

O representante da Cogerh também foi questionado sobre o efeito do aporte das chuvas e da transposição na constituição do volume do açude. Bruno destacou que “o Castanhão, assim como os demais reservatórios do Estado, dependem da chuva para ter recarga. As águas do São Francisco representam um reforço na garantia hídrica”.

Mas ressaltou que a  função da transposição é aumentar a segurança hídrica regional e não “encher grandes reservatórios como Castanhão”.

Bruno também destaca que é preciso aguardar o fim da quadra chuvosa, para ter, efetivamente, o cenário estabelecido. “Sempre torcemos para que ocorram bons aportes. Mas é necessário aguardar o fim da quadra chuvosa para quantificar o que de fato terá se acumulado nos reservatórios monitorados”, conclui.

 

 

Diário do Nordeste

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