O PDT, partido que fez a maior bancada na Assembleia Legislativa e na Câmara dos deputados nas últimas eleições, vive uma crise interna no Ceará. Os primeiros sintomas, que surgiram ainda na pré-campanha ao governo do Estado, se agravaram. A fase atual é de confirmar a diretriz nacional de apoio a Lula no segundo turno, mas o ponto central das discordâncias é a posição que o partido tomará no dia depois da eleição em relação à gestão Elmano de Freitas.
O tamanho da crise dá para ser percebido em uma breve olhada para o resultado de votos no primeiro turno do pleito. Na campanha majoritária, um desempenho muito abaixo do esperado, em que Roberto Cláudio, candidato a governador, terminou em terceiro lugar com 14% dos votos.
Na proporcional, um resultado robusto, mas com detalhes que chamam atenção. O candidato mais votado do partido para a Câmara dos Deputados foi Idilvan Alencar, com 187 mil votos. Na disputa pelas cadeiras da Assembleia, Evandro Leitão foi o pedetista mais bem votado com 113 mil sufrágios.
Ambos têm algo em comum: estão na ala do partido mais próxima de Camilo Santana e Izolda Cela e se mantiveram distante da campanha de Roberto Cláudio ao governo do Estado. Este exemplo mostra a complexidade da situação pedetista no Estado.
RACHA ENTRE AS LIDERANÇAS
A definição do candidato a governador proporcionou um racha visível desde o início, mas só agora possível de dimensionar.
Passado o primeiro turno, o senador Cid Gomes, que se distanciou do processo de definição da candidatura em meados de maio, reuniu a bancada parlamentar do partido, conforme já relatado nesta coluna, para tentar reiniciar uma aproximação com o PT. O foco do parlamentar, ex-governador e um dos líderes da base governista, foi mobilizar os correligionários em torno da candidatura de Lula no segundo turno.
Entretanto, não foi só isso que foi tratado nesta reunião. Reunido com os correligionários, com ausências importantes também já relatadas nesta coluna, Cid explicou as razões pelas quais se afastou do processo de escolha do candidato a governador. Ele relatou aos deputados que havia um acordo para a candidatura à reeleição de Izolda Cela.
Cid Gomes argumentou que não poderia abrir uma divergência pública com o irmão Ciro, então candidato a presidente da República, neste quesito. E que a forma que encontrou foi se afastar do processo. Na reunião, estavam presentes dois dos pré-candidatos do partido ao governo: Mauro Filho e Evandro Leitão.
A retomada deste assunto no pós-eleição mostra que as feridas ainda estão abertas no partido. Antes mesmo do fim do primeiro turno, Ciro Gomes deu declarações públicas sobre o assunto e direcionou parte da crítica aos irmãos Cid e Ivo.
Sobre o assunto, Cid diz apenas que problemas familiares são tratados em casa. Entretanto, essa divergência é mais pública do que privada.
REAÇÕES INTERNAS
Após a reunião de Cid com os deputados, o presidente estadual do partido, André Figueiredo, que é deputado federal e não compareceu ao encontro, soltou nota em que confirmou o apoio a Lula por tomada de decisão nacional, norma que deveria ser cumprida em todos os estados.
O complemento, entretanto, foi que deu novos sinais das divergências. Em relação a posição sobre o futuro governo estadual, ele destacou que a posição será tomada em reunião do diretório regional, ouvidos os candidatos a governador Roberto Cláudio e a presidente Ciro Gomes, assim como a direção nacional. Nem sequer citou o senador Cid Gomes.
As rusgas chegaram a gerar especulações locais e nacionais. Uma das possibilidades ventiladas seria a saída de Cid Gomes do PDT. Hipótese descartada por fontes qualificadas desta Coluna. Pelo menos por enquanto, fica tudo como antes. Não se sabe até quando.
Diário do Nordeste