Uma jovem de 22 anos afirmou ao g1 que também foi agredida pelo médico preso na última segunda-feira (23), em Juazeiro do Norte, por suspeita de dar socos e manter a namorada em cárcere privado. Devido à gravidade das agressões, a vítima do início da semana perdeu partes dos dentes da frente.
“Ele tentou ficar comigo e com outras meninas. Como a gente não quis ele nos esculhambou, disse que era médico, que podia ficar com a mulher que quisesse, que não precisava daquilo, pois o pai dele mandava na cidade”, disse a mulher.
Conforme a jovem, o grupo permaneceu na casa e no dia seguinte o médico continuo a dizer insultos contra ela, que foi para cima do homem.
“Ele puxou meus cabelos e deu vários murros na minha cabeça. O pessoal que estava lá conseguiu tirar ele de cima de mim e me colocaram em um quarto. Enquanto eu estava no banheiro lavando o rosto, ele pulou a janela, invadiu o quarto, puxou meus cabelos, me jogou no box e colocou o dedo na minha garganta. Eu tentava levantar, mas ele chutava minhas pernas e eu caia de novo. Gritei por socorro e conseguiram me ajudar”, relatou a vítima.
Ainda segundo a mulher, ela também teve a vida ameaçada pelo profissional de saúde.
Crime contra administração pública e acidente com vítima
O profissional de saúde possui antecedentes criminais pelo crime de administração pública e foi autuado em flagrante por lesão corporal e cárcere privado contra a namorada. Ele é réu na Justiça estadual desde setembro de 2012, pelo crime de homicídio culposo na direção de veículo, que resultou na morte de uma mulher.
De acordo com a segunda vítima, de Fortaleza, que terá a identidade preservada, ela conheceu o médico em junho de 2021, na casa de um amigo no município de Caucaia. Inicialmente, o homem tentou uma investida contra ela e outras mulheres que estavam no local, mas ao perceber que não estava sendo correspondido passou a agredir as jovens verbalmente.
“Disse a ele que iria denunciar o que ele tinha feito e ele falou que se eu denunciasse onde me visse iria me matar. Fiquei com medo de sair por um tempo, porque descobri que ele andava em alguns locais que eu gostava de ir”, disse a mulher.
Após as agressões, a jovem foi para casa e a mãe dela a levou para registrar um Boletim de Ocorrência no 7º Distrito Policial, no Bairro Pirambu, na capital. A vítima passou por um exame de Lesão Corporal na Perícia Forense (Pefoce), que constatou a presença de escoriação na região lateral esquerda da face e na parte interna do lábio superior.
A jovem disse que o caso dela “não deu em nada” e o médico não chegou a ser chamado pela polícia. Para ela, a prisão do homem trouxe “alívio”.
Agressões contra a namorada
A prisão do médico ocorreu após as amigas na vítima acionarem a polícia. Devido à gravidade das agressões, a mulher de 22 anos, que mantinha um relacionamento por cerca de dois meses com o homem, perdeu partes dos dentes da frente.
De acordo com informações da PM, as agressões inicialmente aconteceram em Fortaleza, quando a vítima veio para a capital a pedido do suspeito no último sábado (21). Ainda no final de semana, o agressor foi com a mulher para a região do Cariri, onde ela foi mantida em cárcere e proibida de manter contato com amigos e familiares.
Em seguida, o médico a levou de volta para Juazeiro do Norte, onde as agressões física e psicológica continuaram em uma casa situada no Bairro Planalto.
O casal foi levado à Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) de Juazeiro do Norte, onde o médico foi autuado em flagrante por lesão corporal e cárcere privado. O g1 procurou o advogado do acusado, mas ele afirmou que não iria comentar o caso.
Réu por acidente que matou mulher
O médico é réu em um processo tramita na 1ª Vara da Comarca de Brejo. Segundo a denúncia do Ministério Público, em 6 de março de 2011, quando ainda era estudante de medicina, o homem conduzia uma caminhonete em alta velocidade e sofreu um acidente em um trecho da BR-116, na estrada entre Brejo Santo e Milagres.
Durante o acidente, Rafaela Melo Rolim, que tinha 29 anos, foi arremessada do veículo e morreu no local.
O Ministério Público pediu a condenação do réu pelo crime, com o agravante de que ele não possuía permissão para dirigir ou não tinha carteira de habilitação.
O advogado do médico não apresentou a defesa final no processo. Porém, na defesa prévia, o advogado alegou que o cliente não estava em alta velocidade e não havia ingerido bebida alcoólica, pedindo a absolvição.
O Tribunal de Justiça (TJCE) informou que em setembro de 2022 o Ministério Público apresentou as alegações finais e pediu a condenação do réu por homicídio culposo na direção de veículo automotor.
O crime prevê como pena detenção de dois a quatro anos, e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir.
Conforme o o Tribunal de Justiça, “os autos estão conclusos para despacho”.