Duas barragens no Interior cearense que foram rompidas no início deste ano devido a força das chuvas passaram por obras de manutenção nesta reta final de 2022. O objetivo é evitar que estes reservatórios voltem a causar transtornos ao longo da quadra chuvosa (fevereiro-maio), período em que as precipitações se intensificam no Ceará.
Em março deste ano, moradores da localidade do Distrito de São Miguel, na zona rural de Cedro, tiveram de deixar suas casas diante do rompimento do açude Ubaldinho. Foram cerca de 50 famílias diretamente afetadas. Para que cenas como aquelas não se repitam, a Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh) realizou obras de drenagem no sangradouro e nas comportas.
O gerente da Cogerh, da bacia do Salgado, Alberto Brito, destaca que a liberação da água tem o intuito “de diminuir o volume do açude para evitar [novas] cheias”. A Cogerh é a responsável pela administração do açude Ubaldinho. O órgão custeou a obra, cujo valor não foi divulgado.
“Foi definida uma liberação de 300 litros/segundo, o que significa a vazão máxima. Isso dará mais segurança e, vale reforçar, o reservatório Ubaldinho não tem nenhum grau de risco. A estrutura não está danificada. Essa ação é exclusivamente para reduzir as chances de enchente no próximo ano”, detalhou o gerente da Cogerh, Alberto Brito.
As obras no Ubaldinho tiveram duração de 12 dias. Foi realizado drenagem do açude e melhoria das comportas do reservatório. Fora feito ainda limpeza do trecho inicial do riacho do São Miguel e da sangria do açude.
O prefeito de Cedro, Joãozinho de Titico, acrescenta que a liberação do recurso hídrico, além de garantir maior segurança aos moradores do entorno do reservatório, dará “condição de levar água de qualidade às comunidades que estão abaixo da parede do açude”. Segundo Alberto, essa liberação “vai atender aos ribeirinhos do Vale São Miguel no abastecimento humano e irrigação”.
AÇUDES NÃO MONITORADOS
Diferentemente do açude de Cedro, que é monitorado pela Cogerh, os açudes que romperam na zona rural de Várzea Alegre não possuem o mesmo monitoramento. São reservatórios de pequeno e médio porte construídos em propriedades privadas e, muitas vezes, conforme destaca o prefeito de Várzea Alegre, Zé Helder, “alheios ao conhecimento do poder público”.
A missão, nesse caso, é mais complexa. A gestão tem de identificar esses locais e orientar os proprietários quanto a realização de serviços preventivos e de manutenção.
“Nessa semana realizamos um seminário direcionado aos detentores de terras que possuem barreiros. A intenção é conscientizá-los quanto a necessidade de obras preventivas. Neste ano muitos açudes pequenos romperam e isso trouxe vários transtornos”, disse.
O seminário direciona os proprietários a construírem novos sangradouros – quando o antigo estiver ultrapassado –; a realização limpeza e manutenção dos sangradouros existentes; recomendou-se ainda a manutenção da mata ciliar e manutenção das paredes dos açudes.
A região de Canidezinho foi a mais afetadas neste ano. Cerca de 40 famílias ficaram desabrigadas ou desalojadas no primeiro semestre do ano. A cidade de Várzea Alegre recebeu um grande volume de chuva. Conforme dados da Funceme, foram contabilizados 1.888 milímetros de chuva.
“A Prefeitura realizou uma série de ações, desde a abertura de passagens molhadas nas áreas mais atingidas, abertura de boieiros para auxiliar no escoamento da água, reforço nas estruturas das paredes dos açudes identificados, dentre outros trabalhos paliativos e preventivos”, destaca Helder.
RESERVATÓRIOS CEARENSES
Os bons volumes pluviométricos registrados ao longo deste ano de 2022 no Ceará viabilizaram um bom aporte hídrico aos açudes do Estado. A Cogerh monitora 157 reservatórios, dentre os quais a maioria conquistou recarga.
No acumulado geral, o ano já acumula recarga de 5,17 bilhões de metros³, o que significa o segundo maior índice dos últimos dez anos, atrás apenas de 2020, quando a recarga foi de 5,99 bi m³.
Diante de tanta água aportada, pelo menos 40 açudes sangraram. Ainda assim, não houve rompimento de nenhum açude de grande porte monitorado pela Cogerh. Conforme a assessoria de comunicação da Companhia, atualmente nenhum dos 157 reservatórios apresentam qualquer risco de rompimento. “As estruturas estão fiscalizadas”, pontuou.
SVM