A análise de um aparelho celular apreendido com uma liderança criminosa levou a Polícia Civil do Ceará a descobrir uma série de crimes, incluindo a ‘negociação’ de assassinatos por meio do Whatsapp. Investigadores da Delegacia de Combate às Ações Criminosas Organizadas (Draco) chegaram a uma conversa entre Almerinda Marla Barbosa de Sousa, conhecida como “Irmã Ruiva”, e um homem identificado como “Ir. Velhinho” ou “Velho”.
Os dois foram flagrados conversando acerca de um “Tribunal do Crime”, com a responsabilidade de decidir quem vive e quem morre.
A reportagem do Diário do Nordeste teve acesso a um relatório da Delegacia Especializada concluído no último mês de setembro e remetido à Justiça. No documento constam trechos de conversas entre a dupla. A Polícia acredita que “Ir. Velhinho” está no Rio de Janeiro e é do conselho permanente da organização criminosa carioca.
Em uma das conversas entre a dupla, Ruiva pede autorização para mandar matar um indivíduo “que proferiu palavras injuriosas contra o Comando Vermelho enquanto bebia em bar na localidade do Preá, em Jijoca”. Ir. Velhinho autoriza a execução.
Em outra situação ainda relacionada ao “Tribunal do Crime”, “Ruiva” solicita-o para mandar executar um homem que estaria vendendo drogas na área de um membro da facção a qual pertencem. “Velhinho” ordena que antes de matar eles reúnam provas suficientes que a droga vendida era oriunda de outra facção.
“Irmã Ruiva” chegou a figurar na lista dos mais procurados da Secretaria da Segurança Pública do Ceará, até ser presa no dia 20 de novembro de 2020.
NEGOCIAÇÃO MILIONÁRIA
Ainda nas conversas entre a dupla, a Polícia localizou um suposto esquema de negociação milionária de apartamentos do programa federal “Minha Casa, Minha Vida” junto a facção. Eles tratam sobre os apartamentos do programa que pertenceriam a membros do grupo.
O homem diz a “Irmã Ruiva” que há um esquema “para ganhar mais de milhão”, contanto que sejam repassados apartamentos inaugurados há menos de 10 anos. Ruiva procura alguns nomes e localidades de onde estão os imóveis que os interessam e a dupla dá início a uma planilha para administrar a negociação.
A reportagem entrou em contato com a PCCE solicitando informações sobre o andamento das investigações e detalhes de como se dava o repassa dos apartamentos do “Minha Casa Minha Vida” com intermédio da facção. Até o fechamento desta matéria, o órgão não respondeu.
MEMBRO DO CONSELHO DE GUERRA
“Irmã Ruiva” ainda é apontada pelas autoridades como liderança de uma organização criminosa carioca, sendo membro do “Conselho de Guerra”. Ela teria atuação intensa, inicialmente, no bairro Mondubim em Fortaleza e, posteriormente, no município de Jijoca de Jericoacoara.
A perícia no celular dela demonstrou a atuação de Almerinda como intermediadora na compra de armas de fogo para a “guerra” e para enviar aos seus subordinados que são líderes (frentes) em cidades do interior do estado.
“Ruiva é um importante membro da organização criminosa, sendo elo de ligação entre o Conselho Final e os demais membros de baixo escalão, inclusive, no que tange a conseguir autorização para executar pessoas. A investigada afirma ter matado membros da organização rival e faz planos para executar”
DRACO, EM RELATÓRIO
Ainda há indícios que “Irmã Ruiva” tenha participado ativamente da série de ações criminosas, ocorridas em janeiro de 2019, no Ceará. Ela segue presa e a defesa não foi localizada pela reportagem.